11 Novembro 2011
Durante o Concílio Vaticano II (1962-1965), Helmut Krätzl estava presente na Basílica de São Pedro, em Roma, como escrivão oficial. Hoje, o bispo auxiliar de Viena é uma das principais testemunhas do espírito de reforma com o qual o Papa João XXIII trouxe um ar novo à Igreja Católica.
A reportagem é de Joseph Bruckmoser, publicada no portal do jornal Salzburger Nachrichten, 14-09-2011. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
No seu 80º aniversário, ele apresenta uma avaliação pessoal e, do ponto de vista da política eclesial, explosiva. Na sua opinião, apesar dos problemas não resolvidos relativos aos padres casados ou à comunhão para divorciados em segunda união, hoje um Concílio traria poucas contribuições.
Ele também aborda o que afirmou no seu novo livro Mein Leben für die Kirche, die den Menschen dient (Minha vida pela Igreja que serve ao povo).
Eis a entrevista.
Eminência, em nível da Igreja universal, um terceiro Concílio Vaticano poderia pôr em marcha a possibilidade de reformas?
Por favor, não, não agora! Da forma como estão agora as relações de maioria no Vaticano e nas Conferências Episcopais, as forças conservadoras na Cúria teriam o Concílio totalmente em suas mãos. Na Cúria, há um número desproporcionalmente alto de colaboradores, especialmente de nível médio, provenientes de movimentos muito conservadores. Dado que hoje a interpretação do Concílio é muito diversificada, poderíamos temer, no caso de um novo Concílio, um confronto muito forte nesse sentido. Não haveria nenhuma busca frutífera por novos caminhos, dos quais, ao contrário, a Igreja precisa na sociedade atual.
Não poderia acontecer, como no Concílio Vaticano II há 50 anos, que os bispos de todo o mundo, no fim, não aceitem as propostas da Cúria, mas, ao contrário, assumindo a responsabilidade pela Igreja inteira, incitem as reformas?
As tendências nas nomeações de bispos nas últimas duas décadas não deixam transparecer essa esperança. Tem-se a impressão de que são preferidos os candidatos que não expressam críticas de nenhum tipo sobre os problemas mais controversos. Só poderia acontecer um milagre como no Concílio Vaticano II se um futuro papa proclamasse, por sua própria iniciativa, um Concílio para as reformas – sem que os seus eleitores presumissem a sua intenção.
Então, muitos bispos que hoje pensam diferente, como com João XXIII, poderiam mudar o modo de pensar com o papa. Mas milagres assim acontecem raramente, não podemos contar com isso. Assim, só nos resta continuar discutindo a fundo sobre a interpretação do Concílio com muita paciência e perseverança de modo objetivo e teologicamente fundamentado. A isso nos empurram os desafios do nosso tempo e sociedade atual, mas também a crescente crítica daqueles que amam a Igreja de modo particular. O Espírito de Deus, talvez, não pode falar através deles?
Efetivamente, há fortes rumores na base. Onde o senhor vê, pessoalmente, um caminho para a renovação?
Penso no jesuíta egípcio Henry Boulad. Ele diz conhecer muitos bispos que consideram como urgentemente necessária uma reforma da Igreja: "Os bispos sabem que eu penso como progressista. Mas aceitam isso porque também sabem que eu amo a Igreja. Esse é o motivo pelo qual eu luto tão obstinadamente". Boulad diz – de uma forma um pouco mais radical de como eu formularia – que não devemos esperar uma solução do Vaticano. Ele defende que o Vaticano nunca será a favor de uma multiplicidade difundida. A diversidade na Igreja só pode começar de baixo. A minha esperança pessoal é que as forças reformadores, antes que todos os bispos, coloquem-se finalmente em rede e levem juntas as suas demandas a Roma. Não são poucas. A massa crítica existe. Só é preciso que alguém assuma a direção.
FECHAR
Comunique à redação erros de português, de informação ou técnicos encontrados nesta página:
"Um Concílio não faria sentido neste momento" - Instituto Humanitas Unisinos - IHU