21 Mai 2012
"Um Tsipras sozinho decerto não é capaz de mover tantos fundos e mundos - nem ele nem mesmo apenas a pequena Grécia", escreve Vinicius Torres Freire, jornalista, em artigo publicado no jornal Folha de S. Paulo, 20-05-2012.
Segundo ele, "a mera promessa de Tsipras renovou o tumulto na economia mundial. A ameaça renovada de que a Grécia caia fora do euro levou ainda gregos a sacar dinheiro de seus bancos (por medo de que seus euros virem dracmas). Teme-se que portugueses e espanhóis, os próximos da fila, se mirem no exemplo dos cidadãos de Atenas e esvaziem e quebrem seus bancos".
Eis o artigo.
Fazia tempo que um político de esquerda radical não causava tanto estrago nas hostes capitalistas quanto Alexis Tsipras. Trata-se do líder do partido que fez a segunda maior bancada na eleição grega de 6 deste mês, que enfim "não valeu" porque não permitiu a formação de uma coalizão de governo.
Se vitorioso na eleição de 17 de junho, Tsipras promete dar fim ao arrocho exigido pela União Europeia, "ajuste" que ao final deste ano terá deixado a economia grega quase 20% menor do que era em 2007.
Mesmo assim Tsipras pretende que a falida e ineficiente Grécia continue a receber empréstimos europeus. Caso contrário, dá o calote final, seu país sai do euro, bancos vão à breca na Europa, o crédito global seca e o mundo entra em recessão.
A mera promessa de Tsipras renovou o tumulto na economia mundial. A ameaça renovada de que a Grécia caia fora do euro levou ainda gregos a sacar dinheiro de seus bancos (por medo de que seus euros virem dracmas). Teme-se que portugueses e espanhóis, os próximos da fila, se mirem no exemplo dos cidadãos de Atenas e esvaziem e quebrem seus bancos.
Um Tsipras sozinho decerto não é capaz de mover tantos fundos e mundos - nem ele nem mesmo apenas a pequena Grécia.
A Espanha, por exemplo, ora corre o risco de se ver sufocada pelo desmoronamento da maioria de seus bancos. A crise europeia, de resto, tinha sido apenas anestesiada pelo trilhão de euros que o Banco Central Europeu emprestou a juro menor que zero aos bancos do continente desde dezembro de 2011.
Mas Tsipras foi o detonador dessa bomba financeira e também ponta de lança das revoltas populares que, embora raras nesta crise, colocam a finança em polvorosa.
Talvez entre para a história como um mero Gavrilo Prinzip, o pobre e obscuro bósnio que em 1914 assassinou o arquiduque Francisco Ferdinando da Áustria, derrubando o primeiro dominó que daria na Primeira Guerra Mundial. Talvez nem isso. Por ora, porém, deve liderar o show pirotécnico até junho, mesmo que seu partido não esteja mais à frente das pesquisas eleitorais, como estava até semana passada.
Como Lula, Tsipras chama colegas de partido e fé política de "companheiros" - ou a tradução melhor seria "camaradas", pois é de origem comunista. É, claro, antineoliberal e pela aliança verde-vermelha (ambientalistas e neocomunistas).
Lidera o Syriza, na verdade uma coalizão de partidos de esquerda (Coalizão da Esquerda Radical, marxistas variados, ex-comunistas, ex-trotskistas e verdes).
O principal partido dessa coalizão é o Synaspismos (palavra que, em grego, quer dizer "aliança" ou "coalizão") ou Coalizão dos Movimentos de Esquerda e Ecologia.
Tsipras, de apenas 37 anos, chefia o Synaspismos, formado por dissidentes do "partidão" grego e de uma reunião de correntes da nova esquerda. O partido não levava muito mais de 5% dos votos até ganhar a simpatia de 17% do eleitorado neste ano. É engenheiro civil e "casado" (tem um "acordo de convivência") com a namorada do colegial.
Enfim: um partido revolucionário até ontem minúsculo, da pequena Grécia, fez o mundo balançar. O que é mais uma prova do tamanho da lambança que os financistas armaram nos últimos 20 ou 30 anos.
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O camarada que pôs fogo na crise - Instituto Humanitas Unisinos - IHU