02 Julho 2012
"A doutora e o ministro Patriota atravessaram a rua para escorregar na casca de banana da outra calçada", analisa Elio Gaspari, jornalista, comentando a atuação diplomática do Brasil na destituição de Fernando Lugo, em artigo publicado no jornal Folha de S. Paulo, 01-07-2012.
Eis o texto.
A doutora Dilma e o chanceler Antonio Patriota deveriam revisitar a estudantada em que se meteram no Paraguai, comparando os próprios erros com outro episódio, ocorrido em 1996, quando as coisas deram certo, sem espetáculo.
Durante as festividades da Rio+20, Dilma e Patriota souberam que a Câmara dos Deputados aprovara a abertura do processo de impedimento do presidente Fernando Lugo por 76 votos a 1. O doutor foi mandado ao Paraguai numa comitiva do Unasul para recolocar a pasta de dentes no tubo. A Embaixada do Brasil em Assunção já advertira o governo, há semanas, a respeito da gravidade da situação. Fizeram o quê? Nada.
Havia o que fazer? Em abril de 1996, o presidente Juan Carlos Wasmosy soube que o comandante do Exército, Lino Oviedo, pretendia derrubá-lo. Pediu apoio ao Brasil e o embaixador Márcio Dias disse-lhe que Fernando Henrique Cardoso não concordaria com um golpe. Era pouco. Ele queria ouvir isso pessoalmente. O diplomata combinou que Wasmosy iria a Brasília (pilotando seu avião), seria recebido no aeroporto pelo chanceler Sebastião do Rego Barros (dirigindo seu próprio carro) e seguiria para o Palácio da Alvorada. Conversou com FHC e retornou durante a madrugada. O presidente brasileiro entrou em contato com seu colega Bill Clinton e ele telefonou para Wasmosy dizendo-lhe que, em caso de ameaça, deveria ir para a embaixada americana.
Dias depois, Oviedo deu um ultimato a Wasmosy, anunciando que atacaria o palácio ao amanhecer. O presidente paraguaio foi para a embaixada americana com o ato de renúncia redigido. Lá estava o embaixador Márcio Dias, que rasgou-o. (Wasmosy guardou o picadinho.) O dia amanheceu, e o golpe evaporou-se.
Tudo isso aconteceu sem holofotes ou estudantadas de um multilateralismo que, no caso da patrulha dos chanceleres do Unasul, serviu apenas para colocar o Brasil a reboque de uma política de ameaças inócuas.
Uma diplomacia profissional, a americana, falou o mínimo possível. Resultado: a doutora Dilma e seus companheiros fizeram a empada, compraram a azeitona, deram o mimo aos americanos e ficaram com o caroço. Como dizia o chanceler Azeredo da Silveira, atravessaram a rua para escorregar na casca de banana que estava na outra calçada.
A diplomacia multilateral faz espetáculos, arma consensos e, geralmente, dá em nada. A bilateral, como a do Brasil no Paraguai em 1996, dá trabalho.
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Paraguai. Dilma deveria pedir uma aula a FHC - Instituto Humanitas Unisinos - IHU