08 Mai 2012
Os paroquianos da igreja St. Andrew, em Portland, Oregon, não estão guardando segredo: eles amam as irmãs. E demonstraram o seu apoio durante uma liturgia na paróquia no dia 22 de abril, quando o padre Leo Remington, o celebrante, iniciou as preces dos fiéis dizendo o seguinte: "Pelas religiosas dos EUA e de todo o mundo, em ação de graças pelo seu serviço à Igreja e ao mundo, para que nos solidarizemos com elas durante estes tempos turbulentos, rezemos ao Senhor".
A reportagem é de Sharon Abercrombie, publicada por National Catholic Reporter, 03-05-2012. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
Se as irmãs locais que estavam participando foram tocadas pelo reconhecimento de Remington nessa conjuntura, elas logo descobririam que havia mais por vir. No fim da missa, Remington, um padre aposentado e membro da paróquia, convidou as religiosas a ir até a frente e pediu para que todos os presentes na assembleia erguessem suas mãos para abençoá-las.
A sua oração foi: "Como comunidade de St. Andrew, somos chamados a servir uns aos outros: levar a boa nova aos pobres, proclamar a libertação aos cativos e restituir a vista aos cegos, libertar os oprimidos, proclamar o ano favorável do Senhor. Vocês e inúmeras religiosas que servem e serviram a Igreja moldaram isso para um mundo frágil e despedaçado".
Em seguida, a mensagem tornou-se mais específica, dirigindo-se à atual crise da posição tomada em relação à Leadership Conference of Women Religious (LCWR) e as milhares de irmãs que ela representa.
"Agora, à luz de uma liderança muitas vezes equivocada e opressiva na Igreja, nós nos solidarizamos com vocês e com todas as religiosas da Igreja. Que vocês possam continuar amando com ternura, agindo com justiça e caminhando com humildade junto a Deus". Ambas as orações foram escritas por um paroquiano, que pediu para permanecer anônimo.
Os aplausos para as três irmãs que foram até a frente – duas irmãs dos Santos Nomes e uma irmã dominicana – duraram cinco minutos, disse Jackie Rossini e Sharon Bishop. Houve lágrimas e abraços. "Estou muito orgulhosa de pertencer à paróquia St. Andrew", escreveu Bishop em um e-mail.
Há cerca de dez irmãs que são membros da St. Andrew, mas seus ministérios muitas vezes acontecem nos fins de semana, o que significa que elas nem sempre podem participar da liturgia dominical.
Em termos de homenagem às irmãs, o dia 22 de abril foi apenas o começo.
No domingo passado, quando as pessoas passavam pelas portas da igreja, elas foram recebidas por uma mural com fotos de apoio. O arquivista da paróquia expôs ali 40 fotografias de irmãs que atuaram na paróquia St. Andrew durante os seus 102 anos de história. Canetas e marcadores estavam à disposição para que as pessoas pudessem escrever palavras de encorajamento e, se possível, para identificar as pessoas presentes nas fotos mais antigas.
Inspiração em Catarina de Siena
Enquanto isso, nessa mesma noite, a One Spirit - One Call, organização de apoio às mulheres, que se estende por toda a diocese, realizou uma festa comunitária no centro paroquial para homenagear Santa Catarina de Siena, uma mulher que falou a verdade ao poder papal em seu tempo. Cartões postais de apoio estavam à disposição para serem assinados e enviados para as irmãs cujas comunidades são membros da LCWR, disse Jackie Rossini, membro fundadora e secretária do conselho da One Spirit. O evento reuniu 95 mulheres e homens, "25 a mais do que esperávamos", disse Rossini.
Ela e outros paroquianos organizaram a One Spirit há dois anos, depois que uma irlandesa, Jennifer Sleeman, pediu que todas as mulheres na Irlanda ficassem em casa e não fossem à missa do dia 26 de setembro de 2010, a semana do seu 81º aniversário, para provocar a consciência do tratamento injusto e desleal dado às mulheres na Igreja Católica. O pedido de Sleeman havia surgido da decisão do Vaticano de incluir a ordenação de mulheres em uma lista de "ofensas graves que também cita pecados tais como a pedofilia".
Muitas mulheres da St. Andrew ficaram comovidas pelo apelo de Sleeman, e o resultado foi a One Spirit - One Call. O site do grupo diz que a organização "é uma resposta para o Espírito que se move na Igreja Católica hoje. Somos mulheres que abraçam a visão de uma Igreja que realmente honra os dons de todos os seus membros Nós não estamos indo embora: nós optamos por ficar na Igreja, trabalhando para ver a nossa visão realizada".
Seu primeiro evento, realizado em setembro de 2010 no centro de Portland, atraiu mais de 600 pessoas de 54 paróquias. Em julho, elas promoveram uma celebração de Maria de Mágdala, a primeira mulher chamada por Jesus para servir a comunidade, com uma liturgia, seguida por uma celebração "Hunting for Mary" com oração, música, partilha e reflexão. Participaram 84 pessoas de 24 paróquias da região.
