A economia dos Estados Unidos pode afundar numa recessão mais profunda do que a do segundo semestre de 2008 se o Congresso americano não elevar o teto da dívida pública do país, de US$ 14,3 trilhões. Nos cálculos do economista
Michael Etllinger, vice-presidente do Centro para o Progresso Americano, o Produto Interno Bruto (PIB) do país despencará para 2,3% negativos, em termos nominais, em agosto e setembro próximos.
A reportagem é de
Denise Chrispim Marin e publicada pelo jornal
O Estado de S. Paulo, 18-07-2011.
Essa retração na produção doméstica compensaria um inevitável cumprimento dos compromissos externos, por parte do governo americano. Porém, causaria um dano catastrófico para a economia dos EUA e do resto do mundo. "Enquanto
Barack Obama for o presidente e
Tim Geithner, o secretário de Tesouro, os EUA vão honrar sua dívida externa. Eles vão encontrar os recursos para rolar os compromissos de curto prazo e/ou para pagá-los, efetivamente, mesmo com maior sacrifício no âmbito doméstico", afirmou
Ettlinger.
Segundo ele, não existe "plano B", para o caso de o acordo não ser fechado pelos líderes republicanos e democratas do Congresso até o próximo dia 2 de agosto. No último dia 14, o porta-voz da Casa Branca,
Jay Carney, havia dito que a equipe de
Obama preparava essa alternativa. Se não o fizesse, insistiu
Carney, seria uma "irresponsabilidade". Para o economista, entretanto, não podem ser chamadas de "plano B" as únicas possibilidades. "Priorizar credores externos, manter a casa em ordem, dar o calote nas despesas sociais e de defesa e evitar que as coisas horríveis se tornem catastróficas."
Brasil
Como o impacto desse cenário se estenderia mundo afora, a exemplo das Depressões dos anos 30 e de 2008,
Etllinger acredita na "generosidade" de países com amplas reservas internacionais e/ou fundos soberanos. A
China seria uma óbvia fonte de ajuda. Mas o economista também considera possível uma iniciativa do
Brasil.
Em sua opinião, não interessa a nenhuma economia, especialmente às emergentes, conviver de novo com a queda das importações americanas e dos preços das commodities, com outro risco de colapso no sistema financeiro e com uma segunda queda na atividade mundial em apenas três anos. O socorro do
Fundo Monetário Internacional, ainda que possível, seria uma alternativa mais remota, para
Ettlinger.
Conforme avaliou, não passaram de "blefes" as advertências das agências de classificação de risco
Moody"s e
Standard & Poor"s e do governo da
China, na semana passada. As agências alertaram sobre a inevitável redução da nota da dívida pública americana - até ontem, ainda a mais alta - se o acordo sobre a elevação do teto não for concluído. O governo chinês apelou para o dever dos EUA de proteger seus credores externos. "Esses anúncios foram feitos apenas para pressionar os negociadores."
Apesar de considerar esse quadro mais pessimista e calcular seu efeito no PIB americano,
Ettlinger acha provável o acordo entre os líderes do Congresso sobre a elevação do teto da dívida pública. A questão crucial, emendou, é saber se o acerto virá acompanhado por um pacote fiscal vigoroso. Em sua opinião, esse pacote poderá até mesmo permitir o aumento temporário de despesas com medidas fiscais de estímulo produtivo de curto prazo. Sem esse mecanismo, o
Federal Reserve não terá saída senão adotar novas medidas de expansão monetária, na linha das que vigoraram até junho, para dar impulso à atividade econômica. Na semana passada, o presidente do
Federal Reserve (Fed, o banco central americano), Ben Bernanke, indicou essa possibilidade, mas recuou no dia seguinte. Segundo
Ettlinger, a economia americana ainda está emitindo "sinais ambíguos".
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Crise dos EUA pode ser pior do que a de 2008 - Instituto Humanitas Unisinos - IHU