17 Abril 2013
O recém-nomeado n. 2 da congregação para os religiosos do Vaticano entendia sua última tarefa – estar à frente de 15 mil frades franciscanos em 113 países nas santificadas e empobrecidas pegadas de S. Francisco de Assis, do século 13 – como um “compromisso sagrado”.
A reportagem é de Joshua J. McElwee, publicada no National Catholic Reporter, 11-04-2013. A tradução é de Luís Marcos Sander.
O Pe. José Rodríguez Carballo, o espanhol que, até o dia 6 de abril, atuava como o 119º sucessor de S. Francisco, é conhecido como um líder pastoral e prático, qualidades que devem lhe ser de grande valia na função de secretário da Congregação para os Institutos da Vida Consagrada e as Sociedades de Vida Apostólica, dizem colegas que trabalharam com ele.
Em certa ocasião, disse o padre franciscano John Hardin, Rodríguez convidou um frade que estava questionando sua vocação para se encontrar com o superior pessoalmente em Roma para discutir a questão. Hardin, que esteve presente à conversa na qualidade de superior do frade, disse que Rodríguez foi “paternal”.
“Obviamente [Rodríguez] queria que o frade acabasse ficando”, disse Hardin. “Mas ele também entendia que [o frade] precisava fazer o que era melhor para ele, para sua vocação.”
Essa interação, segundo Hardin, refletiu algo que Rodríguez tinha dito aos provinciais da ordem em cursos de formação: “Vocês mantêm a vocação dos frades num lugar muito sagrado – de todos os frades, não apenas de seus amigos, mas de todos os seus frades. Essa é a responsabilidade de vocês. Esse é um compromisso sagrado.”
De certa forma, Rodríguez agora é responsável não apenas por 15 mil frades, mas por aproximadamente 900 mil homens e mulheres no mundo inteiro. Rodríguez, de 59 anos, foi anunciado no sábado como o escolhido pelo Papa Francisco para ser o segundo na linha de comando da congregação vaticana responsável por sacerdotes, irmãos e irmãs de ordens religiosas em todas as partes do globo.
Até o anúncio, Rodríguez, ministro geral da Ordem dos Frades Menores – que é uma das várias ordens que têm suas raízes em S. Francisco –, é agora secretário da Congregação para os Institutos da Vida Consagrada e as Sociedades de Vida Apostólica e será consagrado arcebispo dia 18 de maio numa cerimônia a ser realizada em Santiago de Compostela, na Espanha.
Nesse papel, Rodríguez será assistente do chefe da congregação, o Cardeal brasileiro João Braz de Aviz. Ele substitui o Arcebispo americano Joseph Tobin, que foi nomeado arcebispo de Indianapolis no outono.
Hardin, presidente da Conferência dos Franciscanos de Língua Inglesa, que representa frades nos Estados Unidos, no Canadá, na Inglaterra, Irlanda, Lituânia e em Malta, disse que achava que seu ex-superior levaria um “espírito de compaixão” para o papel que vai desempenhar no Vaticano, bem como “uma disposição de superar a letra da lei com o espírito da lei”.
Se esse é o caso, a nomeação do novo prelado poderia ter um impacto significativo nos Estados Unidos, onde sua nova congregação iniciou uma investigação controvertida, conhecida como “visitação apostólica”, de certas ordens das irmãs católicas americanas em 2009.
Essa investigação teve início sob o Cardeal Franc Rodé, que dirigiu a congregação antes de Braz de Aviz. Tanto Braz de Aviz quanto Tobin adotaram um tom mais conciliatório para com as irmãs desde então, e algumas pessoas especularam na época que Tobin tinha sido removido do Vaticano pelo Papa Bento XVI depois que outros prelados vaticanos se queixaram de que ele tinha sido amistoso demais com as irmãs.
“Trabalhei com religiosas durante a minha vida toda”, afirmou Tobin na época de sua nomeação em agosto de 2010. “Talvez eu possa oferecer uma imagem diferente das religiosas americanas do que aquela que foi apresentada em Roma. Minha própria impressão é extremamente positiva.”
