26 Março 2012
Dezenas de milhares de pessoas a cada dia acompanham o trabalho dos funcionários da Big Apple online. "Gerir uma cidade requer projetos de longo prazo. Não podemos ser submetidos a um referendo cotidiano".
A reportagem é de Vittorio Zucconi, publicada no jornal La Repubblica, 23-03-2012. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
Prisioneiro do Facebook, vítima das redes sociais, Michael Bloomberg, o prefeito da maior cidade norte-americana, se rende. Não é mais possível governar e programar com o assédio desses referendos instantâneos desencadeados na Rede que contestam todas as decisões.
"Estou sufocado pelas redes sociais que não me deixam trabalhar", lamenta Bloomberg, que se tornou o aprendiz de feiticeiro prisioneiro das "vassouras" eletrônicas que ele mesmo criou e que agora se rebelam contra ele.
Porém, Bloomberg, que hoje se diz vítima, deve sua sorte e poder à eletrônica, às redes de computadores, à comunicação instantânea das informações financeiras e das listas da Bolsa dos operadores em Wall Street que ele criou há 30 anos mais ou menos, mas a sua bruxaria fugiu do seu controle. Facebook, Twitter, SMS "lançam referendos instantâneos sobre toda decisão tomada e anunciada" e reduzem a complexidade do governo de uma metrópole ao "simplicismo de reações imediatas", pró ou contra, agrada ou não agrada.
O prefeito, muito popular, eleito e reeleito antes como republicano e depois como independente, estava em Singapura quando proclamou a sua impaciência, como escreveu o New York Times, diante dos novos instrumentos de socialização virtual que se tornam uma imensa praça incontrolável e barulhenta. "As redes sociais são criaturas do instante, mas governar uma cidade como Nova York exige planejamento de longo prazo, projetos de 10 ou 20 anos, que são rejeitados fulminantemente pela maré de 'nãos' produzida na Rede. Não é possível projetar nada se todo projeto é submetido a referendos instantâneos".
A frustração do primeiro cidadão chamado a governar os 10 milhões de nova-iorquinos poderia ser entusiasticamente compartilhada por personalidades políticas de todo o mundo, que viram seu próprio destino político e pessoal mudado ou decidido justamente pela mobilização através das novas tecnologias da comunicação interpessoal. Foi um ex-presidente da Filipinas, Joseph Estrada, sob processo de impeachment por corrupção, que advertiu por primeiro a "mordida" dos SMS. Em Manila, quando se difundiu o boato de que o parlamento o salvaria, bastou uma mensagem: "Go to EDSA, wear black", vão para a praça Epifânio dos Santos, vistam preto, para levar mais de um milhão de pessoas para as ruas. Ele mesmo, deposto, acusou a "geração texto" por tê-lo derrubado.
Da Ucrânia à Primavera Árabe, das primeiras tentativas de rebelião contra o regime do Irã à batalha cotidiana da ditadura chinesa contra blogueiros e Redes, hoje nenhum administrador, nenhum político pode se permitir não acertar as contas com a teia de aranha que se tece ao seu redor.
Em uma Singapura muito disciplinada, o presidente e o governo compartilharam entusiasticamente a denúncia de Bloomberg, que estava na cidade asiática para receber um prêmio como administrador de Nova York. "Nós também – disseram – não podemos fazer nada sem ser submetidos imediatamente a uma avalanche de discordâncias nos blogs, nos fóruns, nas redes sociais". De pouco servem as tentativas de superar a onda e tentar acalmá-la abrindo páginas no Facebook em que o administrador ou o político – como fez Bloomberg – tentam explicar, acalmar, antecipar. Não existe mais personalidade de nenhum relevo, do presidente Obama aos prefeitos, que não participe na vida da Rede. Mas muitas vezes são apenas instrumentos visíveis de velha propaganda difundida através das novas mídias.
O que realmente Bloomberg lamenta, e que as pesquisas, assim como a experiência dirigida das redes sociais demonstram, não é o pesadelo do referendo instantâneo sobre qualquer medida administrativa. É a prevalência do negativo, a implícita superioridade da oposição que a própria natureza desses novos meios de comunicação estimula e exalta.
O efeito "desafogador" de frustrações, raivas, desilusões, polêmicas tende a superar facilmente as mensagens de consenso e de aprovação, e cria, nos políticos, a sensação de serem aprendizes de feiticeiro cercados por uma irrefreável dança de vassouras enlouquecidas e ameaçadoras. "É muito mais fácil escrever para protestar ao invés de aprovar", escreveu o site especializado Media Newswire Online. As queixas da Bloomberg soam muito pouco sinceras, mas a questão que ele enfatiza permanece: a delegação do poder a pessoas democraticamente eleitas para governar em anos pode coexistir com o escrutínio minuto a minuto das suas escolhas?
Nova York está estudando a possibilidade de construir, finalmente, um novo e necessário túnel sob as águas do rio Hudson, que levará pelo menos 10 anos, e a resposta das redes sociais foi extremamente negativa. Felizmente para ele, em dez anos, Michael não será mais prefeito, e outros terão que dançar com as vassouras.
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Prefeito de Nova Iorque contra o Twitter: ''Ele não nos deixa governar'' - Instituto Humanitas Unisinos - IHU