Por: Cesar Sanson | 16 Janeiro 2012
"Os ganhos de produtividade alcançados com o uso de novas tecnologias favoreceram unicamente os proprietários; os trabalhadores, ou foram demitidos, ou tiveram o trabalho desvalorizado. Já é tempo, e é mais do que justo e necessário, que estes ganhos revertam em maior qualidade de vida para toda a humanidade". O comentário é do sociólogo Ivo Poletto em artigo publicado no seu blog, 14-01-2012.
Eis o artigo.
Lendo reflexões sobre a crise que não tem fim na Europa, uma me chamou a atenção: a que propunha a redução do tempo de trabalho para 20 horas por semana. Seria uma estratégia eficaz tanto para criar oportunidades de trabalho, especialmente para os jovens, como para redistribuir a renda, cada dia mais concentrada.
Como você, também perguntei-me se isso seria possível. Porque, evidentemente, o pressuposto é manter e até mesmo aumentar os salários recebidos por 34, 36 ou 40 horas semanais. Num primeiro momento, parece algo impossível, e a razão está no fato de termos engolido o essencial da sociedade denominada de livre mercado: o caráter sagrado da propriedade privada de qualquer bem, de qualquer tipo, mesmo quando ela delega poder de vida ou morte para a humanidade a poucas centenas de proprietários.
É o que está mantendo e aprofundando a crise européia, que é, na verdade, crise mundial: os detentores da propriedade do capital financeiro, mesmo sendo, em sua maior parte, pura especulação, estão sendo defendidos em seu direito de propriedade pelos políticos que administram os recursos públicos. O caráter sagrado dessa defesa se manifesta na frieza com que os políticos repassam aos bancos mais e mais recursos que deveriam ser destinados à garantia dos direitos das pessoas, direitos que têm a ver com a vida.
Por isso, para perceber a possibilidade da estratégia de 20 horas semanais é preciso dessacralizar a visão da propriedade privada capitalista. Em outras palavras, só a redistribuição dos recursos atualmente concentrados em tão poucas propriedades torna possível esta mudança histórica. Na verdade, o que aconteceu é que os ganhos de produtividade alcançados com o uso de novas tecnologias favoreceram unicamente os proprietários; os trabalhadores, ou foram demitidos, ou tiveram o trabalho desvalorizado. Já é tempo, e é mais do que justo e necessário, que estes ganhos revertam em maior qualidade de vida para toda a humanidade, e uma das condições dessa maior qualidade é que todos dediquem menos tempo ao trabalho e disponham, por isso, de mais tempo livre.
Vale a pena destacar como esta mudança modificaria o humor das pessoas. Primeiro porque todas se sentiriam valorizadas em suas capacidades de trabalho; depois, porque todas participariam dos frutos da produção coletiva de bens e serviços, superando a insegurança em relação ao futuro. E pode-se imaginar como seria menos violenta a vida em sociedade, tornando possível canalizar recursos para outras dimensões da vida, de modo especial ao cultivo da beleza dos ambientes, da arte, do lazer. As pessoas poderiam dedicar mais tempo ao cultivo pessoal, crescendo em dimensões como o prazer das amizades, o amor aos familiares, a participação na vida política, avançando na construção de sociedades realmente democráticas.
Faça sua escolha e, se julgar positiva esta proposta de redução das horas de trabalho, lute por ela.
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20 horas de trabalho por semana. É possível? - Instituto Humanitas Unisinos - IHU