04 Julho 2013
Presidentes e ministros de países membros da Unasul (União de Nações Sul-Americanas) realizam hoje uma reunião extraordinária da entidade na cidade boliviana de Cochabamba para discutir uma reação à retenção, anteontem na Europa, da aeronave que levava o presidente Evo Morales de Moscou a La Paz. O avião presidencial teve permissão negada para sobrevoar o território francês e fazer reabastecimento em Portugal, em meio a suspeitas de que Morales levava consigo o americano Edward Snowden, procurado pelos Estados Unidos pelo vazamento de informações confidenciais.
A reportagem é de Fabio Murakawa, Maira Magro e Bruno Peres e publicada pelo jornal Valor, 04-07-2013.
Segundo o governo boliviano, Espanha e Itália também fecharam seu espaço aéreo para o voo. O aparelho foi, assim, obrigado a pousar na Áustria, onde ficou retido por cerca de 13 horas. O governo austríaco informou que Snowden não estava na aeronave e disse ter feito uma revista no avião, algo que a Bolívia afirma não ter permitido.
O episódio - que Morales atribuiu à pressão dos Estados Unidos sobre seus aliados europeus - causou indignação entre líderes sul-americanos. A Bolívia classificou a atitude como "sequestro" de seu presidente.
Ontem, a Unasul divulgou comunicado em que expressou "indignação e profundo rechaço" pelos "atos inamistosos e injustificáveis", que "colocaram em sério risco a segurança do chefe de Estado boliviano e sua comitiva". Chile, Argentina, Equador, Peru e Venezuela também divulgaram comunicados condenando o episódio.
Em nota à imprensa, a presidente Dilma Rousseff expressou sua indignação e repúdio ao constrangimento imposto a Evo por "alguns países europeus". Dilma avaliou que o constrangimento não atinge só a Bolívia, mas toda a América Latina, além de comprometer o diálogo entre os dois continentes e possíveis negociações. Ela cobrou "pronta explicação" e "correspondentes escusas" por parte dos países envolvidos.
A presidente classificou como "fantasiosa" e "grave desrespeito ao direito, às práticas internacionais e às normas civilizadas de convivência entre as nações" o que chamou de "noticiado pretexto dessa atitude inaceitável".
"Causa surpresa e espanto que a postura de certos governos europeus tenha sido adotada ao mesmo momento em que alguns desses mesmos governos denunciavam a espionagem de seus funcionários por parte dos Estados Unidos, chegando a afirmar que essas ações comprometiam um futuro acordo comercial entre este país e a União Europeia", diz a nota assinada por Dilma, em trecho semelhante à difundida pela Unasul.
O Valor apurou que o Brasil será representado no encontro pelo assessor para assuntos internacionais da Presidência da República, Marco Aurélio Garcia, pelo secretário-geral do Itamaraty, Eduardo Santos, e o subsecretário-geral de América do Sul, embaixador Antônio José Ferreira Simões.
Segundo o governo boliviano, os presidentes do Equador, Rafael Correa, da Argentina, Cristina Kirchner, e do Uruguai, José Mujica, devem comparecer ao encontro. O presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, que estava ontem em viagem oficial a Belarus, ainda não havia confirmado presença. O Peru, que exerce a Presidência temporária da Unasul, e que oficialmente convocou o encontro, não confirmou a presença de seu presidente, Ollanta Humala.
Snowden, que prestava serviços para a Agência Nacional de Segurança dos EUA (NSA) passou a ser caçado pelo governo americano depois de ter revelado, desde Hong Kong, que Washington monitora dados de empresas de telecomunicações com a alegação de "combater o terrorismo". O vazamento gerou mal estar no país e também com aliados dos EUA, após ter sido revelado que o monitoramento atinge também diplomatas e representações estrangeiros.
O americano, de 30 anos, teve o passaporte cassado e está supostamente em uma área internacional de um aeroporto em Moscou. Ele pediu asilo a mais de 20 países, incluindo o Brasil, mas não obteve resposta positiva de nenhum. Bolívia e Venezuela sinalizaram com a possibilidade de abrigá-lo.
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Líderes sul-americanos repudiam retenção do avião de Evo Morales - Instituto Humanitas Unisinos - IHU