04 Outubro 2017
"Desejo destacar a 'virtude da santa pobreza' vivida e abraçada por 'Francisco, pobre e humilde'. E o motivo é este: o Papa Francisco editou um belíssimo texto intitulado “Não amemos com palavras, mas com obras”, instituindo o dia 19 de novembro como Dia Mundial dos Pobres. escreve o Ministro Provincial Frei Fidêncio Vanboemmel - OFM, em mensagem publicado por Franciscanos, 03-10-2017.
Caríssimos irmãos e irmãs,
Que o Senhor lhes dê a Paz e todo o Bem!
Na oração das primeiras Vésperas da Solenidade de São Francisco de Assis, proclamamos a seguinte antífona no responsório breve: “Francisco, pobre e humilde, entra rico nos céus, com hinos celestes é honrado”. Este binômio, “pobre e humilde” se repete na oração conclusiva de todas as horas canônicas: “Ó Deus, que fizestes o seráfico Pai São Francisco assemelhar-se ao Cristo por uma vida de humildade e pobreza, concedei que, trilhando o mesmo caminho, sigamos fielmente o vosso Filho, unindo-nos convosco na perfeita alegria”.
Pobreza e humildade são duas virtudes-irmãs exaltadas pelo próprio Pai Seráfico na sua Saudação às Virtudes: “Senhora santa pobreza, o Senhor te salve com tua irmã, a santa humildade… A santa pobreza confunde a ganância e a avareza e os cuidados deste mundo. A santa humildade confunde a soberba e todos os homens que há no mundo e igualmente todas as coisas que há no mundo” (SV 2.11-12).
Neste ano, por ocasião da Solenidade de São Francisco de Assis, desejo destacar a “virtude da santa pobreza” vivida e abraçada por “Francisco, pobre e humilde”. E o motivo é este: No dia 13 de junho deste ano, justamente na Festa de Santo Antônio, o Papa Francisco editou um belíssimo texto intitulado “Não amemos com palavras, mas com obras”, instituindo o dia 19 de novembro como Dia Mundial dos Pobres.
A Pobreza abraçada por Francisco de Assis é resposta dada por quem não se fez “surdo ao Evangelho” (1Cel 22): “Se queres ser perfeito, vai, vende tudo o que tens e dá-o aos pobres, e terás um tesouro nos céus” (cf. LTC 29,1-6). Assim, a referência e o núcleo central da pobreza vivida por Francisco é a pobreza de Nosso Senhor Jesus Cristo, da forma como prescreveu na Regra: “Como peregrinos e viandantes que servem ao Senhor em pobreza e humildade, peçam esmolas com confiança; disso não se devem envergonhar, porque o Senhor se fez pobre por nós, neste mundo” (RB 6,4).
A convicção da “sublimidade da altíssima pobreza” é fundamental para São Francisco e todos os seus seguidores. Ele estabeleceu a virtude da pobreza de Jesus Cristo como: critério vocacional para abraçar esta forma e regra de vida; apelo para a desapropriação total, especialmente a alegria do viver “sem nada de próprio”, com a demitização do “eu”; incentivo para um estilo de vida sóbrio como peregrinos e itinerantes; fundamento para a gratuidade da “graça de trabalhar com fidelidade e devoção”; apelo ao desapego e deposição de cargos ou mandos; um modo fraternal de relacionar-se com o Criador e as criaturas; atitude permanente de restituição ao Senhor pelos dons recebidos; acolhimento da Irmã Morte como gesto último e derradeiro para devolver com gratuidade o sopro da vida que um dia recebemos do Criador.
O Papa Francisco, ao proclamar o Dia Mundial dos Pobres, recorda o abraço de Francisco de Assis ao leproso, afirmando: “Este testemunho mostra a força transformadora da caridade e o estilo de vida dos cristãos”. A experiência de Francisco, na linguagem do Papa, deveria sensibilizar os cristãos “a um verdadeiro encontro com os pobres e dar lugar a uma partilha que se torne estilo de vida”. E mais: “Se realmente queremos encontrar Cristo, é preciso que toquemos o seu corpo no corpo chagado dos pobres, como resposta à comunhão sacramental recebida na eucaristia” (n. 3). E ainda, no mesmo texto, o Papa é categórico ao usar este imperativo: “Assumamos, pois, o exemplo de São Francisco, testemunha da pobreza genuína. Ele, precisamente por ter os olhos fixos em Cristo, soube reconhecê-Lo e servi-Lo nos pobres” (n. 4).
Para além da reflexão e a exemplo do Pobre de Assis, o Papa Francisco nos provoca a realizarmos ações e gestos que deem visibilidade a este Dia Mundial dos Pobres, tanto nas nossas Fraternidades como na ação evangelizadora. Por exemplo: ter momentos de encontro e amizade, de solidariedade e de ajuda concreta; convidar os pobres para a mesa da comunhão fraterna e eucarística; aproximar-nos dos pobres e tê-los como hóspedes privilegiados na nossa mesa, etc. Eu sonho com o retorno desses gestos! Enviem-nos os seus registros (fatos e fotos), não para nossa vanglória, mas para partilhar entre irmãos a alegria do abraço ao “leproso”. É ele que transforma as nossas amarguras em “doçura para a alma e para o corpo” (Test 3).
Que nesta solenidade do Seráfico Pai São Francisco possamos retomar a escalada do caminho que nos leva aos esponsais místicos com a Senhora Santa Pobreza, tão magnificamente descrito no 3º capítulo do Sacrum Commercium:
“Apertado é o caminho, irmãos, e estreita a porta que conduz à vida, e poucos são os que a encontram. Fortalecei-vos no Senhor e no poder de sua força, pois tudo que é difícil vai ser fácil para vós. Deponde a carga da vontade própria, lançai fora o peso dos pecados, e cingi-vos como homens fortes. Esquecidos do que está atrás, ansiai o quanto puderdes pelo que está à frente de vós. Digo-vos que todo lugar que vosso pé pisar será vosso. Pois diante de vós há um espírito, o Cristo Senhor, que vos atrairá aos cumes da montanha com vínculos de amor. Coisa extraordinária, irmãos, é desposar a Pobreza, mas facilmente poderemos gozar dos seus amplexos, pois se tornou como viúva a senhora dos povos, vil e desprezível a todos a rainha das virtudes. Ninguém há na região que ouse reclamar, ninguém que se nos oponha, ninguém que tem direito possa proibir essa salutar aliança. Todos os seus amigos a desprezaram e se tornaram seus inimigos. Quando acabou de dizer estas coisas, todos começaram a andar atrás de São Francisco”.
Feliz festa de São Francisco de Assis!
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