Por: Cesar Sanson | 05 Março 2013
Após a notícia da morte do presidente Hugo Chávez, nesta terça-feira, os venezuelanos se preparam nos próximos dias para o anúncio de novas eleições presidenciais antecipadas.
A reportagem é de Claudia Jardim e publicada pela BBC Brasil, 06-03-2013.
Chávez morreu na tarde da terça-feira, aos 58 anos, após lutar por quase dois anos contra um câncer que se alojara inicialmente na zona pélvica.
Em meio à agitação pública por sua morte, os venezuelanos terão de decidir entre dar continuidade à "revolução bolivariana" liderada por Chávez nos últimos 14 anos, ou mudar o rumo do governo do país. De acordo com a Constituição venezuelana, no caso de morte do chefe de Estado um novo pleito deve ser convocado em 30 dias. A expectativa é de que a data do novo pleito seja anunciada após o período de luto oficial, decretado por sete dias.
A data das eleições pode coincidir, inclusive, com a semana do 13 de abril, considerada histórica para o chavismo - foi quando Chávez retornou ao poder após o fracassado o golpe de Estado contra seu governo, em 2002.
Milhares de pessoas devem acompanhar o cortejo dos restos mortais do presidente nesta quarta-feira que sairá do Hospital Militar de Caracas até a base militar Forte Tiúna, onde seu corpo será velado durante três dias. Na sexta-feira, está marcada uma cerimônia com a presença dos presidentes do continente. O local do enterro ainda não foi revelado.
Espera-se agora uma disputa nas urnas entre o vice-presidente Nicolás Maduro, apontado como herdeiro político da revolução pelo próprio Chávez, e o governador Henrique Capriles, derrotado por Chávez na eleição presidencial de novembro.
Esta será também a primeira prova de fogo para o chavismo como movimento político, já que não contará mais com Chávez.
Mesmo antes do anúncio do falecimento do líder, o clima no país já era de pré-campanha. Capriles e os demais dirigentes da oposição têm tido cautela e respeito para tratar a morte do presidente, indicando um chamado ao diálogo.
"Esta não é a hora da diferença, é a hora da união, a hora da paz", disse Capriles ao ler um comunicado da coalizão opositora. "A Venezuela não pode se dar ao luxo de excluir ninguém. Aqui se impõe um diálogo nacional sincero entre todos os setores da vida venezuelana", afirmou.
Segurança sob controle
Apesar da tensão latente entre os simpatizantes de Chávez e os opositores, a segurança do país está sob controle, segundo analistas. "A chave da estabilidade está no chamado às eleições, que ocorrerá em breve", afirmou à BBC Brasil o analista político Luis Vicente León, presidente da Consultoria Datanalisis.
Maduro, que já vinha na prática administrando o governo, assume interinamente a Presidência até as eleições, de acordo com o ministro de Relações Exteriores Elias Jaua.
A interpretação do governo, amparada na interpretação do Tribunal Supremo de Justiça, que determinou a continuidade administrativa do governo Chávez e adiou indefinidamente sua posse, pode abrir caminho para um novo imbróglio jurídico sobre quem governa o país até a realização das eleições.
A Constituição previa que, na sua ausência, o vice-presidente assume interinamente. A outra interpretação possível é que Chávez não chegou a formalizar a posse de seu novo mandato. De acordo com a lei, neste caso, o presidente da Assembleia Nacional, Diosdado Cabello, poderia assumir interinamente o cargo.
Para o analista Luis Vicente León, o debate se dará no âmbito político e não legal. "De acordo com o TSJ, Chávez era presidente e neste caso é o vice-presidente quem assume", afirmou. "Aqui não há volta atrás. Vamos dar continuidade à revolução e ao legado de Chávez", afirmou à BBC Brasil o contador Ernesto Rui. A seu ver, o chavismo terá a oportunidade de construir uma direção coletiva, menos centralizada na figura presidencial.
"Chávez era único, era o muro de contenção da direita fascista para a esquerda radical. Agora teremos que nos esforçar para construir uma liderança mais coletiva, com (Nicolás) Maduro", afirmou Rui.
Abalado, o vice-presidente afirmou no fim da noite desta terça-feira que Chávez lutou até o final pela vida. "Até o último segundo ele teve fé na batalha que estava enfrentando", afirmou.
Maduro disse sentir-se "órfão" e voltou a chamar a população à unidade nacional em defesa da "revolução bolivariana". "Temos que passar por cima das dificuldades, vamos ser dignos herdeiros e filhos do comandante Hugo Chávez. Que não haja fraquezas, que não haja violência, que não haja ódio", afirmou.
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Venezuelanos se preparam para novas eleições pós-Chávez - Instituto Humanitas Unisinos - IHU