06 Agosto 2011
Dois anos depois do golpe de Estado contra o chefe de Estado Manuel Zelaya, o bispo de Santa Rosa de Copan, Dom Luis Alfonso Santos (foto), denuncia a oligarquia que detém as rédeas de Honduras, na América Central.
A reportagem é de Christine Renaudat, publicada no jornal La Croix, 05-08-2011. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
"A voz do povo é a voz de Deus" O bispo Luis Alfonso Santos acolheu com essas palavras o retorno ao país, no final de maio, do ex-presidente hondurenho,, Manuel Zelaya, depois de dois anos de exílio. Na sua homilia, o "bispo vermelho" usou palavras muito duras para condenar a oligarquia responsável, segundo ele, pelo ataque a Honduras e pelo golpe Estado de junho de 2009.
Aos 74 anos, ele encarna as divisões de uma sociedade hondurenha profundamente sacudida pelo golpe. "Ele vive em um outro mundo. Preferimos não falar a respeito", murmura-se nos corredores da Conferência Episcopal, em Tegucigalpa. O bispo Santos, para quem "não há outra teologia do que a da libertação", é o defensor dos milhares de pobres que vivem abaixo da linha da pobreza em Honduras. Alguns o consideram um possível candidato presidencial para 2013.
Próximo de Manuel Zelaya, de quem, porém, critica as tendências marxistas, ele poderia seguir os passos de Fernando Lugo, o bispo que se tornou presidente no Paraguai em 2008. É uma hipótese que ele não excluiu. "Se houvesse o caos, então talvez eu poderia prestar esse serviço", contentou-se em dizer, especificando que, acima de tudo, ele pretende se dedicar aos seus fiéis: "Eu trabalho pelos pobres e pelo povo das montanhas".
Há vários meses, ele defende os sem-terra de Aguan, no nordeste do país, contra o poderoso Miguel Facussé, grande proprietário de terras de Honduras. Trinta agricultores foram assassinados, dezenas deles tiveram que deixar a região. Com a barba branca tremendo de indignação, o bispo Santos acusou o clã de Facussé de "ter se enriquecido graças ao sangue dos pobres", razão pela qual foi ameaçado de ser processado.
Esse combatente, que também foi o primeiro a denunciar o saque e o desmatamento do seu país por parte das empresas de mineração, sabe que a classe dirigente não o ama. Ele também sabe que seus inimigos são muito influentes.
"Honduras pertence a quatro ou cinco famílias que detêm os meios de comunicação, os bancos e se apossaram do poder. O golpe de Estado de 2008 serviu para manter tudo isso", explica o sociólogo Roberto Briceño, em Tegucigalpa. "Os Facussé, os Lamas, os Canahuati não querem deixar o poder, porque ele lhes serve para os seus negócios. Esta última família, que vendia medicamentos ao Ministério da Saúde, possui dois grandes jornais. Hoje, um Canahuati é ministro das Relações Exteriores", cita como exemplo.
E os militares que os ajudaram a se livrar do presidente, de acordo com eles muito de esquerda, foram promovidos: um deles é o atual ministro das Telecomunicações.
É difícil para os hondurenhos denunciar as pressões. Neste ano, três jornalistas de oposição foram mortos. Os defensores dos direitos humanos, como Bertha Oliva, sofrem ameaças. "Desde que Honduras entrou novamente, em maio, para a Organização dos Estados Americanos, a comunidade internacional acredita que nós vivemos em paz. Não é verdade", assegura essa militante.
E, acima de tudo, diz o "bispo vermelho", os problemas de fundo desse país da América Central não foram resolvidos. "O fato de haver milhares de pessoas que não têm nada para comer, enquanto um punhado de homens tem de tudo, é algo que clama vingança diante de Deus", afirma com vigor.