31 Outubro 2012
"Só no último ano (2011/2012) aumentou o desmatamento com plantio de soja na Amazônia em 18.000 hectares. Só no Estado do Pará foram 2.000 hectares de desmatamento, sendo que na região Oeste está a maior concentração de plantio de soja. Dizer que a moratória de dois anos, que já vai com aditivos de mais seis anos, foi a solução é realmente querer tapar o sol com peneira", escreve Edilberto Sena, padre, coordenador geral da Rádio Rural de Santarém, presidente da Rede Notícias da Amazônia – RNA e membro da Frente em Defesa da Amazônia – FDA, ao enviar o artigo que publicamos a seguir.
Eis o artigo.
A ministra Teixeira anuncia pomposamente que “a moratória da soja e o meio ambiente provam que no Brasil, se pode aumentar a produção de soja, sem impactar o meio ambiente”. Ela pode se iludir e iludir os desinformados, que não vivem na Amazônia e não acompanham os acontecimentos. Não adiantou alguém vir dizer que apenas 2 milhões de hectares de soja estão plantados na Amazônia, como se essa área fosse uns 10 a 15 campos de futebol de floresta destruída.
A tal moratória da soja foi uma armação das empresas exportadoras de grãos, Cargill, Bunge, Maggi e outras agrupadas numa associação chamada ABIOVE, que foram apoiadas por ONGs ambientalistas, que ingenuamente (se é que se pode dizer que ONGs internacionais sejam ingênuas), acreditaram numa moratória de dois anos, com possibilidade de mais um ano, mais um ano e mais outros. Com o boom da economia chinesa e o mal da vaca louca na Europa, o preço da soja disparou no mercado internacional. O governo brasileiro, que baseia o crescimento do PIB especialmente na exportação de commodities fechou os olhos à expansão da “nova fronteira” agrícola no Oeste do Pará.
A armação da ABIOVE começou em 2006, quando o desmatamento na Amazônia estava galopante, a questão do meio ambiente e a Amazônia passaram a ser uma questões de vida ou morte. A proposta era uma moratória de dois anos, a partir de julho 2006. Críticos dessa armação propuseram que se se queria uma moratória séria, que contasse a partir de 2003, quando iniciou o grande desmatamento para soja no Oeste do Pará e fosse por dez anos. Os exportadores de grãos perceberam a intenção da proposta de dez anos e reagiram. Como as ONGs preferiram ficar com a ABIOVE, ignoraram os críticos e assim ficou. E está dando no que existe hoje.
Só no último ano (2011/2012) aumentou o desmatamento com plantio de soja na Amazônia em 18.000 hectares. Só no Estado do Pará foram 2.000 hectares de desmatamento, sendo que na região Oeste está a maior concentração de plantio de soja. Dizer que a moratória de dois anos, que já vai com aditivos de mais seis anos, foi a solução é realmente querer tapar o sol com peneira. E a presença do plantio de soja no Oeste do Pará trouxe ainda outra agravante, o uso intensivo de agrotóxicos, contaminando terra e mananciais de igarapés, lagos e rios. O aumento de câncer em algumas comunidades rurais da região revela que, enquanto grandes empresas exportadoras ganham grandes lucros, enquanto plantadores de soja ganham suas boas rendas, os impactos sociais e ambientais se multiplicam.
A moratória da soja na Amazônia continua a ser uma falácia aplaudida até pela ministra do meio ambiente. Ou ela é muito ingênua, o que é difícil acreditar, ou ela aplaude o crescimento da Economia, sem se importar com os povos da Amazônia. Mas para quem vive na Amazônia e acompanha os acontecimentos com um olhar de indignação, não se ilude com tais anúncios de diminuição de desmatamento na região. É importante que os e as brasileiras com ética saibam que a soja continua a ser uma desgraça para a Amazônia.
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Tapar o sol com a peneira não faz sombra, um aviso à ministra do Meio Ambiente - Instituto Humanitas Unisinos - IHU