15 Fevereiro 2012
"Ninguém pode pôr em dúvida que Hans Küng é um teólogo católico". Abrindo o debate público organizado por ocasião da entrega do prêmio ao neovencedor e Antônio Damásio, ilustre neurocientista e membro do júri, Armando Massarenti pontualiza a vocação religiosa e de trabalho do sacerdote suíço. Que foi posta em discussão, nos últimos dias, pela Cúria de Udine, enraivecida pela passarela oferecida a Küng, ferozmente crítico do Vaticano sobre questões muito sensíveis, da contracepção à infalibilidade do papa.
A reportagem é de Licia Granello, publicada no jornal La Repubblica, 29-01-2012. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
Solicitado por Damásio e por Massarenti, Küng não decepcionou as expectativas das muitas pessoas que lotaram o Teatro Nuovo, reafirmando que a ética não é uma questão tão complicada, "bastam dois princípios, ou seja, tratar humanamente todos os seres humanos e não fazer aos outros o o que não se quer gostaria que se fizesse a si mesmo, mais os quatro mandamentos na base de todas as tradições religiosas: não matar, não mentir, não roubar, não abusar sexualmente".
Enquanto Damásio, contava as suas convicções de neurologista, certo de que as emoções determinam os comportamentos e de como compaixão e admiração são sentimentos fundamentais para a construção da sociedade e dos comportamentos racionais, Küng consentia: "Não é necessário que haja um conflito entre religião e ciência. Não se deve falar ciência com a Bíblia na mão... A Bíblia pode nos dizer outras coisas. Toda a realidade tem uma origem. E, apesar das grandes discussões em Cambridge sobre o Big Bang e as especulações matemáticas, para saber como e por que tudo começou devemos fazer um ato de fé, de confiança. A meu ver, é uma confiança razoável, mais do que pensar que tudo vem do nada e acaba no nada".
Mas Küng foi além. Na cidade onde morreu Eluana Englaro, as suas palavras soaram altas e fortes: "O homem tem a responsabilidade de si até o fim. Sou obrigado a esperar me tornar demente? Acredito que não. Não é uma posição ateia, porque acredito em Deus e na vida eterna. Dou a minha vida a Deus e peço que possa me despedir de um modo digno"
Fortes aplausos acompanharam as palavras de encerramento: "Autoridade significa dar limites, mas também liberdade. Quem só dá limites, faz autoritarismo, o que eu rejeito, tanto no Estado quanto na Igreja".
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''O doente pode escolher quando quer dar adeus à vida'', defende Hans Küng - Instituto Humanitas Unisinos - IHU