16 Junho 2012
O mundo pode estar perdendo uma oportunidade única de discutir com a profundidade necessária as perspectivas da economia verde para o futuro do planeta e da humanidade - tema central da Rio+20 -, enquanto empaca nas demandas dos países ricos em contraposição às das nações em desenvolvimento. A opinião é de cientistas dos cinco continentes que se reuniram de segunda-feira até ontem no Fórum de Ciência, Tecnologia e Inovação para o Desenvolvimento Sustentável, na PUC-Rio.
A reportagem é de Roberta Pennafort e publicada pelo jornal O Estado de S. Paulo, 16-06-2012.
Professor da Universidade de Surrey, na Inglaterra, e diretor de um grupo que pesquisa o impacto do estilo de vida no meio ambiente, Tim Jackson fez a apresentação mais impactante de ontem, ao propor o fim dos mal-entendidos sobre o termo - o que, segundo ele, está no centro das controvérsias entre os atores das negociações.
"O conceito de economia verde não está sendo colocado como deveria, causa muita tensão", disse ao Estado. "Os países do G-77 têm medo que seja parte de uma agenda imposta pelos ricos. Para resolver isso é preciso que a questão da economia verde não seja usada em favor dos interesses dos países ricos, mas sim em favor dos em desenvolvimento."
Para Jackson, será um grande avanço se as discussões unirem economia verde, justiça social e respeito aos limites do planeta. "Não estou muito otimista em relação ao que vai sair da Rio+20, mas os debates serão revigorados." Economia verde é definida como aquela em que se faz uso responsável dos recursos naturais, observando seus limites.
Barreiras
Outro temor do G-77 é que sejam estabelecidas barreiras alfandegárias a seus produtos no mercado internacional caso a transformação econômica se torne uma realidade, como uma forma de os países ricos se protegerem. As divergências vêm travando tanto as negociações, em especial no que diz respeito à ajuda financeira necessária para a implementação da economia verde no mundo em desenvolvimento, que já se fala em regras próprias para cada país, na falta de diretrizes consensuais. A ONU calcula que a transição de modelo melhore a vida de 1,3 bilhão de pessoas que hoje ganham US$ 1,25 por dia.
O ambientalista e ex-secretário de Meio Ambiente de São Paulo Fabio Feldmann, que estava na mesma mesa de debate do fórum, também está pessimista, não só por conta da lentidão nas negociações, mas pela própria agenda da conferência. "Mesmo que avancem, os limites do planeta não estão sendo colocados. A ciência já mostrou quais são."
Como lidar com as aspirações de consumo da nova classe média dos países emergentes é um dos desafios. Para Feldmann, a posição que o Brasil vem adotando é questionável e seria pautada por objetivos alheios às questões ambientais. "A posição de aversão ao risco, de não querer desagradar a ninguém, por conta do desejo de fazer parte do Conselho de Segurança da ONU, é um equívoco. Sucesso não é não ter controvérsia. Sucesso é chegar à Rio+40 e dizer: 'Eu tive coragem de agir 20 anos atrás'."
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Cientistas alertam que oportunidade está sendo perdida - Instituto Humanitas Unisinos - IHU