No desfile em comemoração à Independência do país vão faltar cerca de 10 mil alunos. A ausência faz parte de um protesto idealizado por professores das redes estadual e municipal de
São Lourenço do Sul, no sul do Estado do Rio Grande do Sul, que decidiram boicotar a marcha como forma de reivindicar a implantação do piso nacional. Sem escolha, os estudantes que quiserem homenagear a pátria terão a única opção de participar de um ato cívico fechado, dentro do prédio de cada uma das 59 escolas envolvidas.
A reportagem é de
Joice Bacelo e publicada pelo jornal
Zero Hora, 07-09-2011.
Adecisão inédita e isolada no Estado virou motivo de discussão. De todas as instituições da rede pública, apenas três vão participar do desfile na Avenida Júlio de Castilhos, que ocorre hoje, a partir das 9h.
– Vamos desfilar mesmo sem o apoio da classe. Não acho ético a luta dos professores servir como empecilho à vontade dos alunos – contesta a diretora da escola de Educação Infantil Raio de Luz,
Aline Ribeiro, 31 anos, sem o apoio de colegas, mas com o suporte de pais dos alunos.
Para a faxineira
Márcia Alves, 37 anos, deixar de levar o filho para o desfile seria como interferir diretamente na vida escolar da criança. Desde agosto eles realizam reuniões para organizar a passagem pela avenida. O pequeno
Willian, filho de Márcia, vai desfilar em uma bicicleta enfeitada especialmente para o Dia da Independência.
Tanto o Conselho Tutelar quanto a Coordenadoria Regional de Educação e a Secretaria de Educação do município não interferiram na decisão dos professores. O desfile de 7 de Setembro é promovido pelo núcleo da
Liga de Defesa Nacional em São Lourenço do Sul. Todos os anos é enviado um convite às escolas, que podem aceitar ou recusar a proposta.
– Eu nunca tinha visto isso acontecer na cidade. Todos os anos fazemos uma grande festa, só temos a lamentar. Pelos meus estudos, essa decisão é rara no país e, com certeza, vai abrir uma lacuna na história de São Lourenço – diz o presidente da entidade, tenente
Cláudio Soares.
O prefeito
José Nunes (PT) disse que só interferiria na decisão dos professores caso eles tivessem renegado a data, sem uma programação própria. Porém, cada escola fará uma atividade separada, no mesmo horário do desfile na Avenida Júlio de Castilhos, sem obrigar os estudantes a participar.
Entidades têm opinião divergente
Entidades ligadas à educação apoiam o protesto em
São Lourenço do Sul, cuja iniciativa foi do Sindicato dos Municipários local, como protesto e forma de pressionar o governo do Estado para a implantação do piso nacional. Para o presidente da Confederação Nacional dos Trabalhadores em Educação (CNTE),
Roberto Leão, a manifestação é válida por cobrar a promessa do governo de estabelecer o piso dos educadores em todo o país.
– A homenagem à pátria não se dá apenas pelo desfile. Se dá no cumprimento das leis aprovadas no Parlamento. Então, é um belo exemplo de patriotismo cobrar das autoridades, que inclusive vão estar no palanque, para que cumpram a lei – afirmou
Leão.
Presidente do Centro dos Professores do Rio Grande do Sul (Cpers/Sindicato),
Rejane de Oliveira acompanha a opinião da CNTE e acha a manifestação legítima.
Ainda que concorde com a manifestação dos professores pelo piso da categoria, o presidente da Liga de Defesa Nacional no Estado,
Floriano Gonçalves Filho, considera que a data não é apropriada.
– A reivindicação sempre é válida, mas esse é um dia em que a gente procura homenagear a pátria. São duas coisas bem diferentes. A pátria não são os governantes, e sim o povo. O pessoal confunde essas coisas, infelizmente – disse.
De acordo com a presidente do sindicato dos municipários,
Neda Maria Marth, os professores de São Lourenço recebem, por 40 horas, um salário de R$ 1.097, enquanto o piso é de R$ 1.187 e serve de base para os benefícios.
– Preferimos não fazer greve, isso sim prejudicaria os estudantes. A nossa intenção é lutar pela causa que vai levar para sala de aula um professor mais valorizado e motivado – explica.
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Professores gaúchos boicotam desfile de hoje na luta pelo piso nacional - Instituto Humanitas Unisinos - IHU