Por: André | 21 Março 2012
Pilhofer é o editor da área interativa do The New York Times. Ele trabalha com jornalistas e produtores de software conteúdo de alto valor e é cofundador do DocumentCloud.org, um sítio com três milhões de documentos compartilhados por 400 jornais.
A reportagem é de Mariano Blejman e está publicada no jornal argentino Página/12, 20-03-2012. A tradução é do Cepat.
A entrevista com o jornalista Aron Pilhofer aconteceu no Mozilla Festival em Londres, em novembro passado, em uma imensa escola de jornalismo e novos meios que abriga os mais prestigiados editores digitais dos grandes meios. Pilhofer conta com uma equipe de 20 pessoas da área digital na qual trabalham também programadores de software para gerar valor agregado ao conteúdo do The New York Times. Um material de tipo inédito ou, na verdade, que começa a ser “édito” há alguns anos e que este ano promete uma explosão no terreno local. Bases de dados sobre o estado da água, ferramentas interativas e participativas, mapas sobre a expansão da radiação em Fukushima, com quatro regras básicas: prover contexto, descrever o processo, revelar padrões e explicar a geografia.
A equipe interativa do The New York Times pensa as notícias de uma maneira pouco comum, histórias com forma de base de dados, visualizações, histórias complementares à clássica questão de escrever, titular, ilustrar com uma foto ou uma infografia. “Apenas há alguns anos conseguimos ter programadores de software no mesmo escritório no qual trabalhavam os jornalistas”, conta no marco do festival organizado pela fundação criadora do navegador Firefox, que tem como valores centrais a pluralidade, a abertura da internet e a liberdade de conhecimento.
Nesses dias, Pilhofer tinha a cabeça voltada para o desenvolvimento colaborativo do primeiro livro de jornalismo de dados da história, o Datajournalism HandBook, patrocinado pela Open Knowledge Foundation, projeto do qual participou este cronista. E as dúvidas sobre o fascínio pela tecnologia eram uma constante nas discussões, como um possível brilho que poderia fazer perder o foco do conteúdo. “É isso que nós chamamos de tool sharpening, afiar as ferramentas mais do que o necessário e perder o tempo fazendo algo que não ajuda muito. Se te esqueces do jornalismo, perdes o tempo em coisas que não levam a lugar nenhum”, disse Pilhofer, que desenvolveu, junto com sua equipe, grande parte do conteúdo mais ambicioso nessa ponte que há entre jornalismo e tecnologia, como a situação do vazamento de petróleo, acompanhamento interativo de votações, etc. “Nós construímos novas ferramentas, mas brigamos com muito tráfico e nossos aplicativos têm que escalar alto e rápido e é difícil encontrar um balanço. Mas a maior parte do tempo tratamos de nos focar em contar as histórias”, disse.
A ideia de reunir jornalistas e programadores de software provém de meados dos anos 2000, mas começou a se acelerar apenas quando Richard Gordon e Pilhofer, que vinham pensando de forma independente em começar a estimular encontros entre jornalistas e programadores de software, se encontraram com Burt Herman, que tinha apenas a mesma ideia, mas que até a havia concebido com o mesmo nome. Chamaram-na “Hacks/Hackers”, hacks – recortar – é o que fazem os jornalistas e hacker é programar, em definitiva. “Depois conheci pessoas do Scarpper Wiki, que era uma ideia muito nova, que eram hackers que usavam software para converter texto pensado para pessoas em textos usáveis por computador, e então pensei que era óbvio o que tinha que acontecer”. Nesse mesmo momento, além disso o DocumentCloud ganhou um prêmio e começou a converter-se em realidade.
Por que estes dois mundos se reuniram?
O que estava acontecendo é que começávamos a ver organizações e jornalistas de maneira mais sofisticada, histórias digitais, maneiras diferentes de mostrar as notícias, pensar em usar a internet como uma fonte, como ferramenta de análise. Agora não temos que explicá-lo mais, agora já é algo normal, nos Estados Unidos é um tema comum nas redações fazer análise de dados e histórias com dados.
E qual é o seu modelo de negócio? Por que a mídia investe nisso?
O que fazemos é criar experiências únicas no nyt.com. Ali encontras conteúdos que não vais encontrar em nenhum outro lugar, e quando esse conteúdo sai à luz os anunciantes realmente gostam do que veem. Assim que vão pagar o Premium para colocar seu anúncio em algo que só se encontra no nyt.com em poucos projetos. Temos projetos com muita publicidade, mas também estamos experimentando vender o serviço de usar a plataforma. Estamos fazendo algo para que outros meios também possam usá-lo e possam pagar pelo uso. Fizemos isso em Vancouver como experiência com dois clientes, porque era muito experimental. Mas vamos torná-lo grande para Londres, muito grande. Além disso, não é um aplicativo de software para “ser copiado”, na realidade tens que reconstruí-lo. Por isso os anunciantes o querem porque é fora do comum e muito diferente.
No entanto, não têm o conteúdo separado, como o The Guardian, mas está dentro do corpo das notas.
Há coisas do The New York Times que construímos que nunca ficarás sabendo. É igual a qualquer outra parte da internet, não queremos que estejam separados, queremos ser parte disto em conjunto.
Às vezes é difícil encontrar esse conteúdo. Qual é o arquivo das histórias contadas com dados?
Esse é o problema com todo o nosso conteúdo. No The New York Times publicamos centenas de histórias por dia, a maioria nem sequer chega à página inicial. Este conteúdo pode ser encontrado na busca, não temos uma página para nossas coisas. Estamos discutindo a possibilidade de criá-la, mas por enquanto não o fizemos.
O que acontece com o DocumentCloud?
Está indo extremamente bem. Nele trabalham mais de 400 jornais, com três milhões de documentos. Vai muito bem, agora faz parte da Associação Investigative Reporters and Editors que tem 5.000 membros e é perfeito para o DocumentCloud. O que mais nos agrada é que em janeiro tivemos uma bolsa da Open Society para fazer uma plataforma multilíngue. Esperamos estar funcionando em espanhol, francês e seguramente mais adiante em alemão.
O que se pode recomendar aos meios que estão começando a desenvolver jornalismo de dados?
Neste momento, o jornalismo de dados quer dizer muitas coisas. Expande-se de uma cobertura tradicional para uma de aplicativos de notícias. Assim que depende do fato de que a maioria dos jornalistas aprenda as técnicas usando a data como fonte. Beneficiam-se começando pelo básico, por usar bases de dados e começar a compreender o valor disso e fazer scripts de programação. Os meios tradicionais estão em uma indústria que está sofrendo nos Estados Unidos, mas inevitavelmente nos tornaremos digitais. Os jornalistas terão que ser mais fluidos, para usar dados. Qual é a melhor forma de fazê-lo, que história cobrimos: é preciso buscar a maneira certa de contar cada história com dados, que os jornalistas possam manipular uma grande quantidade de ferramentas digitais, e é fácil fazer para que isso ocorra.
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“Todos nos tornaremos digitais” - Instituto Humanitas Unisinos - IHU