10 Junho 2016
"Agora, podemos ter a certeza de que a crise é mais grave do que acreditávamos. Ela atacou aquilo que a população mais teme: a retirada do seu emprego", destaca Adrimauro Gemaque, articulista e Analista do IBGE, em artigo publicado por EcoDebate, 09-06-2016.
Eis o artigo.
Este cenário já estava traçado. Um estudo do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getúlio Vargas (Ibre/FGV), divulgado em 28 de dezembro de 2015, apontava para a dura realidade atual, onde indicava que os custos da recessão seriam mais pesados em 2016.
O estudo já mostrava a perspectiva que, em termos numéricos, seriam pulverizados mais 2,2 milhões de empregos formais neste ano, depois de uma perda estimada em 1,6 milhão em 2015. Portanto, em apenas dois anos seriam suprimidos quase 4 milhões de empregos com carteira assinada em todo o país. Esta queda no nível de emprego tem reflexo no “consumo das famílias”, que na ocasião já era possível perceber com a desaceleração na aquisição de bens duráveis, como eletrodomésticos e automóveis.
Para os especialistas, o que estamos vivendo neste momento é um saldo de 2015 e, o pior, caso a retração econômica continue, a mesma dificuldade em 2017 não está descartada. O risco é exatamente que o quadro negativo de 2016 contamine 2017. A crise política também contribui decisivamente para este ambiente catastrófico da economia.
Dados do Cadastro Geral de Empregados (Caged), divulgados no dia 25/05 relativos a abril pelo Ministério do Trabalho, apontam recuo no fechamento de vagas de trabalho no país. No mês de abril de 2016 foi fechado 62.844 postos de trabalho com carteira assinada. Porém, estes números são menores se comparados ao mês anterior que foi de 118.776. Os dados do Caged mostram que quase todos os setores apresentam queda. Nos quatro primeiros meses deste ano, o país perdeu 378.481 empregos formais. Nos últimos 12 meses, já foram reduzidas 1.825.609 de vagas formais. Os números levam em conta a diferença entre demissões e contratações.
O IBGE divulgou em 31 de maio dados da pesquisa PNAD Contínua que mede a taxa de desocupação no país que ficou em 11,2%. A taxa é a maior já registrada pela série histórica do indicador, que teve início em janeiro de 2012. Se o número de desocupados aumenta, diminuiu o número de empregados. No trimestre encerrado em abril, a população ocupada somou 90,6 milhões de pessoas, indicando uma queda de 1,1% sobre o trimestre anterior e de 1,7% sobre o mesmo período do ano passado.
Vale a pena destacar alguns dados contido na pesquisa PNAD Contínua. Três grupos de atividade apresentaram queda importante na ocupação, frente ao trimestre anterior: indústria em todos os seguimentos (3,9%), comércio (1,7%) e construção (5,1%). A indústria em geral registrou queda de 11,8% comparado ao mesmo período de 2015. O rendimento médio real recebido pelos que estão trabalhando chegou a R$ 1.962. Caiu em comparação com 2015 (3,3%).
Dados do Caged, divulgados em fevereiro, apontam que o Amapá perdeu 4,6 mil empregos em 2015, foi o pior resultado em 12 anos. O ano fechou com a eliminação de 4.688 postos de trabalho ao longo dos 12 meses, o pior registrado no Estado desde 2003. Ainda de acordo com o relatório do Caged, o comércio amapaense teve queda de 12% no varejo. Com isso, foi o responsável pela maioria das demissões acumuladas em 2015. Perderam o emprego 1.593 pessoas. A construção civil (-1.348) e serviços (-770) completam o ranking negativo. Com este resultado, o Amapá ficou no vermelho pela segunda vez seguida. Em 2014, foram demitidas 1.914 pessoas. Antes dos balanços negativos, o pior registro desde quando a pesquisa começou a ser realizada pelo Caged ocorreu em 2003, quando 1.325 trabalhadores foram empregados. O melhor ano foi em 2011, com saldo de 7.256.
Dados da PNAD Contínua (IBGE), referente ao 1º trimestre de 2016, apontam que o Amapá apresentava 552 mil pessoas em idade de trabalhar (14 anos ou mais). Dessas, 338 mil estavam na força de trabalho: sendo 290 mil ocupadas e 48 mil pessoas desocupadas. havia 214 mil pessoas de 14 anos ou mais de idade fora da força de trabalho. No que se refere a ocupação a ocupação, o setor privado perdeu 12 mil trabalhadores com carteira assinada. Uma redução de 14% em relação ao mesmo período do ano anterior.
A taxa de desocupação é investigada pela PNAD Contínua (IBGE) e busca saber se os entrevistados tiveram algum tipo de trabalho remunerado na semana anterior, mesmo que seja informal e muito aquém de suas reais necessidades.
No Amapá, a taxa de desocupação do Amapá no 1º trimestre de 2016 foi a 2ª mais alta do país, perdendo somente para a Bahia (15,5%) e apresentando a mesma taxa que o Rio Grande do Norte (14,3%), porém, está acima da média nacional que é de 11,2%, de acordo com o IBGE. Já o rendimento médio sofreu decréscimo de R$ 41 em relação ao mesmo período do ano anterior, caindo de R$ 1.915, para R$ 1.874 e ficou abaixo da média nacional que foi de R$ 1.962.
A intenção de mostrar a evolução destes dois importantes indicadores fornecidos pelo Caged e pela PNAD contínua é justamente para dimensionar a extensão da crise que afeta a vida das pessoas, que é o desemprego em todo o país.
O certo é que a crise chegou às ruas, está estampada nos rostos da população, tem nome, RG e CPF. Ela se chama João, Antônio, Maria, Francisco, Ana, José. Todos estes cidadãos ajudam a formar o contingente de 11,2% da população brasileira que encontra-se fora do mercado de trabalho, ou seja, desocupada e sem esperança. Esta situação é visível Brasil afora, comprovada nos telejornais quando é anunciado vagas de emprego ou cadastro reserva. As filas rodam os quarteirões em busca de qualquer tipo de trabalho que amenize a situação econômica.
Agora, podemos ter a certeza de que a crise é mais grave do que acreditávamos. Ela atacou aquilo que a população mais teme: a retirada do seu emprego. É ele que torna possível o sustento de sua família e a superação das dificuldades do dia a dia. O desemprego é o pior dos castigos! Mata os sonhos e destrói a cidadania.
Referências:
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A crise está estampada nos rostos da população - Instituto Humanitas Unisinos - IHU