24 Julho 2011
Nestes tempos, o fato de as três grandes religiões monoteístas em Jerusalém entrarem de acordo sobre qualquer coisa já é uma notícia. Mas que justamente nessa cidade decidam lançar um apelo conjunto aos líderes mundiais sobre a luta contra as mudanças climáticas – isto é, precisamente sobre uma das questões que hoje atormentam as diplomacias de meio mundo – é definitivamente incrível.
A reportagem é de Giorgio Bernardelli, publicada no sítio Vatican Insider, 22-07-2011. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
Esse é o objetivo de uma iniciativa que será apresentada em Jerusalém no próximo 25 de julho. Com o apoio de nomes muito respeitados das comunidades judaicas, cristãs e muçulmanas da Cidade Santa.
A iniciativa chama-se Holy Land Declaration on Climate Change [Declaração da Terra Santa sobre as Mudanças Climáticas] e visa especificamente à Conferência Internacional do Clima programada para Durban, África do Sul, no próximo mês de novembro, que será a continuação das conferências realizadas em Copenhague em 2009 e em Cancún em 2010, ambos encerradas sem aquele acordo sobre a redução das emissões de gases do efeito estufa que o Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC) – encarregado pela ONU de monitorar o fenômeno – considera indispensável para combater verdadeiramente o aquecimento global.
Em vista do encontro de Durban, um grupo de organismos de diversas confissões está se mobilizando em diversos países do mundo para solicitar que os líderes religiosos entrem em campo em favor dessa batalha. Eles gostariam de ir pessoalmente a Durban para pressionar os políticos e também escreveram uma carta com esse convite para o papa, o patriarca ecumênico de Constantinopla, Bartolomeu I, e para o Dalai Lama.
Enquanto isso – no entanto –, acolheram um primeiro resultado significativo em Jerusalém, com a adesão do Council of the Religious Institution of the Holy Land, órgão que reúne em uma mesma mesa o Grão-Rabinato de Israel, o ministério palestino dos Assuntos Religiosos, as Cortes Islâmicas e os chefes das Igrejas cristãs de Jerusalém.
Dos debates internos desse pequeno parlamento das religiões nasceu a declaração comum que, na segunda-feira 25 de julho, será apresentada oficialmente pelo patriarca latino de Jerusalém, Fouad Twal, pelo vice-ministro palestino de Assuntos Religiosos, Haj Salah Zuheika, e pelo rabino David Rosen, diretor de Assuntos Religiosos do American Jewish Committee, uma das organizações judaicas mais importantes do mundo. O evento será realizado – não por acaso – no American Colony, o hotel de Jerusalém que é o quartel general da imprensa estrangeira.
Essa ação dos líderes religiosos da Terra Santa é um verdadeiro endosso do programa do IPCC: "Reconhecemos – diz a declaração – as evidências científicas das mudanças climáticas provocadas pelo homem e a ameaça que elas representam para as sociedades humanas e para o planeta, como explicado pelo Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas das Nações Unidas. E reconhecemos também as raízes espirituais dessa crise e a importância de oferecer uma resposta religiosa".
Daí o convite para realizar um "profundo repensamento sobre a própria relação espiritual e física com este planeta dado por Deus e sobre como consumimos, usamos e dispomos dos seus recursos abençoados". Mas os líderes religiosos – muito concretamente – também pedem aos fiéis que "reduzam as suas próprias emissões pessoais de gases do efeito estufa e que solicitem aos seus próprios líderes políticos que adotem objetivos fortes, vinculantes e cientificamente motivados para a redução dos gases do efeito estufa, de modo a evitar os piores perigos das crises climáticas".
Por trás dessa reviravolta verde das religiões na Terra Santa, está sobretudo a mão de um jovem rabino, nascido na Califórnia e imigrado para Israel em 2003: chama-se Yonatan Neril (foto) e tem sobre as costas uma graduação na Universidade de Stanford justamente sobre as questões ambientais. Ele tem um blog ambientalista intitulado Jewcology e, em Jerusalém, é o diretor do Interfaith Center for Sustainable Development, que promoveu a declaração conjunta.
Neril olha para a Conferência do Clima de Durban, mas também para a emergência ambiental na Terra Santa, porque, no Oriente Médio, a escassez de água é um problema que se sente cada vez mais, e Israel e a Palestina poderiam, no fim, ser vítimas das mudanças climáticas.
Por esse motivo, o rabino que veio da Califórnia também tem em mente um outro projeto, ainda mais ambicioso: desenvolver em Jerusalém uma rede de jovens líderes judeus, cristãos e muçulmanos sensíveis à questão do ambiente. Para que – depois de ter sido tão contestada reciprocamente – chegue o dia em que se comece a defender esta terra que todos, da boca para fora, chamam de santa.
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Terra Santa: a mudança verde das religiões - Instituto Humanitas Unisinos - IHU