Por: Cesar Sanson | 15 Julho 2013
Considerado termômetro da economia, setor de construção civil registrou em maio o pior saldo negativo de emprego desde 2004.
A reportagem é de Cristina Rios e publicada pela Gazeta do Povo, 15-07-2013.
Depois do boom de contratações nos últimos anos, o emprego no setor de construção civil começa a dar os primeiros sinais de desaceleração. Com o alto volume de entregas de imóveis e ritmo menor de lançamentos do mercado imobiliário e as obras de infraestrutura andando devagar, o setor vem perdendo fôlego na geração de novas vagas.
O sinal amarelo veio em maio, quando a construção registrou um saldo negativo de admissões e demissões de 1.877 vagas no país – o pior resultado desde 2004, segundo o Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged) do Ministério do Trabalho e Emprego (MTE). No Paraná, o saldo no período de janeiro a maio teve queda de 10% na comparação com o mesmo período do ano passado, para 23,2 mil vagas. Mas ainda assim é o segundo maior volume da série histórica iniciada em 2004.
Para o vice-presidente do Sindicato da Indústria da Construção Civil (Sinduscon) no Paraná, Armando Bosco Martins Ribeiro, o setor vive um período de recorde de entregas e, com o fim das obras, muitos empregados têm sido dispensados. Dados da Associação dos Dirigentes de Empresas do Mercado Imobiliário (Ademi) no Paraná, serão 14,6 mil imóveis entregues em 2013, contra 11 mil no ano passado.
“Por outro lado, não vamos registrar um volume de lançamentos como vimos em 2010 e 2011, o que significa que o saldo de emprego pode fechar negativo em 2013”, diz. De acordo com ele, a previsão do Sinduscon de gerar 26 mil vagas em 2013 no estado será revista para baixo. A expectativa de aumento estava baseada na previsão que os investimentos em infraestrutura deslanchassem, mas isso não vem ocorrendo. Em maio, o setor de construção empregava 164 mil pessoas no estado, dos quais 54,2 mil em Curitiba.
Pé no freio
A construção civil é considerada um dos termômetros da economia e costuma responder rapidamente tanto no aquecimento quanto na desaceleração da atividade. A atual piora do cenário brasileiro já começa a afetar as decisões de construção, segundo o diretor de crédito imobiliário do HSBC, Antonio Barbosa. O Índice de Confiança da Construção (ICST), da Fundação Getulio mostrou uma queda de 3,6% no segundo trimestre em relação ao mesmo período do ano passado.
Na avaliação de Ribeiro, do Sinduscon, apesar do setor não viover mais a explosão de lançamentos dos últimos anos, a tendência é de melhora nos próximos meses. O volume de alvarás liberados para construção novas unidades em Curitiba cresceu 21% no primeiro semestre em relação ao mesmo período do ano passado, para 11,9 mil imóveis.
Nos últimos anos, a construção civil ajudou a puxar para cima o emprego. Até um ano atrás, o setor vivia uma escassez de mão de obra, o que foi responsável também por inflar os salários dos profissionais da área. Um mestre de obras qualificado chegou a receber salário equivalente a engenheiro. “A escassez de mão de obra acabou. Hoje a oferta acompanha a demanda”, diz Ribeiro.
Setor atingiu teto, afirma especialista
Na visão do especialista José Pereira, da Nova Securitizadora, o setor da construção já atingiu um teto e, agora, a tendência é de um crescimento moderado. O total de financiamento com recursos da poupança, destacou, saiu de R$ 3 bilhões em 2004 para R$ 82,7 bilhões no ano passado e o número de unidades subiu de 53.826 para 453.571 no período. Não há espaço para que o setor repita o desempenho nos próximos anos, porque a base de comparação é alta, destacou.
Dados divulgados pela Associação Brasileira das Entidades de Crédito Imobiliário e Poupança (Abecip) mostram que os financiamentos com recursos da caderneta foram recorde em maio, com R$ 9,75 bilhões, alta de 54,8% sobre o mesmo período do ano passado. No intervalo, foram financiadas 47,6 mil unidades, crescimento de 37% sobre maio de 2012. Mas, para o economista Celso Pretucci, do Sindicato da Habitação de São Paulo (Secovi), o desempenho não deve se repetir nos próximos meses. A projeção é que o setor feche o ano com alta entre 5% e 10%.
Perdas na Bolsa
Os especialistas lembram que esse boom levou as incorporadoras a um crescimento desordenado e o resultado disso ainda persiste, com muitas empresas em processo de reestruturação e revisão de estratégias diante dos prejuízos registrados. A recente instabilidade na Bolsa agrava o quadro. Das 20 empresas do setor com ações em Bolsa, 15 perderam valor de mercado nos últimos seis meses (até 4 de julho). Em dezembro, elas valiam R$ 41,6 bilhões no conjunto, valor que caiu para R$ 30,9 bilhões, uma perda de R$ 10,7 bilhões.
Para o analista do BB Investimentos Wesley Pereira, outro fato de pressão é o Índice Nacional de Custo da Construção Civil (INCC), que nos 12 meses fechados em junho atingiu 7,98%; acima do IPCA que fechou em 6,7% no período. O INCC é composto por insumos (materiais) e mão de obra (51%). Segundo ele, diante do quadro, as empresas terão que se tornar mais eficientes.
Para o economista da Câmara Brasileira da Indústria da Construção (Cbic), Luis Fernando Mendes, o setor tem uma dependência muito grande da conjuntura econômica “As decisões de investir e de construir são tomadas a curto prazo. A percepção de que a inflação vai subir e a incerteza do trabalhador em conseguir reposição salarial pode fazer com que ele adie o risco de assumir um financiamento de 30 anos”, disse Mendes.
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Emprego na construção civil desacelera - Instituto Humanitas Unisinos - IHU