15 Outubro 2011
A leitura que a Igreja propõe neste domingo é o Evangelho de Jesus Cristo segundo Mateus 22, 15-21, que corresponde ao 29º Domingo do Tempo Comum, ciclo A do Ano Litúrgico.
O teólogo espanhol José Antonio Pagola comenta o texto.
VÍTIMAS
A pergunta que fazem a Jesus alguns setores fariseus, confabulados com partidários de Antipas, é uma armadilha preparada com astúcia para criar um clima propício para eliminá-Lo: "É lícito pagar impostos a César ou não?".
Se diz que é lícito, Jesus ficará desprestigiado ante o povo e perderá o seu apoio: assim será mais fácil atuar contra Ele. Se diz que não é lícito, poderá ser acusado de agitador subversivo ante os romanos que, nas festas da Páscoa já próximas, sobem a Jerusalém para abafar qualquer intenção de rebelião contra César.
Antes de tudo, Jesus pede-lhes que Lhe mostrem "a moeda do imposto" e que Lhe digam de quem é a imagem e a inscrição. Os adversários reconhecem que a imagem é de César como diz a inscrição: Tibério César, Filho augusto do Divino Augusto. Pontífice Máximo. Com o Seu gesto, Jesus situou a pergunta num contexto inesperado.
Tira então uma primeira conclusão. Se a imagem da moeda pertence a César, "dai a César o que é de César". Devolvei o que é seu: essa moeda idólatra, cunhada com símbolos de poder religioso. Se a estais utilizando nos vossos negócios, estais já reconhecendo a sua soberania. Cumpri com as vossas obrigações.
Mas Jesus que não vive ao serviço do imperador de Roma, "procura o reino de Deus e a Sua justiça", junta uma grave advertência sobre algo que ninguém Lhe perguntou: "A Deus dai o que é de Deus". A moeda leva a "imagem" de Tibério, mas o ser humano é a "imagem" de Deus: pertence só a Ele. Nunca sacrifiqueis as pessoas a nenhum poder. Defende-as.
A crise econômica que estamos vivendo nos países ocidentais não tem fácil solução. Mais do que uma crise financeira, é uma crise de humanidade. Obcecadas apenas por um bem-estar material sempre maior, acabamos vivendo um estilo de vida insustentável inclusive economicamente.
Não vai ser suficiente propor soluções técnicas. É necessária uma conversão do nosso estilo de vida, uma transformação das consciências: passar da lógica da competição à da cooperação; colocar limites à voracidade dos mercados; aprender uma nova ética da renúncia.
A crise vai ser longa. Esperam-nos anos difíceis. Os seguidores de Jesus, temos de encontrar no Evangelho a inspiração e o alento para vivê-la de forma solidária. De Jesus escutamos o convite para estar próximos das vítimas mais vulneráveis: os que estão a ser sacrificados injustamente às estratégias dos mercados mais poderosos.