05 Outubro 2012
O principal adversário de Celso Russomanno (PRB) no primeiro turno da disputa pela Prefeitura de São Paulo foi o próprio Celso Russomanno. Foi a partir da exposição ao contraditório que o candidato caiu dez pontos percentuais nas intenções de voto em duas semanas, de 35% para 25%, segundo o Datafolha. Sem programa de governo e com pouco tempo de televisão, Russomanno não conseguiu explicar seus projetos para a cidade nem o vínculo de sua campanha com a Igreja Universal do Reino de Deus (Iurd). Ao ser questionado por seus adversários, saiu da liderança para compor um cenário eleitoral indefinido, em que os três principais candidatos têm chance de ir para o segundo turno.
A reportagem é de Cristiane Agostine e publicada pelo jornal Valor, 05-10-2012.
Russomanno foi o primeiro a lançar-se, em abril de 2011, quando era filiado ao PP. O candidato mudou para o PRB em setembro e sua candidatura foi articulada pelo comando do partido, ligado à Iurd e à Rede Record. Ao migrar para o partido, ganhou um quadro em um programa diário da Record, que apresentou até 29 de junho. No dia seguinte foi oficializado candidato.
Já popular como apresentador e repórter de TV, aproveitou-se da alta rejeição de José Serra (PSDB) - que chegou a 45% no Datafolha desta semana- e do desconhecimento do eleitorado em relação a Fernando Haddad (PT) para liderar a disputa desde o lançamento oficial das candidaturas, em junho. De dezembro de 2011 até o início de setembro, não parou de crescer. Russomanno aumentou sua intenção de votos de 31% para 35% depois do início da propaganda eleitoral na TV, mesmo com menos de um terço do tempo dos candidatos petista e tucano. Até meados de setembro, Russomanno foi poupado pelo PT e PSDB, que se atacavam mutuamente, nacionalizando a eleição. Mas nas últimas duas semanas o cenário mudou.
O candidato foi questionado pela igreja católica sobre a participação da Iurd em sua campanha e não quis explicar o vínculo. Em meio ao embate entre as igrejas, Russomanno faltou ao debate da cúria metropolitana. O postulante também não quis participar do debate do jornal "Folha de S. Paulo" e da Rede Record.
A disputa religiosa se intensificou na quarta-feira, com a divulgação de um texto do bispo Edir Macedo, fundador da Iurd e dono da Record, contra Haddad e a favor de Russomanno. Ao ser questionado ontem pela imprensa, o candidato irritou-se e disse que não falaria sobre a igreja. "[O texto] Pode ser importante para você. Para mim, não é", disse, antes de fazer carreata na zona sul.
Sem ter um programa de governo, Russomanno começou a divulgar seus projetos gradualmente, mas a cada questionamento reformulava a proposta, moldando o discurso de acordo com a plateia. O candidato prometeu rever todos os contratos terceirizados de segurança da gestão. Diante de protestos, disse a representantes do setor, em reunião fechada, que manterá tudo como está, se eleito. Com os taxistas foi igual: primeiro afirmou que reduziria o preço da corrida de táxi. Depois, reuniu-se reservadamente com o sindicato para explicar a proposta e afirmar que qualquer mudança será "discutida" com o setor.
Russomanno foi questionado pela imprensa sobre seu programa de governo e a resposta foi clara: só divulgará as metas e o detalhamento do projeto se vencer a disputa, em até três meses após a posse.
Haddad começou a ofensiva contra Russomanno ao ver os votos da periferia, tradicional reduto do PT, migrando para o adversário do PRB. Serra também colocou em xeque a capacidade do candidato para administrar a cidade, sem experiência no Executivo. Mas os ataques mais diretos partiram de Gabriel Chalita (PMDB), que recebeu parte dos votos de Russomanno, crescendo de 8% para 11% em duas semanas.
Na luta para ir ao segundo turno, Haddad intensificou há duas semanas as críticas à principal proposta de Russomanno: a tarifa de ônibus proporcional ao trajeto percorrido pelo usuário. Segundo o petista, os moradores da periferia, mais pobres, serão prejudicados porque terão que pagar mais.
Russomanno enrolou-se para explicar a proposta e até ontem não sabia informar qual seria o custo total, nem de quanto seria o subsídio da prefeitura. Ao mesmo tempo, o candidato do PRB partiu para ofensiva contra o petista e sua campanha passou a distribuir folhetos atacando o PT. Nesta semana, aumentou o tom contra Haddad e disse que o petista "mente".
O contra-ataque de Russomanno demorou uma semana. Para o marqueteiro da campanha do PRB, foi um equívoco ter esperado. "Devíamos ter respondido pelo menos uma semana antes", disse Ricardo Bergamo. "Eles conseguiram machucar a campanha", afirmou.
Na defensiva, Russomanno também alterou a agenda de sua campanha. Ao enfrentar a hostilidade de eleitores em eventos, com o questionamento sobre sua atuação como deputado federal e sobre seu vínculo com a Iurd, o candidato decidiu evitar o contato direto com eleitores. O postulante reduziu as agendas diárias, passou a fazer atividades sem a imprensa e apostou em carreatas, em vez de corpo a corpo nas ruas.
Ontem, ao falar de sua queda nas pesquisas, afirmou que está sendo alvo de "mentiras" e de ataques de todos os candidatos. "É difícil se defender de todo mundo".
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Russomanno perde pontos ao explicar-se - Instituto Humanitas Unisinos - IHU