04 Abril 2012
O apelo do padre comboniano Alessandro Zanotelli na semana de Páscoa.
A reportagem é de Maria Teresa Pontara Pederiva, publicada no sítio Vatican Insider, 03-04-2012. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
Em sua mensagem de Páscoa, intitulada Apelo às comunidades cristãs,o comboniano trentino e ex-diretor da revista Negrizia fala de "ditadura das finanças".
"Neste período quaresmal, eu sinto a urgência de compartilhar com vocês uma reflexão sobre a 'tempestade financeira' que está sacudindo a Europa, pondo tudo em discussão: direitos, democracia, trabalho...".
O Pe. Alex continua denunciando o que ele define como "o triunfo das finanças" posto em ação pelo "capitalismo financeiro". Um sistema baseado no risco moral, na irresponsabilidade do capital, na dívida que gera dívida – que levou a essa imensa bolha especulativa separada do mundo real por um abismo, porque "as finanças já não correspondem mais à economia real" e as operações financeiras já são realizadas por algoritmos, muitas vezes automáticos.
"Tudo isso – escreve o comboniano – se choca radicalmente com a tradição das escrituras hebraicas radicalizadas em Jesus de Nazaré". E, pegando emprestadas as palavras do teólogo moral Enrico Chiavacci, ele afirma que, nesse campo, seriam dois os mandamentos válidos para todo discípulo: "Tente não enriquecer" e "Se você tem, tem que compartilhar".
Talvez o jesuíta John Haughey tenha razão quando afirma: "Nós, ocidentais, lemos o Evangelho como se tivéssemos dinheiro, e usamos o dinheiro como se não conhecêssemos nada do Evangelho". E o Pe. Alex conclui, na linha do Conselho Pontifício Justiça e Paz: "Devemos admitir que, como Igrejas, traímos o Evangelho, esquecendo a radicalidade do ensinamento de Jesus: palavras como 'Deus ou o dinheiro', ou 'Vai, vende tudo o que tens e dá aos pobres'".
É preciso passar das palavras aos fatos – esse é o apelo – às escolhas concretas, às prática cotidiana. Como Igrejas, devemos, principalmente, pedir perdão, mas ainda não é suficiente: devemos mudar de rumo. Como comunidades, convidando todos ao dever moral de pagar os impostos e colocando as próprias economias em cooperativas locais e em atividades sociais. Em nível pessoal, sentir o dever moral de controlar se o banco, onde se depositou o dinheiro, participa de atividades especulativas.
Se o anúncio cristão – escreve Chiavacci – levou à abolição da escravatura, não há por que o mesmo anúncio não possa levar a uma modificação de mentalidades e estruturas.