17 Janeiro 2012
Em cinco semanas, o Papa Bento XVI criará 22 novos cardeais no quarto consistório do seu pontificado, 18 dos quais serão elegíveis para votar no próximo conclave para escolher um novo papa. Então, quem são esses homens que estão engrossando as fileiras de elite da Igreja?
A reportagem é de Robert Mickens, publicada na revista católica britânica The Tablet, 14-01-2012. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
Se havia qualquer dúvida antes da semana passada, agora está claro para muitos que o Papa Bento XVI quer manter o papado firmemente nas mãos dos europeus.
O anúncio do Vaticano, na semana passada, de que o papa irá criar 22 novos cardeais em um consistório no dia 18 de fevereiro revelou que quase três quartos daqueles que irão receber um chapéu vermelho são da Europa (sete apenas da Itália). O restante das nomeações nesse quarto consistório do pontificado de Ratzinger incluem três novos cardeais da América do Norte, dois da Ásia e um do Brasil. Quatro deles têm mais de 80 anos e, por isso, são inelegíveis para votar em um conclave para eleger um novo papa.
Dez dos novos cardeais estão atualmente atuando na Cúria Romana ou em escritórios com sede em Roma que, por causa de um antigo costume, são quase sempre chefiados por um cardeal. Vários no grupo deste ano foram nomeados para seus cargos como uma recompensa por uma vida de serviço à Santa Sé. Outros estão em uma posição – como a de chefe de uma congregação – em que é considerado essencial ser da mais alta hierarquia eclesiástica. Os restantes são bispos residentes que lideram grandes arquidioceses que são tradicionalmente lideradas por cardeais.
A partir do dia 18 de fevereiro, haverá 125 cardeais eleitores, cinco além do limite máximo de 120 estabelecidos pelo Papa Paulo VI. E, pela primeira vez, os 63 cardeais agora aqueles criados por Bento XVI irão superar aqueles criados pelo Beato João Paulo II. Ao longo de quase sete anos como Bispo de Roma, o Papa Bento XVI terá criado um total de 68 cardeais eleitores, embora três deles já perderam o seu voto ao completar 80 anos e outros dois morreram. Ele terá chamado 39 dos atuais 67 eleitores europeus (e 21 dos 30 italianos), mas apenas seis dos 22 eleitores da América Latina.
De forma significativa, 43 dos 125 eleitores são presidentes ou presidentes aposentados de escritórios romanos, enquanto outros 14 cardeais residentes já trabalharam para o Vaticano como padres. Isso situa o bloco de eleitores da Cúria com 57 membros. Não é evidente que esse grupo, o bloco italiano ou a coalizão europeia como um todo seja unida o suficiente para garantir a eleição de um de seus membros. Mas esses diversos grupos de interesse serão todos determinantes na escolha de um candidato de compromisso que se tornará o próximo papa.
Estes são os homens que o papa irá criar cardeais no próximo mês no Vaticano, na ordem que ele os anunciou no dia 6 de janeiro:
1. Fernando Filoni, 65 anos (Itália): Prefeito da Congregação para a Evangelização dos Povos (Propaganda Fide) desde maio de 2011. Esse antigo diplomata vaticano trabalhou por uma década em Hong Kong e, como núncio no Iraque, foi o único embaixador estrangeiro a permanecer no país depois da invasão liderada pelos Estados Unidos em 2003. Recentemente, ele passou quatro anos como sostituto ou vice-secretário de Estado para assuntos internos. É ex-aluno da prestigiada Accademia Ecclesiastica para diplomatas papais.
2. Manuel Monteiro de Castro, 73 anos (Portugal): penitenciário maior desde janeiro de 2012. Esse diplomata papal foi núncio em vários países do Caribe, da América Latina e da África do Sul. Depois de ter atuado como o homem do papa em Madri, passou quatro anos como arcebispo secretário da Congregação para os Bispos. Ex-aluno da Accademia Ecclesiastica.
