Por: André | 17 Dezembro 2011
Em uma nota informativa divulgada nesta terça-feira em Kinshasa, a Cáritas nacional da República Democrática do Congo (RDC) expressa sua séria preocupação com a deterioração da situação humanitária no interior do país após as recentes eleições presidenciais e assinala que "segundo as informações obtidas de algumas Cáritas diocesanas, estão havendo deslocamentos da população, destruição e queima de casas e escolas, assim como muitos casos de pessoas feridas ou mortas com tiros".
A reportagem está publicada no sítio da Cáritas espanhola, 14-12-2011. A tradução é do Cepat.
"Durante os últimos dias – lê-se na nota da Cáritas da RDC – foram se dando diversas manifestações populares, seguidas da reação às mesmas por parte das forças da ordem. Tudo isso por conta do anúncio dos resultados provisórios das eleições presidenciais. Quase quatro dias depois da publicação, seu impacto socioeconômico na população senta as bases de uma grave situação humanitária em várias províncias do país e na capital Kinshasa".
Informes das Cáritas diocesanas
A Cáritas Congo recolhe de forma específica a situação que se vive na diocese de Mweka, no Kasai Ocidental, onde foram registrados danos significativos, segundo um relatório da Cáritas Mweka recebido no dia 11 de dezembro de 2011. Ao menos 10 casas e três farmácias pertencentes à [etnia] no-kuba, acusados de ter votado contra o atual presidente, foram incendiadas supostamente por membros da situação. O incidente mais grave aconteceu em Pembeangu, onde se lamenta um morto e duas pessoas gravemente feridas.
Assim mesmo, todos os centros educacionais que serviram como centros de votação foram saqueados após os rumores de fraude eleitoral. Por outro lado, o relatório enviado à Caritas Nacional pela Cáritas Diocesana de Mweka indica que "as mulheres no-kuba se sentem ameaçadas quando vão aos campos para trabalhar, razão pela qual a maioria delas abandonou os cultivos, com tudo o que este fato implica de aumento do risco de escassez de alimentos e de desnutrição, junto com a diminuição do poder aquisitivo e o consequente aumento dos preços dos alimentos devido à escassez".
Na diocese de Katanga, situada também no Kasai Ocidental, um informe provisório da Cáritas local enviado no sábado passado informava de dois mortos e quatro feridos a bala. Na mesma região, na cidade de Mbuji-Mai houve movimentos de população para fora da cidade.
Por outro lado, no último informe da Cáritas Kamina, em Katanga, recebido no dia 12 de dezembro, nessa diocese foram destruídas mais de 20 casas, 92 jovens ficaram feridos (entre eles, 52 crianças) e 23 famílias deslocadas por conta dos conflitos entre os moradores dos bairros favoráveis ao candidato que, segundo os resultados da Comissão Eleitoral Nacional Independente (Ceni), conseguiu pela primeira vez o segundo lugar nas eleições presidenciais.
Informes similares estão chegando das Cáritas diocesanas de todo o país, confirmando a destruição de escolas e atos de pilhagem em casas e pequenos comércios, assim como feridos e, inclusive, mortos. Este é o caso da diocese de Matadi, Kidantu (no Bas-Congo) e Goma, onde os conflitos entre o grupo armado FDLR e o exército congolês recrudesceram, complicando ainda mais uma situação humanitária por si só já precária nessa região.
Vinte e um feridos a bala em Kinshasa
Por último, na Arquidiocese de Kinshasa são confirmados mais de 21 feridos a bala, que em decorrência dos conflitos ingressaram nos hospitais da Universidade de Kinshasa, Saint Joseph (administrado pela Cáritas Congo) e Bondeko, assim como no campo de refugiados de Kokolo.
As necessidades de material cirúrgico e anestésico para a maior parte dos centros de saúde estão sendo cobertas por membros do Grupo de Ação Sanitária, integrado pela Cáritas Congo e outras entidades voluntárias que trabalham na cidade. De fato, a Cáritas Kinshasa forneceu diversos materiais sanitários ao BDOM (Serviço de Obras Médicas da Diocese), que foram distribuídos para mais de 20 centros de saúde e pequenos hospitais em diversos bairros da capital.
Inquietude diante da situação dos doentes e meninos e meninas de rua
A Cáritas Congo expressa sua inquietude em relação à situação tanto dos pacientes, de seus cuidadores e familiares como do corpo médico destes centros de saúde, assim como dos encarcerados nas prisões e nos calabouços. Devido ao fato de que se desatou a psicose pós-eleitoral e a escalada da insegurança, existem sérias dificuldades para contar com o devido fornecimento de alimentos. Esta situação de desproteção se detectou também com os centros de acolhida para meninos e meninas de rua; é especialmente o caso de algumas meninas que chegaram aos centros com recém-nascidos de menos de um mês. A maioria destes menores tem entre 5 e 17 anos.
Por outro lado, em Kinshasa, onde as pessoas vivem o dia, a situação se tornou quase desesperadora para as famílias que não apenas não tem recursos para se alimentar, como, além disso, estão acolhendo famílias que fugiram dos municípios circundantes. Como assegura a nota da Cáritas Congo, "o destino dos mais vulneráveis – idosos, famílias sem atividades geradoras de ingressos – é sumamente precário, sobretudo nesta crise que não faz mais que aprofundar a por si só já complicada situação humanitária de milhares de pessoas nesta cidade e em todo o país".
Apelo do cardeal Monsengwo
Diante da piora do clima de convivência que se vive no país após as eleições presidenciais, o arcebispo de Kinshasa, o cardeal Monsengwo Pasinya, lançou, em 12 de dezembro passado, um apelo à população, no qual, após fazer referência às conclusões "de numerosos observadores nacionais e internacionais, que colocam em sérias dúvidas a credibilidade destas eleições, como se depreende do relatório Carter", assinala que "segundo a análise dos resultados publicados pela Ceni no dia 09 de dezembro de 2011, pode-se deduzir que estes resultados não estão conformes a verdade e tampouco a justiça".
Em sua declaração, após afirmar que "ao tratar-se no momento de resultados provisórios, à espera da validação da Suprema Corte de Justiça", o cardeal convida "os candidatos descontentes com esses resultados para interpor a oportuna apelação, utilizando o caminho da lei e sem recorrer à violência". "Dezoito mortos para uma eleição são muitos!", exclama em sua declaração do arcebispo de Kinshasa, ao mesmo tempo que reafirma "a obrigação da Igreja de oferecer sua ajuda à justiça para que se restabeleça a verdade das urnas ali onde a situam os observadores".
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A Cáritas do Congo alerta para a preocupante situação humanitária no país após as eleições presidenciais - Instituto Humanitas Unisinos - IHU