Por: André | 18 Abril 2012
Tenho uma curiosidade um pouco malvada. Pergunto-me quantos daqueles que votaram no cardeal Joseph Ratzinger em abril de 2005 pensavam que, sete anos depois, o Pontífice bávaro continuaria em seu lugar, no meio de nós; com seus passos velozes, um pouco inseguros devido aos problemas do joelho direito, mas ainda presente e com um evidente desejo de fazer coisas. Infelizmente, é uma pergunta difícil de fazer, e à qual seguramente é muito difícil de responder com sinceridade. Mas o que, segundo as intenções de alguns cardeais, devia ser um papado de transição, está dando demonstrações de ser algo muito diferente. Um reino fundador, a obra de alguém que trata de trabalhar em silêncio, com perseverança e profundidade.
A reportagem é de Marco Tosatti e está publicada no sítio Vatican Insider, 15-04-2012. A tradução é do Cepat.
Como? Muito poucos sabem que grande parte do tempo e do empenho de Bento XVI ele a leva em silêncio, sem chamar a atenção (e não poderia) dos meios de comunicação, mas que é fundamental para a vida da Igreja: justamente para evitar que dentro de alguns anos a mídia tenha motivos, pouco alentadores, para ocupar-se dela.
Bento XVI está convencido de que a força (e as fragilidades) da Igreja se encontra nas dioceses, nas Igrejas locais. Durante o Pontificado de João Paulo II, muitas vezes, as decisões dos bispos eram delegadas aos presidentes das Conferências Episcopais, aos núncios e a outros personagens da Igreja central e das Igrejas locais. O então Papa, caso o que se conta estiver correto (e não temos motivos para duvidar disso), durante os últimos anos de sua vida se limitava a assinar documentos. João Paulo II com frequência delegava, confiava em seus colaboradores, embora nem sempre com os resultados desejados, como mostra a história.
Bento XVI tem um estilo diferente. Estuda todas as “potências” (assim se chamam os expedientes preparados para os três candidatos de todas as dioceses), estuda as carreiras acadêmicas e a experiência dos possíveis futuros bispos e, depois disso, toma uma decisão. E não raro pede que lhe apresentem outros candidatos, uma vez que nenhum daqueles que integram a “terna” o satisfazem. É um trabalho entediante, pouco atrativo, mas a Igreja das próximas décadas ficará agradecida por isso.
É o estilo de Bento. Que era o estilo do cardeal Joseph Ratzinger. Um estilo solitário; salvo alguma visita ocasional a alguns cardeais de língua alemã, não há lembrança na Cúria de um “Ratzinger social”, que convidava e que recebia convites de colegas e amigos.
A mesma solidão se percebe agora que é Papa. E o progressivo enfraquecimento da figura de seu secretário de Estado, o cardeal Tarcísio Bertone, acentua ainda mais esta característica. Pio XII, no outono de seu Pontificado, tinha Tardini e Ottaviani, dois “mastins” enormes que velavam por ele; Paulo VI tinha Benelli para cuidar da Secretaria de Estado e da Cúria. Mas agora seria muito difícil indicar com certeza quem são os “homens do Papa” do outro lado do Portão de Bronze, excetuando Bertone, que, contudo, parece incapaz de reagir eficazmente aos ataques dos “corvos”. Ainda não vimos que as “investigações” estejam dando respostas claras em relação ao Vatileaks, os vazamentos de documentos que envolvem altas esferas vaticanas, nem da misteriosa comissão de cardeais, da qual não se conhece nem os integrantes nem as obras, tanto que alguns duvidam da sua existência.
Nestes sete anos, Bento XVI avançou realizando a sua obra; tratando de honrar a herança que lhe deixou o profético Papa polonês, muitas vezes pesada e ambígua; tratando de defender-se a si mesmo e a Igreja de uma quantidade de ataques que não se viam desde os tempos da Guerra Fria, com instrumentos que, muitas vezes, são inadequados e insuficientes. E, sobretudo, para voltar ao início desta reflexão, com uma capacidade (inclusive física) de resistência que não pode deixar de surpreender. Razão pela qual se pode pensar que, talvez, não esteja tão sozinho e que, talvez, se encontre em muito boa Companhia. Ad multos annos.