11 Dezembro 2012
"O que é essa compulsão por compartilhar? Às vezes, é claro, é apenas um erro, aperta-se o botão errado, ou um mau uso das configurações de privacidade do Facebook. Mas há um novo impulso para se comportar como se a vida fosse um encontro do segundo grau global, em que todo mundo tomou alguma droga horrível para falar tudo."
A reportagem é do jornal The New York Times e reproduzida pelo Portal Uol, 10-12-2012.
Vamos ponderar sobre o compartilhamento excessivo e a ansiedade quanto à atualização de status, os dois grandes sofrimentos do mundo moderno.
O terceiro, a propósito, é a obsessão de segurança "geração covarde" de hoje. Mas vou deixar isso para outro dia.
Por isso, vamos absorver a massa de informação pessoal indesejada compartilhada e imagens que se derramam sobre nós, como uma grande maré viscosa cheia de coisas sobre as quais preferiríamos não pensar – a necessidade dos outros por caviar de peixe islandês, seus rostos dormentes no dentista, seus waffles e sua linguiça, seus compromissos com seus terapeutas, sua higiene pessoal, suas espinhas e seus animais de estimação, suas babás atrasadas, seu péssimo humor matinal, suas trocas rudes, seus telhados com vazamento, sua fé na homeopatia, seu estresse e todo o resto.
Por favor, ó humanidade conectada, poupe-me, e não só dos detalhes.
É tentador chamar este fluxo viscoso de atualizações de status e fotos de férias que vaza pelo Facebook, Twitter e demais redes de excesso de informação. Mas isso seria rebaixar a palavra "informação".
Eu estava determinado a passar por 2012 sem fazer uma coluna rabugenta, sem quer parecer rancoroso ou mal-humorado, determinado a ser jovial e ensolarado como os tempos demandam, mas todo mundo tem um limite. O meu chegou quando me deparei com este tweet de Claire:
"Estou com uma espinha vulcânica profunda se enraizando no meu queixo que parece que alguém me bateu com um cruzado de direita."
Bom saber, Claire.
Eu estava acabando de me recuperar disso quando vi Deanna tuitando que ela havia "comprado ração" e estava a caminho "da temida consulta sobre o lance do cólon. São as alegrias de fazer 50 anos." Quanto a Kate, ela fez questão de dizer para o mundo o status de seu trabalho de parto: "contrações a cada três minutos e dois centímetros de dilatação". A mídia social não quer dizer que você tem que ser tão social.
E depois apareceu um post de Scott no Facebook dizendo a Addie que ela era "meu amor, meu coração" e – o meu coração murchou – sua "melhor amiga". Está muito na moda hoje em dia chamar o amor da sua vida de melhor amigo. Não consigo imaginar por quê. Certamente a pessoa tem melhores amigos à parte para poder falar com eles sobre os problemas com seus amores.
O que é essa compulsão por compartilhar? Às vezes, é claro, é apenas um erro, aperta-se o botão errado, ou um mau uso das configurações de privacidade do Facebook. Mas há um novo impulso para se comportar como se a vida fosse um encontro do segundo grau global, em que todo mundo tomou alguma droga horrível para falar tudo.
Minha teoria é esta. A humanidade sempre foi compelida ao medo. Foi assim que sobrevivemos. Mas o medo costumava ser de animais selvagens rondando, dos invasores visigodos, das pragas, da guerra mundial. Agora, neste presente mimado, toda a ansiedade precisa encontrar um novo foco. Assim, depois de procurar muito e por muito tempo, e com ajuda da tecnologia, inventamos de ficar ansiosos com o nosso status, temendo que ele caia ou – o horror, o horror! – se desintegre.
O seu número de seguidores no Twitter está encolhendo ou não está crescendo tão rápido quanto o de seus amigos? Começa o ataque de ansiedade de status. Nenhum e-mail ou texto recebido nos últimos 78 minutos? O ataque de ansiedade se acelera. Foi dispensado por um amigo ou descobriu por acaso no LinkedIn que o seu colega de faculdade de 29 anos de idade está administrando um fundo de agronegócio em St. Louis com ativos de US$ 47 bilhões e é dono de metade de Madagascar? Começa o colapso do status.
O único antídoto, o único meio de fazer o status subir novamente, ao que parece, é continuar compartilhando mais e mais. Aqui estou eu – dizem os posts e tweets e fotos – um ser vivo e não anônimo. Eu supercompartilho, logo existo.
Como você vê, querido leitor, o excesso de compartilhamento e a ansiedade pelo status são fenômenos gêmeos que estão transformando a humanidade em cães enlouquecidos perseguindo os próprios rabos.
Eu pensei que ler o correio tradicional poderia proporcionar algum alívio, mas hoje abri uma carta da minha dentista me lembrando que devo uma visita para fazer limpeza (eu sei, estou compartilhando demais aqui.) A carta continua: "As pesquisas têm mostrado que a primeira coisa que as pessoas notam quando se encontram é o sorriso. Se você quiser alguns conselhos sobre como podemos ajudá-lo a melhorar o seu sorriso, por favor, pergunte na sua próxima visita e ficaremos felizes em aconselhá-lo sobre a melhor solução."
Como estava de mau humor, imaginei alguns conselhos como: "depois de uma longa reflexão, senhor, lamentamos informar que a melhor solução seria mudar o seu rosto."
Aaah, bem, eu decidi ir para o andar de cima e ver a minha filha de 15 anos de idade que, surpreendentemente, estava com seu laptop aberto e navegava no Facebook. "Eu não acredito nessa garota do acampamento", disse ela. "Ela está tão apaixonada que compartilha tudo."
"Como o quê?"
Adele leu alguns posts recentes de Amanda: "Deitada na cama vestindo o moletom do meu namorado e desejando que ele estivesse aqui." E: "Se eu pudesse estender a mão e alcançar uma estrela cada vez que você me faz sorrir, o céu inteiro estaria na palma da minha mão". Nós rimos. Tem de rir.
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O mundo vive a "insanidade" de compartilhar dados "excessivamente" nas redes sociais - Instituto Humanitas Unisinos - IHU