Por: Jonas | 11 Mai 2012
O cardeal cubano Jaime Ortega despertou a ira dos grupos anticastristas de dentro e fora de Cuba, tendo como raiz uma conferência realizada na Universidade de Harvard, em que criticou os dissidentes que ocuparam igrejas, antes da chegada do Papa, em março deste ano.
A reportagem Fernando Ravsberg, publicada no sítio Religión Digital, 09-05-2012. A tradução é do Cepat.
Num editorial publicado numa página de Internet da Rádio e TV Martí, pertencente ao governo dos Estados Unidos, chegou-se a classificar de “subserviente” a atitude do máximo representante da Igreja católica cubana, acusando-o, além disso, de carecer de compreensão e piedade para entender a realidade humana.
Segundo a página na Internet, o cardeal atacou a dissidência, difamou ao falecido bispo exilado, dom Román, e mantém uma “mancomunação política” com Raúl Castro. Enquanto isso, os opositores internos asseguram que o prelado e outros “funcionários da Igreja são simpatizantes do governo”.
Orlando Márquez, assessor de imprensa do arcebispado em Cuba, afirmou para a BBC Mundo que as coisas ditas na conferência, pelo cardeal Jaime Ortega, foram retiradas de seu contexto e, imediatamente, nos entregou uma transcrição da conferência para que pudéssemos entender o sentido de suas palavras.
Pouco antes da chegada do Papa a Cuba, em março deste ano, o Partido Republicano – um grupo praticamente desconhecido até este momento – tomou sete igrejas dentro da ilha, reivindicando liberdade política e também ser recebidos por Bento XVI.
Todos foram retirados. Em Havana, foi necessário o uso das forças de ordem pública, solicitada pelo próprio cardeal Ortega, que qualificou estas pessoas como “antigos delinquentes”, afirmando que um foi preso por exibicionismo e que o outro era um ex-condenado nos Estados Unidos, e mais tarde deportado para Cuba.
Em Havana, o prelado assegurou que a ocupação dos templos “foi organizada por um grupo de Miami” e que os dissidentes recebiam ordens por “celulares de última geração”. Da província de Pinar del Río, fontes opositoras confirmaram que “pediram para que ocupassem a Catedral”.
No entanto, finalmente suaviza sua avaliação sustentando que “existe alguns grupos que prejudicam muito a qualquer tipo de oposição ou dissidência, que foram sendo criados até um número indeterminado e, muitas vezes, esses grupos buscam poder abandonar o país, ter uma condição de refugiados, etc.”.
A BBC Mundo conversou com Vladimir Calderón, o líder do grupo dissidente que dirigiu a ocupação em Havana. Ele nos garantiu que nenhum deles tem antecedentes criminais, salvo Carlos López, que esteve seis anos preso nos Estados Unidos e que cumpriu a condenação, em Cuba, por roubar um motor para uma saída ilegal.
O dissidente acrescentou, ainda, que não é correta a informação de que eles tenham baixo nível cultural, como disse o cardeal em Harvard. Apresentou-nos seu certificado de arquiteto, afirmando que a média de escolaridade entre os ocupantes era de 12 anos, embora tenha reconhecido que, no momento, nenhum deles tem trabalho.
Calderón acredita que “o cardeal pode ser um simpatizante da política do regime e de algumas reformas, que o próprio Ortega chama de pacientes e construtivas. Não é a Igreja que toma esta posição, mas alguns de seus funcionários. Eu respeito cada um, porém acredito que não deveriam ser tão apaixonados”.
O opositor lembra que “durante a ocupação da igreja, o chanceler dom Raúl Suarez Porcari disse que os templos não podiam ser usados como trincheiras políticas, e que o Papa não vinha para falar de política. No entanto, ele próprio propiciou dois encontros com Raúl e um com Fidel”.
Segundo o dissidente católico Osvaldo Payá, na cúpula da Igreja “existe uma politização de alguns setores ou de pessoas seguindo a linha do cardeal” e acrescentou que “é uma doutrina que estabelece Raúl Castro como sendo o único que pode promover as mudanças, e que a oposição não existe”.
O dirigente do Movimento Cristão de Libertação sustenta que esse setor da igreja “está se comportamento como “o outro partido”, atuando da mesma forma do Partido Comunista, sem transparência e com exclusão. A imagem que estamos apresentando é a de uma igreja que quer ser protagonista, substituta da oposição”.
Durante décadas, a dissidência encontrou na Igreja um aliado político. O opositor Dagoberto Valdés dirigia a principal revista católica, a “Vitral”, e em não foram poucos os sermões dos bispos que criticavam abertamente o governo. No entanto, desde a ascensão de Raúl Castro as relações melhoraram substancialmente.
O presidente e o cardeal iniciaram um diálogo que minimizou as críticas do clero e favoreceu uma maior abertura social para a Igreja. Depois, Ortega solicitou a Castro que libertasse os presos políticos enfermos e este lhe respondeu soltando todos os prisioneiros de consciência e 3.000 presos comuns.
Agora, a Igreja parece lançada a tornar-se uma ponte entre o governo e o exílio, para um trabalho conjunto na promoção de reformas que permitam investir em Cuba. E já aconteceram várias reuniões e, embora ainda com um caráter “acadêmico”, avança com rapidez.
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Os dissidentes cubanos rompem com a Igreja católica da Ilha - Instituto Humanitas Unisinos - IHU