3. Santos Abril y Castelló, 76 anos (Espanha): arcipreste da Basílica de Santa Maria Maior desde novembro de 2011. Foi recentemente nomeado vice-camerlengo da Santa Igreja Romana, depois de uma longa carreira como núncio papal em vários países dos Bálcãs, da América Latina e da África. Também tem formação pela Accademia.
4. Antonio Maria Vegliò, 74 anos (Itália): presidente do Conselho Pontifício para a Pastoral dos Migrantes e Itinerantes desde fevereiro de 2009. Esse diplomata de carreira foi núncio em vários países da África e do Oriente Médio, antes de passar oito anos como arcebispo secretário da Congregação para as Igrejas Orientais. Outro graduado da Accademia Ecclesiastica de Roma.
5. Giuseppe Bertello, 69 anos (Itália): governador da Cidade do Vaticano desde outubro de 2011. Terminou uma longa e ilustre carreira diplomática como núncio na Itália, antes de ser nomeado ao seu posto atual. Também estudou na Accademia.
6. Francesco Coccopalmerio, 73 anos (Itália): presidente do Pontifício Conselho para os Textos Legislativos desde fevereiro de 2007. Este excelente canonista e professor formado em Roma atuou como auxiliar em Milão desde 1996 até o seu posto atual no Vaticano.
7. João Braz de Aviz, 64 anos (Brasil): prefeito da Congregação para os Institutos de Vida Consagrada e as Sociedades de Vida Apostólica desde janeiro de 2011. Único latino-americano do consistório, foi nomeado bispo auxiliar em 1994 depois de 20 anos de trabalho paroquial e em seminários. Membro do Movimento dos Focolares com graduação pelas Universidades Gregoriana e Lateranense, chefiou a arquidiocese de Brasília por sete anos antes da sua nomeação ao Vaticano.
8. Edwin O'Brien, de 72 anos (EUA): pró-Grão-Mestre dos Cavaleiros do Santo Sepulcro desde agosto de 2011. Ex-reitor do seminário de sua arquidiocese natal de Nova York e do North American College em Roma, foi o chefe da Arquidiocese Militar dos EUA por 10 anos. Em 2007, foi nomeado arcebispo de Baltimore, distinguindo-se por banir os Legionários de Cristo.
9. Domenico Calcagno, 69 anos (Itália): depois de quatro anos como número dois em comando, foi nomeado presidente da Administração do Patrimônio da Sé Apostólica em julho de 2011. Padre de Gênova, esse professor de teologia formado em Roma era uma das autoridades da Conferência Episcopal Italiana (CEI) quando foi nomeado bispo de Savona-Noli, em 2002.
10. Giuseppe Versaldi, 68 anos (Itália): presidente da Prefeitura de Assuntos Econômicos da Santa Sé desde setembro de 2011. Sacerdote de Vercelli, foi o braço direito do cardeal Tarcisio Bertone, SDB quando o secretário de Estado era arcebispo local. Com doutorado em psicologia e em direito canônico pela Universidade Gregoriana, era bispo de Alessandria della Paglia desde 2007 até sua nomeação atual.
11. George Alencherry, 66 anos (Índia): arcebispo maior da Igreja Siro-Malabarense desde maio de 2011. Teólogo formado em Paris e especializado em catequese, lecionou aconselhamento pastoral por muitos anos no Pontifício Instituto de Teologia de Alwaye. Foi eleito bispo em 1997 e chefe da Igreja Siro-Malabarense da Índia em maio passado.
12. Thomas Collins, 65 anos (Canadá): arcebispo de Toronto desde dezembro de 2006. Com uma licenciatura em Escritura pelo Pontifício Instituto Bíblico de Roma e doutorado em teologia pela Universidade Gregoriana, passou quase 20 anos como professor e reitor de seminários. Nomeado bispo aos 50 anos, esta é a sua terceira diocese. É um grande promotor da lectio divina.
