16 Julho 2012
O estoque de resíduos radioativos que a França deverá gerar até 2030 se aproximará dos 2,7 milhões de metros cúbicos, o dobro do que foi produzido no final de 2010. É o que revela o último levantamento da Agência Nacional para Gestão dos Resíduos Radioativos (Andra), publicado na última quarta-feira (11).
A reportagem é de Pierre Le Hir, do Le Monde e reproduzida pelo Portal Uol, 13-07-2012.
No final de 2010, o total dos resíduos radioativos presentes no território representava um volume de 1,3 milhão de metros cúbicos. A maior parte deles (59%) vem dos reatores eletronucleares da EDF, mas uma porcentagem também vem dos laboratórios de pesquisa (26%), das atividades de defesa (11%) e, o restante, de setores industriais diversos e de aplicações médicas.
Noventa e sete por cento desse estoque é constituído de resíduos volumosos, mas de baixa ou média atividade, ou até de baixíssima atividade. Os de alta atividade representam somente 0,2%. Mas esses produtos, provenientes do reprocessamento dos combustíveis “queimados” nos reatores, concentram 96% da radioatividade total.
É para esses materiais extremamente perigosos, bem como para os resíduos de média atividade mas de vida longa (centenas de milhares, ou até milhões de anos), que deve entrar em funcionamento, em 2025, um centro industrial de armazenamento geológico (Cigéo), perfurado a 500 metros de profundidade em uma camada de argila, entre o departamento de Meuse e o de Haute-Marne.
O fato mais digno de nota, para as próximas duas décadas, é a forte elevação da quantidade de resíduos de baixíssima atividade que serão produzidos: ela deverá quase quadruplicar entre 2010 e 2030, atingindo 1,3 milhão de metros cúbicos. Esse crescimento resulta, entre outros fatores, das obras de desmantelamento já em andamento: nove reatores da EDF e vários reatores de pesquisa se enquadram nessa situação.
Mas a Andra fez uma projeção para além de 2030, segundo seu presidente François-Michel Gonnot, a fim de “esclarecer o debate sobre a transição energética”. A Agência comparou dois cenários: o primeiro prevê um funcionamento dos reatores atuais durante cinquenta anos (é a hipótese hoje aceita pela EDF) e o segundo um funcionamento durante quarenta anos.
Os volumes de resíduos finais são aproximadamente os mesmos em ambos os casos, exceto por aqueles de alta atividade, os mais desvantajosos: 10 mil metros cúbicos para a hipótese dos 50 anos, contra cerca de 93 mil metros cúbicos para a hipótese de quarenta anos.
De fato, em caso de uma interrupção mais breve das usinas, a possibilidade de reutilizar, em novos ciclos de combustão, matérias extraídas de reprocessamento dos combustíveis usados (sobretudo do plutônio reciclado em MOx), seria reduzida. Nessa hipótese, “seria preciso parar de reprocessar todos os combustíveis usados em 2019”, explica Michèle Tallec, chefe do serviço de inventário da Andra.
Seria preciso então realizar, sem reprocessamento, uma “armazenagem direta” de cerca de 57 mil agrupamentos de combustíveis usados, 6 mil deles contendo MOx, e, portanto, plutônio. Um ou vários pontos deverão ser criados rapidamente para armazenar provisoriamente – ainda assim quase um século – os agrupamentos de combustíveis usados, tempo de eles esfriarem o suficiente para poderem ser adicionados ao centro de armazenamento geológico.
A Andra não estudou a hipótese de uma suspensão antecipada dos reatores. Isso não modificaria o volume total de resíduos, uma vez que as futuras operações de desmantelamento estão integradas ao inventário. Mas ela precipitaria o cronograma. “Seria preciso trabalhar mais rápido. É uma questão de gestão de fluxo”, comenta Marie-Claude Dupuis, diretora-geral da Andra.
A resolução do quebra-cabeça dos resíduos nucleares se tornaria, se não mais complexa, pelo menos mais urgente, ainda mais que o centro de armazenamento de resíduos de baixíssima atividade de Morvilliers (Aube), aberto em 2003 e com uma capacidade de 650 mil metros cúbicos, estará saturado por volta de 2025. Será preciso ampliá-lo ou construir outro.
Além disso, a Andra ainda não tem um ponto de armazenamento para os resíduos de baixa atividade mas de vida longa (mais de trezentos anos), originados principalmente de antigos reatores a gás-grafite. São elementos que deverão ser levados em conta no debate sobre o lugar do nuclear no plano de ação da França para a energia.
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Resíduos nucleares franceses terão dobrado de volume até 2030 - Instituto Humanitas Unisinos - IHU