Por: André | 09 Novembro 2012
Segue a resenha do novo e último livro de Gianni Vattimo e Santiago Zabala, Comunismo Hermenéutico. De Heidegger a Marx (Barcelona: Herder, 2012, 280 p.), sem tradução para o português. A resenha é de Oriol Alonso Cano e está publicada no sítio espanhol Rebelión, 07-11-2012. A tradução é do Cepat.
Eis a resenha.
Um espectro ronda o mundo. É o espectro do comunismo hermenêutico. Assim como Slajoj Zizek asseverou em sua análise do livro que resenhamos na sequência, o último livro de Gianni Vattimo e Santiago Zabala pode ser considerado, sem rodeios, como um Manifesto Comunista para o século XXI. Urdido com maestria, precisão e brilhantismo, nossos autores tecem uma análise da contemporaneidade econômico-político-social que aponta para as margens, para os excluídos, para os fracos da história, como o último reduto da emancipação das frias cadeias do capitalismo.
Para materializar a execução desta análise, nossos pensadores se apoiam sobre as conhecidas teses do pensiero debole, e, por conseguinte, sobre a visão que oferecem do comunismo, enquanto movimento alternativo e aniquilador da lógica capitalista, que deve assentar-se sobre o acontecimento histórico do ser no caráter hermenêutico da subjetividade, e não em verdades metafísicas transcendentais e incorruptíveis. A verdade transcendental, própria daquela oferecida pelo discurso científico e político, não deixa de ser um ato de violência (imposição de um discurso ou fenômeno como inquestionável e inquebrantável). Dito com outras palavras, para Vattimo e Zabala o problema das propostas anteriores que propugnavam uma revisão do comunismo, assim como a possibilidade de sua aplicabilidade, estriba em que se fundamentam na metafísica tradicional própria da Modernidade. O novo comunismo, cujo adjetivo identificador deve ser hermenêutico, deve desenvolver-se nas margens da sociedade, deve proceder a uma problematização constante devido ao seu caráter histórico, e sua natureza deve ser interpretativa. Comunismo hermenêutico, com outras palavras, é sinônimo de eliminação dos grandes ideais absolutistas, e de políticas da fragilidade e para os fracos.
Quem são os fracos? Aqueles que se erigem no descarte da ordem social capitalista, os excluídos da lógica do sistema (por imposição sistemática, por recusa, por exclusão...). Por isso, seguindo Vattimo e Zabala, enquanto os vencedores da história, isto é, todos aqueles que conseguiram beneficiar-se dos luxos próprios do capitalismo (banqueiros, burguesia, certa classe política...) exigem que o mundo se perpetue e, por conseguinte, continue com sua dinâmica habitual, os perdedores, os fracos, reclamam uma interpretação diferente da ordem dos acontecimentos, isto é, requerem o comunismo hermenêutico.
Pois bem, estas políticas desde e para a exclusão não se erguem em considerações utópicas próprias de um discurso que transita única e exclusivamente por um terreno teórico, mas essas propostas, para nossos autores, já estão sendo implementadas graças aos governos comunistas de Chávez, Lula, Morales e outros. O comunismo que estes governos praticam deve ser qualificado sem rodeios como hermenêutico, posto que agem para melhorar as condições de existência dos fracos da sociedade. O programa político destes governos se levanta como inquietante, para a maioria dos setores capitalistas, posto que se postula como uma verdadeira alternativa ao seu despotismo e domínio. O comunismo hermenêutico é o espectro (um sinônimo de comunismo hermenêutico pode ser comunismo espectral) que inquieta, ameaça (e destrói) a lógica do capitalismo.
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