16 Janeiro 2011
A instituição nasceu em 1603 como a originária Academia dos Linces, e, quando Pio XI lhe deu o novo novo e novos estatutos, no motu proprio e 1936 "In multis solaciis", ele explicou que, na escolha dos cientistas, "tocaram-nos os louvores que em favor dos seus nomes provinham, com unânime consenso e aplauso, do mundo dos doutos" e "nas diversas nações": o valor como critério essencial, sem discriminações, também para além do "preciosíssimo dom da fé católica".
A reportagem é de Gian Guido Vecchi, publicada no jornal Corriere della Sera, 16-01-2011. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
O sentido da cultura, a abertura universal ao conhecimento: o espírito da Pontifícia Academia das Ciências – 80 membros, dentre os quais 36 prêmios Nobéis e personalidades como Rita Levi Montalcini, Carlo Rubbia ou Stephen Hawking – teve o seu coroamento neste sábado, com Bento XVI, que decidiu, pela primeira vez em quatro séculos, nomear à sua cúpula um cientista não católico. O novo presidente da Academia é o suíço Werner Arber, 81 anos, cristão protestante reformado e prêmio Nobel de Medicina de 1978: professor emérito de microbiologia da Universidade de Basileia, Arber foi premiado em Estocolmo junto com Hamilton O. Smith e Daniel Nathans pelas suas pesquisas no campo da genética.
Particularmente, dedicou-se ao estudo do mecanismo de defesa da célula bacteriana com relação aos vírus: a sua obra está ligada à descoberta de enzimas particulares, as endonucleases de restrição, que podem ser empregadas no estudo da organização genética e que abriram caminho para engenharia genética. O professor Arber sucede um outro grande cientista, o físico italiano Nicola Cabibbo, que havia presidido a Academia desde 1993 e faleceu no dia 16 de agosto do ano passado.
Além disso, Arber é acadêmico pontifício desde 1981 e conselheiro desde 1995. "Você não pode imaginar quantos e-mails e telefonemas de felicitações recebemos", sorri o bispo e chanceler da Academia, Marcelo Sánchez Sorondo: "O Santo Padre fez um gesto lúcido, corajoso, inteligente: escolheu um não católico, embora cristão e crente, avaliando as suas qualidades científicas e a sua experiência". Porque este é o espírito: "Desde que o príncipe Federico Cesi a criou, sob Clemente VIII, se queria dar vida a um `Senado científico` para a Santa Sé, como dizia Pio XI: da evolução à definição da morte, discute-se livremente sobre tudo, a Igreja acompanha os últimos desenvolvimentos, buscam-se critérios comuns nas questões emergentes".
Quanto aos critérios para se ser admitido à Academia, explica o chanceler, são essencialmente dois. "Escolhem-se pesquisadores que sejam fora do ordinário em seu campo e, ao mesmo tempo, representantes de todos os ramos das ciências naturais, além de todo o mundo". E isso, como diz João Paulo II, "sem nenhuma forma de discriminação étnica ou religiosa". Nenhuma escolha confessional para os acadêmicos pontifícios: basta – é o mínimo – que não haja hostilidade à Igreja e à fé.
Assim, a história da Pontifícia Academia é uma espécie de compêndio da história da Ciência: de Galileu aos gênios do século XX como Guglielmo Marconi, Max Planck, Erwin Schrödinger ou Alexander Fleming.
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Ratzinger escolhe protestante para guiar a Academia das Ciências - Instituto Humanitas Unisinos - IHU