22 Outubro 2019
Na nova edição do Relatório de Imigração da Caritas-Migrantes, apresentada há alguns dias, aparece uma pesquisa inédita de Simone Varisco sobre a relação que liga os usuários italianos do Twitter e a conta oficial do Papa, @Pontifex_it. E nessa relevante questão, na prática nunca antes enfrentada com seriedade e fundamento, fizemos algumas perguntas a Simone Varisco.
A entrevista é publicada por Il Sismografo, 21-10-2019. A tradução é de Luisa Rabolini.
"Palavras e temores: dos tweets do Papa ao contexto italiano", este é o título do estudo. Por que essa pesquisa?
Os últimos anos, também para a Igreja Católica, são caracterizados pela tentativa de mudar - poderíamos dizer de evangelizar - a narrativa predominante das migrações, hoje principalmente hostil. A isso corresponde, durante 2018 e o primeiro semestre de 2019, uma crescente fratura em termos de migração, especialmente na sociedade italiana, também em seu componente cristão e até na própria hierarquia eclesiástica. Trata-se de uma dinâmica que muitas vezes é amplificada pela mídia nacional e internacional, mas que realmente existe. Após seis anos do pontificado de Francisco, é evidente que o clima social, político e, de certa forma eclesial em relação a ele, especialmente em termos de migração, mudou.
O que evidencia a sua análise?
O principal elemento é a peculiar intolerância, quase única a nível internacional, dos usuários italianos do Twitter em relação a mensagens de Francisco que tratam de imigração. Deixe-me explicar melhor. No momento do meu levantamento, a conta italiana @Pontifex_it tinha pouco menos de 5 milhões de seguidores, em comparação com mais de 18 milhões da conta em inglês @Pontifex e mais de 17 milhões na conta em espanhol @Pontifex_es, os dois mais seguido em todo o mundo. Pois bem, se não é surpreendente que os retweets e as "curtidas" sejam menos numerosos na conta italiana, não é o caso das respostas às mensagens do papa, que são mais do que as contas de língua inglesa e de língua espanhola. Deixo os detalhes para quem tiver a bondade de ler a pesquisa, mas, para resumir, podemos dizer que os italianos gostam menos, compartilham menos, mas respondem mais às mensagens do Papa. Mas como eles respondem? Pelo tom das respostas, de maneira desfavorável: uma parcela não desprezível das interações é, de fato, é crítica ou provocadora em relação a Francisco, até a extremas derivas de violência verbal e vulgaridade mesquinha. Como mencionado, trata-se de um caso único em nível internacional, sobre o qual valeria a pena refletir.
Podemos dar as porcentagens dos "a favor" e "contra"?
Poderíamos, mas seria duplamente um erro. De fato, em primeiro lugar, é impossível estabelecer com precisão quantas das interações, positivas ou negativas que sejam, foram escritas por pessoas reais e quantas por "bots", que, para simplificar, podemos definir como software de resposta automática que imita as interações humanas. Em segundo lugar, correríamos o risco de transformar as contas no Twitter do Papa, instrumentos importantes para o que Bento XVI havia definido como uma diaconia da cultura no continente digital, em um referendo sobre a aprovação dos Pontífices. Já seria um erro em si, mas seria ainda mais se as respostas, como mencionado, não representam o cenário italiano com total realismo.
Apesar disso, no entanto, a pesquisa mantém seu valor.
Exatamente: que a expressar sua oposição a Francisco sejam usuários reais ou "bots", é sempre um indicador. Mesmo por trás do uso massivo desses softwares, de fato, existem objetivos específicos, por exemplo, de desacreditar, que são tudo menos desprovidos de vontade. Os "bots" são apenas um instrumento automatizado, mas usados para perseguir interesses de pessoas muito reais.
Com quais efeitos?
Francisco provavelmente diria: a condenação a permanecer prisioneiros dos próprios muros que ajudamos a erguer. Colaborando para montar artificialmente uma oposição ao Papa que existe sim, mas que se quer exaltar.
O que mais o seu estúdio evidencia?
Entre outras coisas, uma situação quantitativa objetiva: o Papa no Twitter não fala tanto sobre imigração quanto alguns gostariam dar a entender. Ele trata disso em menos de 5% de seus tweets. Fala muito menos, por exemplo, de alguns políticos que, de maneira oposta, fizeram desse argumento uma bandeira ideológica, curiosamente sem, no entanto, suscitar a intolerância no público. Mas há mais: tomando como referência algumas palavras-chave, o número de referências de Francisco às migrações é muito inferior aos apelos ao Evangelho, aos quais uma parte da comunidade católica, ou que se define como tal, parece se contrapor.
Ou seja?
Vale a pena esclarecer: é um erro grave opor o tema da imigração àqueles do evangelho e da bioética. É uma atitude ideológica que, de maneira oposta, não pertence apenas aos chamados "conservadores", e uma antítese que não tem sentido de existir: quer se trate de defesa da vida, seja ela no nascimento ou no sofrimento, pobre ou vítima do consumismo, migrante ou geograficamente estável, isso pouco importa, ou pouco deveria importar. É o próprio Cristo que se aproxima de famintos, sedentos, estrangeiros, pobres, doentes e presos, assim como, no Antigo Testamento, é feito com viúvas, órfãos e forasteiros. Não podemos selecionar - e, assim, descontextualizar - apenas o tema que mais nos agrada.
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"Palavras e temores: dos tweets do Papa ao contexto italiano" - Instituto Humanitas Unisinos - IHU