13. Dominik Duka, OP, 68 anos (República Checa): arcebispo de Praga desde fevereiro de 2010. Pouco depois de sua ordenação como padre dominicano, as autoridades comunistas tentaram impedir o seu ministério forçando-o a trabalhar por quase quase 15 anos em uma fábrica de automóveis Skoda. Também ficou preso por um ano. Mais tarde, tornou-se superior provincial dos dominicanos da Boêmia e da Morávia, e lecionou teologia antes de se tornar bispo em 1989. Foi criticado por ser muito próximo do ultraconservador presidente tcheco Vaclav Klaus.
14. Willem Eijk, 58 anos (Holanda): arcebispo de Utrecht desde dezembro de 2007. Médico ordenado padre aos 32 anos, tem graduação em filosofia moral pela Universidade Angelicum de Roma. Depois de 10 anos lecionando no seminário e de dois anos como membro da Comissão Teológica Internacional promovida pela Congregação para a Doutrina da Fé, esse renomado conservador teológico foi nomeado bispo em 1999.
15. Giuseppe Betori, 65 anos (Itália): arcebispo de Florença desde setembro de 2008. Biblista formado em Roma, foi professor de seminário, chefe do escritório catequético dos bispos italianos e passou passou mais de uma década na conferência episcopal, tornando-se bispo secretário-geral em 2001. Protegido do cardeal aposentado Camillo Ruini, foi vigário de Roma e ex-presidente da CEI.
16. Timothy Dolan, 62 anos (EUA): arcebispo de Nova York desde fevereiro de 2009. Grande homem com uma risada contagiante, esse ex-reitor do North American College e membro da equipe da nunciatura norte-americana de Washington é um conservador com extraordinárias habilidades pessoais. Com doutorado em história da Igreja norte-americana, é um grande contador de histórias clericais. Gregário e discreto, foi nomeado bispo auxiliar de sua terra natal, St Louis, antes de passar mais de sete anos como arcebispo de Milwaukee. Promete ser uma voz entusiástica no Colégio dos Cardeais.
17. Rainer Maria Woelki, 55 anos (Alemanha): arcebispo de Berlim desde julho de 2011. Obteve um doutorado em teologia na universidade do Opus Dei em Roma e passou oito anos como auxiliar em Colônia, onde o cardeal Joachim Meisner atuou como seu mentor e protetor.
18. John Tong Hon, 72 anos (China): bispo de Hong Kong desde abril de 2009. Uma das figuras católicas mais respeitadas em Hong Kong, passou a maior parte do seu sacerdócio como professor de seminário e de teologia, assim como editor de jornal. Vigário-geral desde 1992, foi nomeado auxiliar em 1996. Mais moderado em relação às autoridades comunistas do que o seu combativo antecessor, o cardeal Joseph Zen, SDB.
Os quatro homens que já têm mais de 80 anos:
1. Lucian Muresan, 80 anos (Romênia): arcebispo maior de Fagaras e de Alba Iulia desde julho de 1994. Esse prelado do rito bizantino romeno teve que exercer o seu ministério na clandestinidade por um período.
2. Julien Ries, 91 anos (Bélgica): professor emérito da Universidade Católica de Louvain-la-Neuve. Antigo professor, sua principal obra é sobre a antropologia das religiões. Altamente aclamado na Itália.
3. Prosper Grech, OSA, 86 anos (Malta): professor emérito agostiniano de várias universidades romanas e antigo consultor do escritório doutrinal do Vaticano. É o primeiro frei agostiniano em mais de 100 anos a ser criado cardeal.
4. Karl Becker, SJ, 83 anos (Alemanha): professor emérito jesuíta da Pontifícia Universidade Gregoriana. Consultor da Congregação para a Doutrina da Fé e um dos membros da equipe de teólogos do Vaticano que estão tentando forjar atualmente a desejada reconciliação do papa com a Fraternidade Sacerdotal São Pio X.
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Os novos cardeais. Uma análise da revista The Tablet - Instituto Humanitas Unisinos - IHU