Por: Jonas | 21 Agosto 2012
A vida de Pedro Casaldáliga, o bispo espanhol reconhecido como um dos grandes expoentes da Teologia da Libertação latino-americana e radicado, desde 1968, no distante São Félix do Araguaia (Brasil), está sendo filmada numa coprodução brasileira-espanhola para a televisão.
A reportagem é publicada pelo sítio Religión Digital, 20-08-2012. A tradução é do Cepat.
“Nesta terra é fácil nascer e morrer, o difícil é viver”, disse Casaldáliga, da região que há 44 anos adotou, quando chegou a São Félix (no Estado de Mato Grosso, na Amazônia) e encontrou-se com um mundo de tensões sociais, onde grandes latifundiários se empunhavam sobre os pobres, camponeses e indígenas.
Hoje, com 84 anos e ainda radicado em São Félix, continua empenhado em sua luta. “Nós nos conformamos com este sistema que faz da humanidade um negócio”, declarou à agência AFP, com a voz fragilizada pelo Parkinson, mas com uma lucidez intacta.
Casaldáliga também continua defendendo uma Igreja comprometida com o povo. “Hoje, mais do que nunca, a Igreja teria que ser a voz da esperança”, disse, e defendeu que “o Vaticano não seja Estado, o Papa não seja chefe de Estado, que reconheça os direitos da mulher, que não seja uma Igreja de poder e sim de serviço”, disse.
Este padre catalão, que nunca voltou para a Espanha, enfrentou os latifundiários, o governo e até o Vaticano em sua denúncia ao latifúndio e defesa dos camponeses, indígenas e por uma Igreja mais comprometida. Viveu ameaçado de morte por pistoleiros, e foi fundador da Pastoral da Terra e do Conselho Indigenista, marcos na luta pela reforma agrária e pelos direitos dos indígenas.
“A [vida] de Casaldáliga é uma história de luta e conquista da terra, no Brasil, e a de compromisso de um homem que diante de uma situação extrema, deu uma resposta extrema, entregando sua vida para resolver essa situação. É uma história universal e isso é o que dá força ao filme”, conta à agência AFP, Francesc Escribano, escritor e jornalista catalão, autor do livro “Descalço na terra roxa”, que dá título ao filme, do qual também é produtor.
Uma equipe de 100 pessoas chegou a São Félix do Araguaia para as filmagens, até início de setembro. A cidade, distante 24 horas de ônibus de Brasília, hoje possui cerca de 10.000 habitantes e carece de estradas asfaltadas.
Para o filme, foram reconstruídos cenários que procuram voltar a como era 40 anos atrás: uma terra em processo de colonização, com prostíbulos e pistoleiros, explica Escribano.
O autor catalão, Eduard Fernández, interpreta Casaldáliga na que será uma minissérie de dois capítulos, com um orçamento de 3,5 milhões de euros, contando com o roteirista do premiado filme “Central do Brasil”, Marcos Bernstein, em que participam a Televisión Espanhola, a catalã TV3 e a TV Brasil.
Em 1988, Casaldáliga foi chamado a Roma e submetido a um duro interrogatório pelo então cardeal Joseph Ratzinger. Interpretado como um empuxo entre dois pesos pesados da Igreja, esse diálogo é o ponto de partida do filme. Em 1985, o bispo catalão viajou a Nicarágua para apoiar a greve de fome do chanceler e sacerdote Miguel d’Escotto, e para Cuba a convite do então presidente Fidel Castro. Dele, o teólogo brasileiro frei Betto, um símbolo da esquerda católica latino-americana, afirmou: “Há no Brasil um santo e herói, Pedro Casaldáliga. Santo por sua fidelidade radical ao Evangelho, herói pelos riscos de vida enfrentados e as adversidades sofridas”.
“Não façam um filme sobre mim, que seja um filme sobre as verdadeiras causas desta luta: a vida, a liberdade e a dignidade”, pediu Casaldáliga ao seu amigo Escribano, quando soube que produziria o filme.
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Para Casaldáliga filme não deve ser pessoal, mas retratar as verdadeiras causas da luta - Instituto Humanitas Unisinos - IHU