11 Janeiro 2011
A enciclopédia dos paradoxos festeja 10 anos vividos voluntariamente. Embora já se tenha explicado mil vezes, que já seja teoricamente claro como todos podem colaborar, iniciar um verbete que depois será afinado por meio de um processo de controle coletivo, ainda continua um grande mistério como isso se realiza na prática. "Credo quia absurdum". Funciona.
A reportagem é de Riccardo Staglianò, publicada no jornal La Repubblica, 11-01-2011. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
E, em 10 anos, passou e 0 para 3,5 milhões de artigos, em inglês, e mais de 750 mil em italiano [e mais de 666 mil em português]. Jimmy "Jimbo" Wales, 44 anos, do Alabama, filho e neto de professores montessorianos, rico investidor da Bolsa de Chicago – e pioneiro da Internet com um portal porno-soft antes de aportar na ideia de uma enciclopédia para todos e feita por todos – nos conta por telefone, de Londres, como se sente às vésperas desse importante aniversário.
Eis a entrevista.
Você esperava esse crescimento extraordinário?
Certamente não. Ainda me entusiasmo por como tantas pessoas extraordinárias em todo o mundo contribuem para tornar a Wikipédia esse inigualável acúmulo de saber que ela se tornou.
O que você imagina para o seu futuro?
Um forte crescimento nos países em desenvolvimento. Continua sendo fiel à minha ideia original: criar e distribuir uma enciclopédia gratuita da mais alta qualidade possível a toda pessoa do planeta na sua língua.
E, no âmbito multimidiático, você prevê desenvolvimentos decisivos?
Com o risco de lhe desiludir, eu lhe digo que não. Haverá um pouco mais de conteúdos em áudio e vídeo, mas nada de importante. As pessoas não os pedem, e nós acreditamos que, como instrumento de disseminação do conhecimento, o texto é imbatível.
Desde 2003, quando ela foi absorvida pela Wikimedia Foundation, a Wikipédia é uma organização sem fins lucrativos. Já pensou que você poderia ser verdadeiramente rico se tivesse feito outras escolhas?
Não, nunca repensei. É claro que se eu a tivesse vendido teria feito muito dinheiro, mas isso quase seguramente teria freado o seu crescimento. E, portanto, teria mudado a sua natureza.
Porém, como todos os anos neste período, os usuários da Wikipédia veem o seu rosto sorridente que pede que se coloque a mão no bolso para ajudar a sua criatura a permanecer independente. Não teria sido tudo imensamente mais fácil aceitando a publicidade?
Não tenho nada contra a publicidade nas revistas comerciais. Este, porém, é um lugar especial, em que as pessoas vêm para aprender e pensar. E, em um lugar assim, a meu ver, a publicidade não deveria ter cidadania. É verdade que dependemos das doações, mas neste ano também conseguimos, recolhemos 16 milhões de dólares. E estou confiante que continuaremos assim.
Mas de quanto dinheiro vocês precisam para funcionar?
Em 2003, a primeira coleta de fundos reuniu 20-30 mil dólares. Em 2009, foram 10,5 milhões. O ano de 2010 irá concluir com uma cifra semelhante, que serve para pagar os servidores e as 35 pessoas da equipe.
A propósito, como é possível que tantas pessoas trabalhem gratuitamente para vocês?
Acredito que se deve entender bem o conceito. Ninguém gosta de trabalhar gratuitamente, nem as milhares de pessoas que contribuem com o nosso site. Não é um trabalho, porque não é um dever e se divertem com isso. A sua recompensa é em termos de aprendizagem. E também de encontro de pessoas novas e interessantes.
De que tamanho é essa comunidade de voluntários?
Qualquer um pode participar, mas grande parte do trabalho é feito por cerca de 1% do total dos colaboradores.
O que você responde a quem objeta que a Wikipédia não é confiável?
Que a média de erros em um verbete da Britannica é três e na Wikipédia, quatro. Não lhe parece muito pelo preço pago?
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Wikipédia: "Agora, queremos crescer nos países em desenvolvimento" - Instituto Humanitas Unisinos - IHU