05 Julho 2013
O Vaticano conta com o "capital de simpatia" do papa Francisco para passar uma mensagem de redinamização da Igreja Católica e deflagrar uma reconquista de fiéis na América Latina. Fontes próximas da Santa Sé acreditam que as próprias atitudes do papa Francisco sugerem que ele vê com bons olhos as manifestações de rua no Brasil. E sua mensagem insistirá na importância dos jovens como esperança da igreja.
A reportagem é de Assis Moreira e César Felício e publicada pelo jornal Valor, 05-07-2013.
Mais do que preocupação, a percepção é de que o Vaticano demonstra cuidado, ciente da situação atual no país, sobre a possibilidade ou impacto dos protestos durante a Jornada Mundial no Rio. Mas o carisma natural do papa, o primeiro originário da América Latina, é visto como um fator que pode desmontar tensões, tanto do lado de manifestantes como do governo, e ser benéfico nesses momentos de "turbulências e dúvidas".
"Essa viagem para o Vaticano tem um simbolismo muito mais importante do que manifestações, para voltar a atrair fiéis e por isso é fácil começar pelo Brasil, que tem o maior número de católicos no mundo", diz uma fonte. Enquanto manifestantes nas ruas em vários países emergentes pedem mudanças e pressionam os governos, o papa Francisco mostra energia para tentar dar uma chacoalhada na igreja, nota uma fonte.
Na terra natal do papa Francisco, a Igreja Católica já se organiza para enfrentar um clima de tensão durante a visita do pontífice à Jornada Mundial da Juventude, no Rio de Janeiro. Na organização das caravanas de argentinos, que devem levar de 20 mil a 30 mil peregrinos ao Rio, não se descarta a ocorrência de protestos dentro dos eventos. Segundo o coordenador dos peregrinos de Buenos Aires, o padre Mario Miceli, as informações que chegam à Argentina é de que as manifestações serão bem recebidas.
"Muita gente que está se manifestando no Brasil crê em Cristo e quem crê em Cristo sabe entender e respeitar. É preciso que se escute a voz que quer ser ouvida", disse Miceli, lembrando que não é a primeira vez que o principal evento de peregrinação da Igreja acontece em um país que foi palco de insatisfação social. Em 2011, o encontro aconteceu em Madri, poucos meses depois dos protestos dos "indignados" na Espanha. "Também fomos olhados com desconfiança pelos manifestantes que haviam estado na Plaza del Sol, semanas antes. Houve muitos questionados na Espanha sobre o custo financeiro do evento. Mas logo entenderam que o esforço todo que os fiéis católicos haviam feito e o resultado final foi massivo e pacífico", disse.
O coordenador da peregrinação em Buenos Aires é enfático em frisar que o governo brasileiro e a igreja no Rio não estão subsidiando os peregrinos. "Todo o custo está sendo bancado pelos próprios fiéis. Um bônus voluntário foi lançado pela Igreja para carrear recursos que vão ao Vaticano para a organização geral, e nada mais", disse. "Somos latino-americanos, estamos acostumados a ver manifestações na Argentina e nos parece natural que elas aconteçam em eventos assim", disse Miceli.
O papa partirá de Roma logo cedo no dia 22 para chegar no fim da tarde no Rio de Janeiro. No dia 24, ele visitará Aparecida, no interior de São Paulo, em homenagem à padroeira do Brasil. A Jornada da Juventude será entre 25 e 28. O Vaticano controla a organização do evento, evitando dar detalhes. O cardeal João Braz de Aviz, o brasileiro com o cargo mais alto na hierarquia da Santa Sé, decidiu não falar com a imprensa até que o papa termine sua viagem ao Brasil.
A igreja procurou negociar na Argentina o apoio da presidente Cristina Kirchner ao evento. Desde novembro de 2011, a venda de divisas estrangeiras no país está praticamente proibida e os peregrinos teriam que viajar com pesos argentinos para o Brasil, altamente desvalorizados. Há 15 dias, Cristina decretou a peregrinação ao Brasil como "tema de interesse nacional". A expectativa é que isso facilite a autorização de venda de divisas aos viajantes. A própria presidente argentina pode ir ao Brasil para se encontrar com o antigo cardeal de Buenos Aires.
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Igreja aposta em carisma do papa para reduzir tensões - Instituto Humanitas Unisinos - IHU