05 Fevereiro 2016
O Instituto Humanitas Unisinos - IHU promove um Ciclo de Atividades “O Cuidado de nossa Casa Comum” (10 de março a 03 de maio), numa perspectiva transdisciplinar, considerando as diversas implicações que da temática emergem: crise ambiental, ecologia integral, gestão ambiental, mudanças climáticas, teologia da criação e diferentes iniciativas voltadas para o cuidado do meio ambiente e sustentabilidade. As atividades pretendem ser reflexivas e relacionais buscando interagir os diversos saberes, numa autêntica fusão de horizontes, respeitando suas fronteiras e dispondo-se numa postura dialogal na mútua colaboração do pensar público e relevante ao ser humano desses tempos.
Fonte: www.esquerda.net
Baixe o folder do evento em PDF.
Na programação, dia 23 de março (quarta-feira), das 14h30min às 16h, contempla-se um espaço de debate a partir da exibição do filme “O Evangelho segundo são Mateus” de Pier Paolo Pasolini (França, Itália, 1964, Drama, 133min), com a mediação do conferencista MS Marcus Mello (Sala PF Gastal, Usina do Gasômetro – Porto Alegre/RS). O filme foi indicado para o Prêmio Oscar e recebeu o Grande Prêmio da Oficina Católica do Cinema. Depois de 50 anos, o filme é reabilitado e reconhecido pelo Vaticano como a “melhor obra cinematográfica sobre Jesus”. Inaugurando um tempo de perdão e misericórdia ao invés de descaso e "condenação do limbo".
“Embora Pasolini tenha feito uma releitura do livro de Mateus,
ele contribui para a sociedade moderna
‘resgatando a humanidade de Cristo,
pois até 1964 as pessoas conheciam
um Cristo loiro, alto e de olhos claros’”.
Vanildo Luiz Zugno
O Cristo marxista de Pasolini
O filme “O Evangelho segundo São Mateus” é inspirado na narrativa de Mateus sobre a vida, ações, palavras de Jesus, o profeta-poeta nazareno daqueles que não tinham vez. Nele encontra-se um enredo marcado pela pura poesia, expressando aquilo que Pasolini possuía de mais “irracional” na sua atração por Cristo. Na condição de ateu professo, a questão de Deus sempre permanecerá aberta (digna do próprio Mistério que a concebe), não aceitava que Jesus era o Filho de Deus, porém percebia no seu modo de ser plenamente humano algo diferencial: um ser divino. Ele era atraído pela simplicidade e proximidade com que Jesus, transformava os “miseráveis” de seu tempo em pessoas dignas.
Fonte: lidianacinema.blogspot.com
“O fato de ser um ateu não retira de Pasolini
o dom e a capacidade de retratar Jesus com profundidade e beleza”.
Faustino Teixeira
Revista IHU On-Line 412
É a poesia do absurdo e do escândalo. Nela o poético torna-se drama. Porque assume a prosa da existência. Em Jesus, especialmente no evento da encarnação, ocorre aquilo que permite uma tônica teológica singular e fundamental para entender seja o Jesus de Pasolini seja o Jesus dos Evangelhos – afinal de contas são os mesmos: a kénosis. O rebaixamento de um Deus que se faz gente, ou ainda, um galileu, um nazareno. Ser de Nazaré equivale ser “alguém que nada valia” para o sistema politico, social e religioso de seu tempo.
"Eu certamente não procuro o escândalo. Deus é escândalo neste mundo.
O Cristo, se voltasse, seria novamente o escândalo.
Ele já o foi no seu tempo e voltaria a sê-lo hoje.
É um Deus que destrói a boa consciência conquistada a bom preço,
no abrigo da qual vivem ou vegetam os bem-pensantes,
os burgueses, encerrados em uma falsa ideia de si mesmos."
Silvia D'Onghia
O olhar de Cristo, há 50 anos.
O Jesus de Pasolini perpassa esse transfundo de proximidade daqueles que “não são nada” - simbolizado nos personagens comuns do filme –, através de uma ação transformadora, mas, sobretudo de uma palavra e um discurso que faz bem como possibilidade ética do agir transformador. Aqui encontramos os dois elementos centrais do filme: “Não vim trazer paz, mas espada” e o “Sermão da montanha” (ou ainda, os discursos de Jesus). É o rompimento kenótico com um Jesus açucarado ou superstar, sem carne e sem proposição concreta na vida das pessoas. Ao ser “descontruído” por Pasolini revela-se na genuinidade e na experiência real de Jesus de Nazaré, como é narrado nas Escrituras. Nesse sentido, chegamos à própria experiência de Pasolini, que não quer simplesmente a dessacralização, mas desmantelar os ídolos para que ressurja aquilo que é essencial.
O grito profético-poético de Pasolini, encontra uma Igreja dogmática e política, que não se afastou do ensinamento do Evangelho. É uma Igreja distante dos fiéis. As leis/normas são mais importantes que o amor e a caridade. Não é capaz de falar ao ser humano do seu tempo dos riscos e perigos que uma sociedade do consumo poderia implicar. Não é uma critica rançosa (tipicamente de anticlericais, ateus e marxistas), mas contundente e permanece relevante na atualidade, sobretudo encontrada na atração pelo Cristo que propriamente concebia. Em meio a duras críticas, uma admiração por João XXIII que nasce de sua abertura as questões importantes de seu tempo.
"Instintivamente, estendi a mão ao criado mudo,
peguei o livro dos Evangelhos que estava no quarto
e comecei a ler desde o início,
isto é, a partir do primeiro dos quatro Evangelhos,
aquele segundo Mateus.
A ideia de um filme sobre os Evangelhos
também tinha me vindo outras vezes,
mas aquele filme nasceu ali, naquele dia, naquelas horas.
O único, portanto, ao qual eu podia dedicar aquele filme
não podia ser senão ele, o Papa João XXIII".
Pasolini
Para acessar o filme "O Evangelho segundo são Mateus"
Versão em espanhol clique aqui
Versão em italiano clique aqui
Pier Paolo Pasolini, nasceu em Bolonha, no dia 05 de março de 1922. Foi um cineasta, poeta, professor e escritor italiano. Homossexual assumido e comunista militante, Pasolini virava pelos avessos em seus filmes temas como política, história, sexo e religião. Em seus trabalhos, Pasolini demonstrou uma versatilidade cultural única e extraordinária, que serviu para transformá-lo numa figura controversa. Foi um sujeito com uma existência autêntica e provocante. Não se intimidou e através de sua arte manifestou sua crítica poética e erudita a uma sociedade italiana consumista. Tornou-se um desafeto para muitos e foi assassinado em Óstia, no dia 2 de novembro de 1975.
Fonte: sensesofcinema.com
Filmes para conhecer Pasolini
Em 2015, Abel Ferrara reconstitui as horas finais do polêmico diretor italiano Pasolini. O filme acompanha as suas ideiais para um filme não realizado, sua última entrevista polêmica, os textos provocadores contra a ordem estabelecida e a relação com os desejos homosexuais.
Para acessar o filme "Pasolini" clique aqui
Por Jeferson Ferreira Rodrigues
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O Jesus de Pasolini em debate no IHU - Instituto Humanitas Unisinos - IHU