Junto com o processo de criação do
PSD, a Justiça Eleitoral aceitou a "associação sigilosa" de 17 parlamentares ao partido. Desse total, a sigla espera que pelo menos dez confirmem a filiação nos próximos 30 dias, o que tornaria a sigla a terceira maior bancada da Câmara dos Deputados. A maior é a do
PT, com 86 deputados, seguida do
PMDB, com 80 e do
PSDB com 53. O
PSD, com as adesões esperadas, terá pelo menos 58 deputados.
A reportagem é de
Raymundo Costa e publicada pelo jornal
Valor, 29-09-2011.
Com mais de 50 deputados e o propósito de apoiar "os bons projetos" do governo
Dilma Rousseff, a criação do PSD modifica o desenho das forças no Congresso, cuja relação pode se tornar mais favorável ao Palácio do Planalto. Torna perfeitamente dispensáveis, por exemplo, o PR, sigla que
Dilma já defenestrou do Ministério dos Transportes, ou o grupo estimado em cerca de 20 deputados liderado pelo deputado Eduardo Cunha (RJ), do PMDB. "Com independência, podemos funcionar como poder moderador", diz o deputado
Paulo Bornhausen (SC).
O
PSD não vai formar um bloco com o PSB (31 deputados), apesar da aliança tácita existentes entre as duas siglas. Juntos, os dois partidos formariam uma bancada maior que a do PMDB. Mas isso retiraria o caráter de "independência" que os pessedistas pretendem imprimir à atuação do partido, como promete o prefeito de São Paulo e presidente da nova sigla,
Gilberto Kassab. "Isso nos liquidaria. Nós viraríamos um partido do governo, o que nós não queremos", afirma o secretário-geral
Saulo Queiróz.
Os pessedistas, no entanto, esperam se tornar um elemento de estabilização da base de apoio ao governo
Dilma Rousseff. "É possível montar uma agenda da sociedade e com isso conectar com o que o governo tem de boas intenções mas não consegue fazer seja por pressões fisiológicas, sejam elas corporativas", diz
Queiroz.
Assim como não quer participar de um bloco da base do governo, está fora das cogitações do PSD também aceitar eventual convite para integrar o ministério, na reforma prometida pelo governo para o início do próximo ano. Segundo o próprio
Kassab disse a Dilma, o PSD será integrado por quem apoiou a candidatura presidencial da petista, mas também por seguidores de
José Serra (PSDB).
Independente, o PSD por outro lado espera contar com o apoio da presidente a seus governos nos Estados (Santa Catarina e Amazonas) e nos municípios, especialmente à gestão de
Gilberto Kassab, em São Paulo. A prefeitura paulistana é o principal posto do novo partido, que espera manter o território sob sua jurisdição nas eleições de 2012. Kassab conhece bem as dificuldades de um prefeito - mesmo que seja da maior cidade do país - eventualmente boicotado pelo poder central, como aconteceu com colegas seus no governo passado.
O candidato do partido à sucessão de Gilberto Kassab é o atual vice-governador de São Paulo,
Guilherme Afif Domingos, também um dos idealizadores do PSD. O problema é que
Afif tem dito que não tem intenção de disputar a prefeitura. "Estamos mudando para São Paulo a fim de ajudar sua campanha", disse a
Afif o secretário
Queiroz, na primeira reunião da Executiva Nacional do partido.
Afif respondeu que sua intenção é viajar pelo país para propagar a mensagem do PSD - ele presidirá a futura fundação do partido.
Saulo, no entanto, diz que "é quase uma missão partidária", a partir de agora, pressionar Afif a ser o candidato a prefeito de São Paulo. O vice-governador passou 16 anos afastado da vida pública, voltou na eleição para o Senado de 2006, que perdeu mas chegou a ameaçar o favoritismo do senador
Eduardo Suplicy (PT-SP). "Nós vamos pressionar tanto que ele não tem nem ideia", diz
Saulo Queiroz.
Oficialmente, 48 deputados se filiaram ao partido e tornaram pública sua adesão ao PSD, independentemente dos riscos envolvidos na troca. Outros 17 preferiram não dar publicidade às assinaturas de apoio que deram a criação do novo partido, por temer represálias de suas siglas de origem, caso o projeto de Gilberto Kassab não vingasse. De acordo com
Queiroz, esse tipo de associação é prevista na legislação, foi comunicada e aceita pela relatora do processo no Tribunal Superior Eleitoral (TSE). O deputado
Reinhold Stephanes (PMDB-PR) é um dos que pensam em mudar.
Nos cálculos políticos de Kassab, o
governo Dilma tinha e ainda tem uma maioria artificial, porque "era um pouco cooptada". Com o ingresso do PSD no cenário político, o prefeito acredita que o ano de 2011 acaba com quatro grandes partidos políticos: o PT, o PMDB, o PSD e - na oposição - o PSDB
O "núcleo duro" da base, "aquela que não foi cooptada", seria formado por PT, PSB e PCdoB, com 132 deputados. Afora esses, há uma centena que deixaram de ser cooptados e a partir de agora passarão a ter uma relação mais cuidadosa com o governo, entre os quais Kassab inclui boa parte do PMDB. Principalmente depois da troca no Ministério da Agricultura, que permaneceu com os pemedebistas, mas sem porteira fechada e nas mãos de um nome mais próximo da presidente da República.
"Acho que a relação dela (presidente Dilma) ficará mais saudável no Congresso", afirma Gilberto Kassab. "Não dá para partido mandar em governo, e ela também não aceita não comandar. Eu faço assim aqui na prefeitura, o Mário Covas e o José Serra fizeram no governo do Estado". Como não vai reivindicar cargos, o PSD acredita que ajudar Dilma a avançar em projetos que ferem interesses corporativos ou fisiológicos, por exemplo. "Nosso compromisso com ela é apoiar sem exigir nada em troca. Nós não vamos constrangê-la", diz
Saulo Queiroz.
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Projeção do PSD de 58 deputados ultrapassaria PSDB com 3ª maior bancada - Instituto Humanitas Unisinos - IHU