18 Março 2019
Golpe após golpe, nós enfileiramos as desilusões. Mas se o fenômeno midiático tem um efeito de acumulação, também tem um efeito insidioso de varrer. Em apenas duas semanas, a condenação do cardeal Barbarin varreu o documentário sobre os abusos cometidos contra as freiras, que apagou a condenação do cardeal Pell e, antes dela, a reunião sobre os abusos no Vaticano, que, por sua vez, varreu as revelações do livro Sodoma. Alguns podem aconselhar a tirar vantagem disso.
A reportagem é de Erwan Le Morhedec, advogado e ensaísta, publicada por La Vie, 12-03-2019. A tradução é de André Langer.
O conservadorismo e a capacidade de inércia de uma instituição de dois mil anos se acomodariam bem a isso, os reflexos defensivos daqueles que se descobrem minoritários e se sentem sitiados levariam de bom grado a isso. Mas se não somos do mundo, se quisermos ler novamente sem envergonhar o Evangelho que amamos, se quisermos oferecê-lo amanhã, nosso dever é evitar que cada um desses golpes seja uma lembrança abrasadora.
Não é mais possível a persistência deste atual sistema eclesial. Se esta frase parecer peremptória, ouçamos a irmã Véronique Margron evocar uma “guerra” contra o que este sistema tem de abusivo, leiamos dom Dominique Lebrun, ouçamos o padre Hans Zollner. Este responsável encarregado da organização da reunião para a proteção de menores no Vaticano argumentou com calma no documentário sobre as religiosas abusadas, que “a estrutura da Igreja tem algo de fechado, que dá o poder aos homens, aos sacerdotes, de uma maneira absoluta e para além do que é permitido”. Em uma conferência realizada em Madri, ele não teve medo de apontar “a instituição, a organização da Igreja, que permitiu durante décadas, senão centenas de anos, essa proliferação do mal e essa ocultação do mal”. Nós compreendemos a real dimensão dessas palavras? Conseguimos ouvi-las sem medo?
Devemos tirar as conclusões necessárias sobre a representação das mulheres, a existência de contrapontos ao poder ordinário na Igreja e a responsabilidade dos bispos dentro dela. Vivemos em tempos novos em que a Igreja deve aceitar aprender do mundo. Não se trata mais de acusar padres e bispos. Eu sei o que devo a eles. Mas estamos em estado de emergência eclesial. A revolta que está nos corações e nas entranhas dos fiéis de todas as sensibilidades não pode permanecer letra morta.
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Estado de emergência eclesial - Instituto Humanitas Unisinos - IHU