11 Março 2013
"Unde malum?" Para buscar a resposta para a eterna pergunta sobre as origens do mal, Zygmunt Bauman se concentra no século XX, século dos extermínios em massa e daquele unicum da história humana que é o Holocausto. A pesquisa contida em um breve texto (Le sorgenti del male [As fontes do mal], Ed. Erickson, 108 páginas), retoma os temas que o sociólogo polonês havia analisado em 1992 em Modernidade e Holocausto (Jorge Zahar Editor), para chegar, porém, a conclusões sensivelmente diferentes.
A reportagem é de Leopoldo Fabiani, publicada no jornal La Repubblica, 10-03-2013. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
Parte-se da refutação de algumas teses ilustres. Acima de tudo, a ideia de que a maldade é a prerrogativa de algumas psicologias particulares. O mal como fruto de predisposições naturais, do caráter "perverso" de certos indivíduos, segundo o célebre estudo de Adorno sobre a "personalidade autoritária", que valorizava a ideia de uma "autosseleção dos criminosos".
Mas o pensamento no fundo consolador de que somente algumas pessoas são capazes de atrocidades, razão pela qual devemos apenas identificar os "monstros" e defender-nos deles, não resiste ao teste da história e das pesquisas científicas.
Quem nos afirma isso, por exemplo, são os experimentos do psicólogo social Philip Zimbardo (O Efeito Lúcifer, Ed. Record). No famoso "caso de Stanford", um grupo de pessoas perfeitamente normais é dividido entre aquelas chamadas para serem os carcereiros e aquelas destinadas a serem prisioneiras. E eis que as primeiras logo se transformam em sádicos violentos, com uma metamorfose impressionante. O experimento, que remonta aos anos 1970, encontrou confirmações clamorosas no escândalo dos prisioneiros torturados pelos soldados norte-americanos na prisão de Abu Ghraib.
Volta-se, então, à "banalidade do mal" teorizada por Hannah Arendt e ao seu retrato de Adolf Eichmann como uma pessoa totalmente "normal", bom pai de família e também amigo dos animais. Com a perturbadora conclusão de que o mal está entre nós, e que qualquer um, em certas circunstâncias e na ausência de uma força moral fora do comum, pode se tornar, de um dia para o outro, um monstro.
Mas nem mesmo isso é suficiente, porque, defende Bauman, estamos diante de uma descrição, não de uma uma explicação do fenômeno. O olhar do sociólogo se afasta, então, do Holocausto e se dirige a outros eventos mais absurdos e terríveis do século passado. A destruição no inverno de 1944 das cidades alemãs e o lançamento da bomba atômica sobre Nagasaki em agosto de 1945. Decisões sem nenhuma justificação "estratégica", mas somente razões "técnicas" e "econômicas". Não havia nenhuma necessidade de arrasar centros habitados sem fábricas ou quartéis. E nem de, depois de Hiroshima, lançar uma segunda bomba atômica.
Essas bombas, segundo os testemunhos dos próprios protagonistas, altos oficiais aliados ou o presidente norte-americano Truman, foram usadas pelo simples fato de que haviam sido construídas e não deviam ser deixadas nos pavilhões. A máquina, uma vez posta em movimento, tem vida própria.
Seguindo os passos das reflexões de Günther Anders, Bauman se concentra, assim, no predomínio da tecnologia. Tendo chegado a um poder que supera a imaginação humana e capaz de realizar a todo momento as suas potencialidades ilimitadas. Soma-se a isso a perda de sensibilidade devida ao hábito, como escrevia Joseph Roth em Judeus errantes (Ed. Sistema Solar): "As catástrofes crônicas são tão desagradáveis para os vizinhos que estes se tornam gradualmente indiferentes tanto às catástrofes, quanto às suas vítimas, quando não desenvolvem a propósito uma verdadeira impaciência". Anders advertia: pode acontecer de novo só porque já aconteceu.
Portanto, devemos ter medo do mal: informar as pessoas de que elas precisam estar sempre em alerta "é a tarefa moral mais importante dos nossos dias".
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A longa viagem de Bauman às raízes do mal - Instituto Humanitas Unisinos - IHU