Por: Jonas | 19 Abril 2013
A “lua de mel” entre os católicos “progressistas” estadunidenses com o papa Francisco poderá acabar em pouco tempo; é o que comentou “USA Today” (e alguns outros meios de comunicação), depois que o prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé, dom Gerhard Müller, teria confirmado a vontade do papa Francisco de prosseguir na reforma das religiosas do país.
A reportagem é de Marco Tosatti, publicada no sítio Vatican Insider, 17-04-2013. A tradução é do Cepat.
Trata-se do primeiro ato de governo “substancial” sobre um problema pendente, e é significativo que o papa Bergoglio continue e confirme tudo o que a gestão anterior havia disposto. Enquanto isso, começam a surgir as vozes de religiosas influentes e algumas críticas à decisão vaticana.
Os fatos
Na segunda-feira desta semana, a Congregação para a Doutrina da Fé emitiu um comunicado. O prefeito Müller havia se reunido com a cúpula da “Leadership Conference of Women Religious” (LCWR), organização que reúne cerca de 70% das freiras estadunidenses. Müller elogiou o trabalho que as religiosas têm desempenhado, mas, ao mesmo tempo, assinalou que o papa Francisco reafirmou a necessidade de uma reforma do grupo, aprovando a “avaliação” crítica que foi redigida após uma visita apostólica (uma espécie de inspeção, em termos leigos) à LCWR. Além disso, Müller destacou que as freiras deverão cooperar tanto com cada um dos bispos, como com toda a Conferência Episcopal do país.
As maiores críticas surgiram justamente entre os bispos estadunidenses. Há alguns meses, a Santa Sé nomeou o bispo de Seattle, James Sartain, para que conduzisse a reforma da LCWR, após ter constatado que “a situação atual, pastoral e doutrinal, da LCWR é grave e matéria de séria preocupação”. A decisão vaticana (que, como é oportuno repetir, está fortemente enraizada na Igreja local) foi recebida com sofrimento pela LCWR. O encontro de Müller com as representantes das freiras “progressistas” tinha como objetivo a expressão das razões deste sofrimento.
Se as religiosas confiavam que Francisco tinha mudado o que Bento XVI havia disposto, o comunicado da Doutrina da Fé deve ter sido uma enorme desilusão. E justamente sobre isso, a irmã Maureen Fiedler, da Congregação das Irmãs de Loreto, sustentou que o Papa não está bem informado. Irmã Maureen dirige a “Interfaith voices”, um programa radiofônico transmitido em 62 estações de rádio e, como diz sua biografia, “durante mais de 30 anos foi uma participante ativa em coalizões que trabalham pela justiça social, igualdade de gênero, de raça e pela paz”.
“Sou muito descrente a respeito desta informação”, escreveu irmã Maureen aludindo à nota do prefeito Müller. “Duvido que este assunto esteja entre os primeiros na agenda papal, e que soubesse muito a esse respeito, quando era arcebispo na Argentina”. A religiosa apela diretamente à boa fé do Prefeito: “pode ser um caso dos “bons meninos de sempre” da Cúria, que querem que tudo permaneça como antes, e que procuram fazer com que o novo Papa leve adiante um assunto que conhece pouco”. Na realidade, Müller chegou recentemente à Cúria, em julho de 2012... Porém, a menção de irmã Maureen deixa entender que o grupo dirigente da LCWR pedirá uma audiência particular com o papa Francisco, “para explicar-lhe toda a história”.
Parece difícil que o papa Francisco dê “um cheque em branco”. É mais plausível, coerente com sua pessoa e com sua biografia, que ao se inteirar do problema (sobre o qual se falou muito nos últimos anos e não apenas nos Estados Unidos), tenha confirmado o trabalho que os bispos locais e os de Roma realizaram.
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Estados Unidos. As religiosas “rebeldes” e o Vaticano - Instituto Humanitas Unisinos - IHU