19 Março 2011
Oportuno. Não há outra palavra para qualificar o lançamento nesta semana, em São Paulo, de "Energia Nuclear - do Anátema ao Diálogo" (ed. Senac), justamente após os graves eventos na usina nuclear de Fukushima, no Japão. Eventos com potencial para conduzir parte do mundo a um risco sem precedentes na história.
A reportagem é de Agnaldo Brito e publicada pelo jornal Folha de S. Paulo, 19-03-2011.
Com textos de quatro especialistas, o livro de 131 páginas - organizado por José Eli da Veiga, professor titular do Departamento de Economia da FEA-USP (Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade da Universidade de São Paulo) - acaba de sair do forno.
Nele, duas visões diametralmente opostas e uma ponderação (a do organizador) trazem um debate rico em dados que nos instiga a responder à questão que aflige o homem desde que Otto Hahn mostrou possível um nêutron dividir o núcleo de um átomo (fissão nuclear): essa energia é uma opção para a humanidade?
O livro diz sim e diz não. Afora as incertezas (que não são poucas), a defesa de parte a parte é consistente. A sucessão de eventos pós-terremoto e pós-tsunami no Japão pesa a favor do não. Mas a defesa do sim tem argumentos que levam à reflexão.
O físico José Goldemberg e o assessor técnico da Secretaria Estadual de Meio Ambiente de São Paulo, Oswaldo dos Santos Lucon, consideram que as apostas dos governos (sobretudo os de países em desenvolvi- mento) são um erro.
Argumentam que o custo de um reator (de sua construção ao seu desmantelamento - uma exigência ao final da vida útil) não está devidamente mensurado no mundo. O acondicionamento de rejeitos de baixa, média e alta atividades radioativas é algo ainda não resolvido, mas sabidamente custoso.
Segundo os autores, os EUA constroem há 25 anos o único depósito geológico definitivo do mundo, em Yucca Mountain, em Nevada. O projeto já consumiu US$ 38 bilhões e não está pronto.
Mais: é projetado para 70 mil toneladas de rejeitos, mas os 104 reatores ativos nos EUA já produziram 49 mil toneladas desse lixo indesejável, hoje acondicionado em piscinas especiais espalhadas pelo território.
O Brasil nem sequer tem um plano concreto para resolver o destino definitivo dos rejeitos de Angra 1 e 2, mas o Ibama determinou que o país só poderá ligar Angra 3 (em construção) se disser como vai resolver a questão do lixo atômico.
Os autores também acham que a contabilidade sobre emissões evitadas de gases de efeito estufa com a ener- gia nuclear não é bem apurada. Era esse, aliás, o argumento mais atual para justificar a retomada dos projetos de usinas atômicas.
João Roberto Loureiro de Matos, diretor do CDTN (Centro de Desenvolvimento da Tecnologia Nuclear), e Leonam dos Santos Guimarães, assistente do diretor-presidente da estatal Eletronuclear, consideram a energia nuclear a grande solução para o atendimento da demanda mundial de eletricidade.
MAIS ENERGIA
O crescimento da população mundial (que deve alcançar 9 bilhões de seres humanos em 2050) exigirá do planeta um volume estratosférico de energia. Sem uma opção tecnológica mais limpa (do ponto de vista das emissões), haverá um gran- de problema.
"A humanidade há de consumir mais energia do que o total utilizado em toda a história passada. (...) A concentração intensificada de gases de efeito estufa vai chegar a um ponto sem retorno, em direção a uma catástrofe climática", escrevem os autores.
E arrematam: "A raça humana não pode alcançar uma revolução global de energia limpa sem uma imensa expansão de energia nuclear".
Pode ser energia para os carros elétricos, mas pode ser também para garantir a produção em escala de água dessalinizada, quem sabe a única forma, no futuro, de garantir suprimento de água doce para a humanidade.
Enfim, diante de uma inoportuna catástrofe, um oportuno livro.
ENERGIA NUCLEAR - DO ANÁTEMA AO DIÁLOGO
AUTOR José Eli da Veiga (org.)
EDITORA Senac
QUANTO R$ 35 (131 págs.)
FECHAR
Comunique à redação erros de português, de informação ou técnicos encontrados nesta página:
Livro disseca números e ideias sobre energia nuclear - Instituto Humanitas Unisinos - IHU