Resistência
Bolsões similares de progressividade e de oposição à medida vieram à tona em outros lugares.
Irene Woodward, professora de filosofia aposentada da Holy Names University, em Oakland, Califórnia, e paroquiana da igreja de Nossa Senhora de Lourdes, disse que os gestos de oposição são "realmente emocionantes".
"O mundo inteiro parece estar abraçando as irmãs", disse ela. "Até mesmo a minha sobrinha, que se converteu ao judaísmo, escreveu e disse que o papa deveria voltar atrás e ler a Bíblia".
No dia 27 de abril, o pregador convidado da paróquia, um padre diocesano aposentado, caracterizou as irmãs como "boas pastoras" que conduzem a Igreja. Ele também leu um abaixo-assinado de apoio às irmãs e disse que iria trazê-lo no próximo domingo para que as pessoas o assinem.
A escrita de cartas aos bispos e a exibição de um filme que destaca o trabalho das irmãs estão nas mentes da Emmaus Faith Community, um grupo eucarístico que se reúne na Igreja Episcopal de St. Patrick, em Kenwood, na Califórnia, perto de Santa Rosa.
Cindy Vrooman, ex-irmã e professora aposentada, é a cofundadora do grupo. Ela disse que a Emmaus irá promover a exibição de Women & Spirit: Catholic Sisters in America, um documentário produzido pela LCWR, às 19h do dia 11 de maio, na igreja de St. Patrick. Vrooman pede que as pessoas tragam suas histórias favoritas das irmãs que as influenciaram. Ela disse: "Eu fui uma religiosa católica durante 15 anos, e elas continuarão sendo as minhas heroínas".
Vrooman disse que haverá a distribuição de santinhos que descrevem as formas para apoiar as irmãs e adesivos que dizem "As irmãs católicas são nossas heroínas". Cartões postais feitos pela Catholics United estarão disponíveis para serem enviados a todos os bispos da Califórnia.
A comunidade Emmaus tem uma comunidade de louvor de 35 membros regulares, com uma lista de endereços de mais de 100 nomes.
"Somos uma antiga congregação eclesial, mas não nos importamos", disse Vrooman. "Nós simplesmente rezamos, apoiamos uns aos outros e fazemos boas obras". Ela disse que o grupo já promoveu doações para 41 organizações diferentes ao longo dos anos.
A Emmaus é composta por membros que acolheram o Concílio ecumênico da década de 1960 pela sua esperança e promessa.
"Foi uma aventura emocionante que foi abandonada muito abruptamente", disse Vrooman. "Agora, a nossa Igreja está se movendo para a direita, para uma estrutura mais patriarcal, excluindo muitas pessoas dos seus cargos de governo, do sacerdócio e até mesmo da fila da Comunhão. Antes da eleição do Papa Bento XVI, nós nos sentíamos extraterrestres em nossos próprios bancos da igreja. Depois da sua eleição, nós nos tornamos peregrinos".
Outro grupo de peregrinos, o Simply Catholic, de Columbus, Ohio, se reunirá no domingo para discutir as próximas ações, como doações para a LCWR.
"Elas podem precisar contratar advogados canônicos ou mesmo advogados civis ao longo desse processo", disse Marie Sweeney, ex-irmã que fundou o grupo há seis anos.
Ela sugeriu que "aqueles de nós que (também) prestam culto em contextos institucionais podem levar em consideração o fato de colocar uma nota na cesta de coleta, simplesmente afirmando que estamos dirigindo as contribuições para a LCWR como uma questão de justiça".
Sweeney disse que é importante lembrar que a LCWR representa "'irmãs', congregações ministeriais, e não 'freiras', que vivem na clausura. Identificar erroneamente essas irmãs é uma parte do problema de Roma", disse.
A líder do Simply Catholic disse que ela foi levada ao compromisso em meio a "esse caos sagrado, porque a LCWR, na verdade, lidera com autoridade. Essas mulheres fazem o trabalho da justiça, conhecem as mulheres que experimentaram ou pensaram em abortar, lidam com orçamentos e com a manutenção do carro, como pessoas normais. Quando elas falam com a autoridade das suas próprias vidas e da sua experiência vivida do espírito do Vaticano II, os norte-americanos ouvem".
O pano de fundo, disse Sweeney, é o fantasma dos bispos e de Roma se debatendo, "porque eles perderam a integridade e, portanto, a autoridade. A única coisa que lhes resta é o poder. Certamente, eles são ameaçados por mulheres que lideram dignamente, e lideram com autoridade real, fazendo com que as instituições masculinas, assim, pareçam pequenas e insignificantes em comparação".
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Do Oregon a Ohio, um apoio crescente às irmãs católicas dos EUA - Instituto Humanitas Unisinos - IHU