24 Julho 2012
Dois santos serão em breve nomeados doutores da Igreja pelo papa. Quem são? Uma freira que descreveu em detalhes a natureza fisiológica do orgasmo feminino, e um pregador que criticava os ricos católicos antissemitas espanhóis.
A reportagem é de Jacques de Guillebon, publicada na revista Témoignage Chrétien, 20-07-2012. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
Esse velho papa alemão, teólogo autor de 250 livros, continua nos surpreendendo e pegando de surpresa os poucos comentaristas ainda interessados, em um mundo polarizado pelo Islã e pela crise do capitalismo, na vida do cristianismo e especificamente na da Igreja Católica. Enquanto com uma mão ele tenta, mesmo que dolorosamente, o consentimento da ala dos lefebvrianos e impor uma interpretação do grande Concílio Vaticano II, com a outra, traça perspectivas revolucionárias incrivelmente amplas.
Uma revolução escondida, é verdade. Mas da qual é preciso espionar os símbolos pouco aparentes. Por exemplo, quando ninguém esperava, ele decidiu que São João de Ávila e Santa Hildegard de Bingen serão proclamados o 34º e 35º doutores da Igreja em novembro próximo. Dois santos hoje universalmente reconhecidos, mas que no seu tempo foram submetidos a vexações e perseguidos mais do que se possa pensar.
Sobre a abadessa beneditina alemã do século XII, conhecemos agora a ciência quase universal, que lhe permitiu produzir tanto tratados médicos quanto compêndios musicais. Esquecemos às vezes que ela foi de longe a primeira a descobrir a circulação sanguínea e que não desprezou descrever nos mínimos detalhes a natureza fisiológica do orgasmo feminino, ela, a freira, a esposa mística de Deus. Também esquecemos às vezes que, contra o furor do seu bispo, contrariado com uma tal liberdade de expressão, em particular de uma mulher, foi um papa que a tomou sob a sua proteção e que lhe permitiu continuar as suas excepcionais pesquisas.
Preconceitos
João de Ávila, três séculos depois, na época da grandeza espanhola, também testemunhou a possibilidade de quaere deum segundo a razão. O imenso orador, que convertia apenas com o mero som da sua voz tanto as multidões quanto os grandes, tanto os humildes quanto os intelectuais vaidosos, o São João Boca de Ouro ocidental que sonhava em converter as Índias de Colombo e que foi mantido sob o solo da Península Ibérica por causa da sua ascendência antecedentes em parte judaica na época sinistra da moda da limpieza de sangre, também foi presa dos invejosos, das autoridades da Igreja local, que tentaram processá-lo por heresia.
Ele saiu vitorioso e maior, tanto no seu tempo quanto perante a história. Um dos seus biógrafos expressou nestes termos a medida do seu inconformismo modelado sobre a palavra de Cristo: "É certo que o pregador das Bem-aventuranças, profundamente evangélico, entrava em choque com os preconceitos da época ou com certas resistências que são de sempre, por exemplo quando repreendia o ódio ou o desprezo que alguns dos seus penitentes confessavam ter pelos judeus e os muçulmanos. [...] Também é certo que o beato foi vítima de uma culposa maquinação: ricos ofendidos e coirmãos invejosos tentaram fazer com que ele expiasse pela sua solicitude pelos pobres ou pelo seu sucesso como pregador".
Bento XVI, papa social, acrescenta uma pedra preciosa ao seu cofre: a nomeação de Dom Gerhard Müller, discípulo do grande teólogo da libertação Gustavo Gutiérrez, à frente da mais poderosa Congregação romana, a da Doutrina da Fé. Os velhos conservadores liberais e os desprezadores progressistas do Panzerkardinal estão colocados diante da sua má-fé. E a Igreja militante milita.
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Bento XVI, o revolucionário - Instituto Humanitas Unisinos - IHU