17 Mai 2013
A Europa costumava ser o paraíso para empresas do setor de energia limpa, mas nos últimos dois anos ela se tornou um lugar muito mais difícil. Com as economias anêmicas, a demanda por eletricidade está em baixa. Sem causar surpresa, os subsídios antes generosos, que encorajavam a instalação de coletores solares na Alemanha, pobre em sol, ou fazendas eólicas em áreas relativamente calmas da França, estão sendo reduzidos ou podem vir a ser.
A reportagem é de Stanley Reed, foi publicada no jornal Herald Tribune e reproduzida pelo portal Uol, 16-05-2013.
Mas para algumas pessoas e empresas, o ambiente mais hostil está fomentando uma abordagem que pode ser mais saudável nos próximos anos para o esforço de redução dos gases do efeito estufa, que são considerados responsáveis pela mudança climática.
As dificuldades na Europa, por exemplo, levaram a Enel Green Power, uma das maiores geradoras mundiais de eletricidade a partir de fontes renováveis como vento e sol, a explorar mercados como o Brasil, Chile e México, que podem vir a ser muito mais promissores do que a Europa.
Grande parte do investimento da Enel Green Power estava na Europa, especialmente na Itália, seu país de origem, Portugal e Espanha. Agora a empresa está colocando grande parte de seu novo capital nos mercados emergentes.
É algo óbvio. Em muitas economias emergentes, a demanda por energia está crescendo. Esses países querem explorar fontes de energia como vento e sol –mesmo que apenas para conservar seu petróleo e gás para exportação.
Diferente da prática em grande parte da Europa, onde subsídios são usados para atrair projetos de energia renovável, países em desenvolvimento como o Brasil frequentemente concedem contratos para a construção de nova capacidade de energia elétrica por meio de licitações, que às vezes colocam a energia limpa contra combustíveis fósseis como gás natural e diesel. Por exemplo, a Enel Green Power venceu recentemente uma licitação de energia eólica no Brasil em uma disputa que incluía propostas para usinas a gás natural.
"Havia uma abordagem competitiva em relação à energia renovável que gostamos muito", disse Francesco Starace, o presidente-executivo da empresa.
Starece gosta especialmente dos acordos de longo prazo como os fechados por ele no México com a Nissan e a Nestlé, para a construção de fazendas eólicas para fornecimento de eletricidade para suas fábricas. Ele espera repetir esse tipo de arranjo por todos os mercados emergentes, incluindo o leste da África. Esses acordos privados são mais sustentáveis, ele imagina.
"Você não corre o risco de um regulador ou um Estado vir até você e dizer: pessoal, os bons tempos acabaram, agora nós temos que falar em reduzir isto e aquilo."
Tom Murley, que formou dois fundos totalizando mais de US$ 1 bilhão para investimentos em energia renovável na HgCapital, uma empresa de private equity com sede em Londres, adota uma abordagem semelhante, porém mais próxima de sua casa.
Seu grande entusiasmo no momento é a construção de fazendas eólicas na Suécia, ancoradas por um grande conjunto no valor de € 180 milhões, ao norte de Estocolmo, em Havsnas, que começou a operar em 2010. Murley gosta da Suécia porque possui locais com abundância de ventos, o que faz com que as turbinas girem mais rapidamente e com muito mais frequência do que em outros lugares, produzindo mais eletricidade para ajudar a pagar pelos custos da construção.
Ele também gosta do regime de baixo subsídio da Suécia, que é menos tentador de ser cortado por um regulador.
Murley evita os ventos em alto-mar, que exigem enormes subsídios para fazer sentido economicamente. Ele também está evitando projetos solares no momento por razões semelhantes.
A meta do setor de energia renovável, disse Murley, deveria ser competir em custo com outras fontes de energia sem depender de subsídios. Ele também acredita no desenvolvimento de empresas como suas fazendas eólicas suecas, que contam com a escala para engajar uma equipe de gerentes e força para fechar melhores contratos com fornecedores. Sua organização tenta comprar turbinas e outros equipamentos que são mais confiáveis do que baratos, e não economiza gastos em manutenção.
A energia renovável, ele disse, "deve ser dirigida como qualquer outro setor manufatureiro; é melhor ser um produtor de baixo custo".
Ambas as abordagens parecem estar funcionando. A Enel Green Power, que é 68% de propriedade da Enel, o grupo italiano de energia elétrica, tem obtido retorno por meio de valorização de ações e dividendos de aproximadamente 26% no ano passado. O preço das ações tinha despencado antes, juntamente com o de muitas outras empresas de energia renovável.
Como uma organização privada, é mais difícil verificar os retornos da empresa de Murley, mas ele diz que vendeu projetos, incluindo um negócio de fazenda eólica britânica, representando aproximadamente um terço dos investimentos de seu primeiro fundo de € 300 milhões, por aproximadamente € 225 milhões.
E ambas as organizações ainda estão investindo. A Enel Green Power planeja gastar € 6,1 bilhões nos próximos quatro anos. Isso é uma boa notícia em um momento em que o dióxido de carbono na atmosfera atingiu os níveis mais altos em milhões de anos.
Soar o alarme a respeito dos gases do efeito estufa e do aquecimento global é bom, mas é necessário dinheiro para resolver o problema. E é improvável que isso aconteça sem retornos competitivos.
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Brasil pode ser promissor mercado de energias limpas - Instituto Humanitas Unisinos - IHU