Tobin disse ao National Catholic Reporter na terça-feira que Rodríguez era uma “escolha sábia” para essa posição.
Escrevendo em um e-mail que conhecia o novo dirigente da congregação há cerca de dez anos, Tobin disse que os dois trabalharam juntos no conselho diretor da União de Superiores Gerais (USG), um grupo internacional com sede em Roma que representa ordens religiosas masculinas do mundo todo.
Tobin, que é redentorista, presidiu sua ordem de 1997 a 2009 e foi vice-presidente da USG. O arcebispo escreveu que ele e Rodríguez também trabalharam juntos durante vários sínodos de bispos.
Segundo Tobin, Rodríguez tem “anos de experiência prática como diretor de formação e membro da direção de sua Ordem”. Mencionando que o franciscano, até ser nomeado arcebispo, presidia a USG, que elege seus líderes dentre seus membros, Tobin escreveu que isso evidencia que ele é “estimado por seus pares”.
“Segundo minha experiência, ele se relacionava muito bem com religiosas, particularmente com as que eram membros da família franciscana”, continuou Tobin. “Pessoalmente, ele é modesto, amistoso e alegre, na melhor tradição de Francisco de Assis.”
“Creio que a Santa Sé e as pessoas consagradas irão ganhar com essa escolha sábia.”
Um relatório final sobre a visitação, em que equipes de visitadores estiveram em cerca de 90 congregações religiosas americanas para realizar entrevistas e conversas, foi apresentado ao Vaticano em janeiro de 2012. Não se sabe que medidas o Vaticano tomou em relação ao assunto.
A Congregação para a Doutrina da Fé do Vaticano empreendeu uma investigação própria do principal corpo representativo das irmãs americanas, conhecida como “avaliação doutrina”, em 2009.
Em abril de 2012, a congregação doutrinal provocou protestos nos Estados Unidos quando concluiu a avaliação ordenando a esse grupo, conhecido como Conferência de Lideranças das Religiosas, fizesse uma revisão ou reforma e se colocasse sob a autoridade de três bispos americanos.
A Irmã franciscana Mary Lou Wirtz, que preside o grupo internacional que representa religiosas do mundo todo, disse que, embora não tenha trabalhado estreitamente com Rodríguez, os encontros que tiveram “foram agradáveis”.
Wirtz, que é americana, é presidente da União Internacional de Superioras Gerais (UISG), com sede em Roma, cujos 2 mil membros são dirigentes das várias ordens internacionais de irmãs católicas.
Durante os encontros conjuntos da USG e da UISG, escreveu Wirtz em um e-mail ao National Catholic Reporter, Rodríguez “sempre deu contribuições significativas”.
“Creio que ele traz muita experiência para seu novo cargo, e o fato de ser religioso também é muito importante”, escreveu Wirtz. “Eu certamente sou de opinião que a trajetória e a experiência do Pe. Rodríguez proporcionam a base para a colaboração e o diálogo.”
Rodríguez, que fez pós-graduação em teologia bíblica e Sagrada Escritura no Studium Biblicum Franciscanum de Jerusalém e no Pontifício Instituto Bíblico de Roma, fala espanhol, italiano, português, francês e inglês.
Perguntado como Rodríguez lida com pontos de tensão ou conflito em potencial, Hardin disse que o arcebispo eleito é “muito direto, mas também muito pastoral”.
“Ele é muito pragmático nesse sentido”, afirmou Hardin, que também é provincial da província franciscana de Sta. Barbara, que representa frades nos estados americanos da Califórnia, Washington, Oregon, Arizona e Novo México. “Ele tem uma postura bem equilibrada quando é preciso tomar decisões em áreas muito críticas.”
“Acho que ele sempre daria preferência a uma atitude pastoral em contraposição à letra da lei”, disse Hardin, mencionando uma expressão de um ex-provincial seu que, em sua opinião, aplicava-se a Rodríguez: “Se Deus vai se irar comigo, prefiro que se ire por eu ter sido leniente demais do que severo demais.”
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Novo líder religioso do Vaticano é chamado de pastoral e colaborativo - Instituto Humanitas Unisinos - IHU