04 Novembro 2021
O ódio é de longe o mais duradouro dos prazeres; os homens amam rapidamente, mas detestam à vontade e por muito tempo.
O comentário é do cardeal italiano Gianfranco Ravasi, prefeito do Pontifício Conselho para a Cultura, publicado por Il Sole 24 Ore, 31-10-2021. A tradução é de Luisa Rabolini.
O poeta Charles Baudelaire escreveu: “O ódio é licor mui precioso, um veneno muito caro, porque é feito de saúde, de nosso sono e de dois terços do nosso amor próprio”. Não é incomum o florescimento perverso de ódios familiares destinados a durar anos e capazes de não invejar nada em criatividade e maldade a certas sagas da televisão e aos relativos rancores parentais. Todos devemos confessar um pouco que experimentamos justamente aquele gosto que o poeta francês descrevia e que é reproposto em nossa citação, extraída de uma das obras mais famosas de outro poeta do século XIX, George G. Byron, o poema satírico Dom João (composto entre 1819 e 1824), figura já mítica na história da literatura.
Frequentes há amores quebrados ou vividos sem entusiasmo, carregados por anos e arrastados pelo chão, sem chances de um bater de asas. Pelo contrário, o prazer sutil do ódio pode ser destilado por muito tempo como "um licor precioso". Mesmo que não exploda em atos precipitados externos, envenena a alma e intoxica a existência. No entanto, nada é feito para erradicá-lo, pelo contrário, é cultivado constantemente dentro de cada um. É fácil, pois, compreender como é provocador o apelo de Cristo: "Eu, porém, vos digo: Amai a vossos inimigos, bendizei os que vos maldizem, fazei bem aos que vos odeiam, e orai pelos que vos maltratam e vos perseguem" (Mateus 5, 43-44). Um apelo aceito por aqueles que chamamos de santos e que amanhã serão lembrados talvez apenas pelo calendário.
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#O prazer do ódio - Instituto Humanitas Unisinos - IHU