03 Março 2013
"Eu não vejo um francês, um espanhol também não. Na Áustria, há Schönborn, mas temo que a maioria dos cardeais não quer mais um "alemão". Quem tem ainda na Europa? O cardeal húngaro Erdő: alguns italianos da Cúria querem ele, para que se possa dizer que ele não é um curial".
A reportagem é de Marco Politi, publicada no jornal Il Fatto Quotidiano, 03-03-2013. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
Sentado no pequeno sofá da sala de estar de uma casa religiosa, Sua Eminência passa em revista os elegíveis. Nos bastidores, os cardeais sabem ser muito francos e muito realistas. Porque um conclave não é nem um coro de anjos, nem um lugar de intrigas do Renascimento. Dizia com com humor o cardeal Ratzinger na televisão alemã em 1997 que no conclave o Espírito Santo "não dita o candidato", apenas evita que os problemas se combinem.
Olhar o pré-conclave de dentro é algo diferente do que acompanhar uma campanha eleitoral nos Estados Unidos ou na Itália. Não existem candidatos oficiais, nem programas tornados públicos.
Reina uma atmosfera aveludada e emocionante. Em uma mistura única de racionalidade e espiritualidade, tensão com relação ao futuro, oração, meditação, hostilidade teológica (e, às vezes, também pessoal) e cálculo pragmático das possibilidades e dos números. Sua Eminência vem de fora, mas vai regularmente a Roma e conhece tanto o aparato curial quanto muitos purpurados nos vários continentes.
Ele não compartilha a pressa de antecipar o conclave. "Diminuir os tempos significa permitir que alguns da Cúria fabriquem uma candidatura e pressionem os purpurados que vêm do exterior e não têm todas as informações".
Continuamos a folhear o álbum de alguns papáveis. "Dolan, de Nova York, não. É uma personalidade positiva, mas não seria uma escolha politicamente oportuna. Antes O'Malley, o capuchinho de Boston. Um pouco de espiritualidade franciscana nos faz bem. Ele fez limpeza na diocese depois dos abusos sexuais, vendeu o seu palácio para pagar as indenizações. Ele é humilde. Conhece espanhol, o que é importante nos Estados Unidos, onde um terço dos católicos são hispânicos. O brasileiro Scherer, de São Paulo, tem a experiência da liderança de uma grande metrópole. É muito sensível aos problemas da justiça social, se ocupa dos pobres, sabe bem o que significa a miséria das favelas distantes dos bairros protegidos dos ricos com os seus gramados verdes. Mas eu não saberia dizer o quanto ele estaria disponível a fazer reformas na Igreja. O argentino Bergoglio é velho demais (77 anos), o filipino Tagle, jovem demais (55 anos). Se chegaremos a um papa africano, eu não saberia dizer. Embora Turkson, presidente do Pontifício Conselho Justiça e Paz, e o cardeal de Kinshasa, Laurent Monsengwo Pasinya, sejam personalidades notáveis".
Eminência já tem o seu candidato? "Não. Eu sei em quem não vou votar". É exatamente essa a situação a cerca de uma semana do conclave. Os cardeais pensam, ruminam, se consultam. Ainda há aqueles que não digeriram a renúncia de Bento XVI. "Se ele tivesse me perguntado – comenta outro cardeal – eu lhe teria dito: Santidade, tome um mês de férias, depois reduza os compromissos e deixe-se ajudar por colaboradores válidos".
Eu pergunto a um cardeal europeu o que não funcionou nos oito anos de pontificado ratzingeriano. "Bento XVI não reinou. Refugiou-se no seu escritório para escrever livros. Na Cúria, muitos cardeais lamentavam que ele não recebia os chefes de dicastério, cada um seguia por conta própria, enquanto o secretário de Estado se arrogava competências que não eram suas". Um cardeal norte-americano, com franqueza yankee, resumiu de forma lapidar: "Bertone foi o prego no caixão do pontificado".
Falando cara a cara com os cardeais eleitores, surgem três âmbitos de questões. Três círculos dentro dos quais é preciso identificar a solução certa. O perfil do futuro pontífice. "Deve ser um pastor. Uma pessoa dialogante. Capaz de anunciar o Evangelho em uma sociedade que não é ateia, mas fabricou para si os ídolos do dinheiro, do sucesso, da aparência". "O futuro papa – sublinha outro cardeal – deve saber como falar com todos. Ser propositivo, próximo das pessoas. E saber governar a Cúria".
Diz um veterano entre os purpurados: "É preciso um pontífice que saiba exercer cada vez melhor o primado e conjugá-lo com maior colegialidade". Acrescenta um cardeal no seu segundo conclave: "Que o sucessor seja um homem de fé capaz de mostrar o que significa acreditar. Não um administrador, mas com mão de ferro ao guiar a Cúria".
Reformar a Cúria é um objetivo principal. Há muito descontentamento porque Bento XVI não informou o Colégio Cardinalício sobre o conteúdo do dossiê dos três cardeais sobre o caso Vatileaks. E existe o pedido de um modo de trabalhar mais eficiente, em conexão com o episcopado mundial. E, portanto, diminuir os órgãos, retomar encontros regulares dos chefes de dicastério com o pontífice, "porque o papa deve ter mais inputs", reuniões plenárias do "governo" mais frequentes, não só duas ou três vezes por ano, reuniões do Colégio Cardinalício com uma agenda precisa, sessões dos sínodos dos bispos "com um ou dois temas para expressar um parecer específico", e não assembleias gerais sobre assuntos amplos como a nova evangelização.
"O papa – explica um cardeal – não pode ser um personagem solitário". E depois há o desejo de uma Cúria menos italiana. "Mas como foi possível apoiar Berlusconi por tanto tempo?", exclama um purpurado do outro lado dos Alpes que interpreta também os humores dos seus coirmãos do outro lado do Atlântico.
Mas, além das questões organizativas, há problemas reais a enfrentar. "Limpemos o campo para a reforma do celibato – pressiona um jovem eleitor, que representa bem a maioria do conclave –, certamente é preciso enfrentar a crise do clero. Os párocos na Europa não conseguem gerir quatro ou cinco paróquias. Na América Latina, às vezes até 20 ou mais!". "É preciso discutir abertamente sobre tudo – insiste um purpurado idoso –, não é possível que o Vaticano saia batendo assim que se começa uma discussão".
Outro tema: valorizar os leigos, dar espaço às mulheres nas organizações eclesiais. "Sem falar do sacerdócio feminino, mas pondo-as à frente das instituições". Alguns cardeais tocam em um ponto ardente: "Devemos estudar novamente a questão da sexualidade na sociedade moderna". Nestas horas, ainda reina entre os cardeais uma notável confusão sobre os nomes, mas também a atmosfera de quem espera um salto para o futuro.
"Não há um nome emergente como em 2005 – confessa um eleitor que recém-desembarcou –, mas estamos diante de uma grande oportunidade. É hora de deixar o continente europeu". Muitos concordam: "É preciso de um rosto novo, a contribuição de outras culturas, um papa fora da Europa, alheio às alianças da Cúria". Alianças? "Sim, o sistema de colocar amigos dos amigos".
Eminência, o perfil do novo papa? "Um homem de centro, razoável e aberto, que não se feche em um monólogo".
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Pontos cardeais: papa não europeu estrangeiro nas alianças da Cúria - Instituto Humanitas Unisinos - IHU