29 Janeiro 2021
O Papa Francisco se encontrou com David M. Beasley, diretor executivo do Programa Mundial de Alimentos (PMA) da ONU, que recebeu o Prêmio Nobel da Paz em 2020.
A reportagem é de Carol Glatz, publicada por Catholic News Service, 28-01-2021. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
Com sede em Roma, o PMA é a maior organização humanitária do mundo que enfrenta a fome e promove a segurança alimentar.
A audiência papal privada foi realizada na Biblioteca Apostólica do Vaticano no dia 28 de janeiro, e o Vaticano forneceu fotos, mas nenhum outro detalhe.
O PMA, no entanto, divulgou um comunicado dizendo que foi uma reunião de 40 minutos durante a qual Beasley “expressou temores específicos sobre a fome que se aproxima em vários países ao mesmo tempo que a Covid-19 está devastando comunidades ao redor do mundo”.
O comunicado, divulgado nessa quinta-feira, dizia: “Beasley também informou ao Papa Francisco sobre o seu apelo aos bilionários que ficaram mais ricos durante a pandemia da Covid-19 para se manifestarem e financiarem esforços para apoiar os pobres e famintos”.
O PMA estima que cerca de 270 milhões de pessoas enfrentarão uma fome severa neste ano, alimentada pela Covid-19, por conflitos, choques climáticos e outros fatores, disse o comunicado.
A reunião aconteceu um dia depois de Beasely ter participado da reunião anual do Fórum Econômico Mundial, que foi realizada tanto online quanto pessoalmente, em Davos, Suíça.
O encontro de 26 a 29 de janeiro inclui líderes governamentais e empresariais de todo o mundo e tem como tema “The Great Reset” [O grande recomeço] como parte de uma convocação para que os líderes se comprometam a garantir que os sistemas econômicos e sociais globais sejam mais justos, sustentáveis e resilientes.
Falando remotamente para a reunião do dia 27 de janeiro, Beasley disse que a pandemia da Covid-19 mostrou como é importante reforçar as cadeias de suprimentos vulneráveis para os países pobres que não conseguiram fornecer alimentos para sua população, de acordo com a Associated Press.
“Se você acha que teve problemas para conseguir papel higiênico em Nova York por causa da interrupção da cadeia de suprimentos, o que você acha que está acontecendo no Chade, no Níger, no Mali e em lugares como esses?”, disse ele em sua fala.
O sistema global de abastecimento de alimentos funciona, mas a pandemia piorou as fraquezas, disse ele. Além disso, 10% da população mundial sofre de extrema pobreza e precisam ser contatadas de forma proativa pelos fornecedores.
“Com 270 milhões de pessoas à beira da fome, se não recebermos o apoio e os fundos de que precisamos, vocês terão fome em massa, terão desestabilização das nações e terão migrações em massa. E o custo disso é mil vezes maior”, disse ele.
No mesmo dia em que Beasley se encontrou com o papa, o PMA emitiu um comunicado à imprensa conjunto com o Unicef, alertando que milhões de crianças perderam mais de 39 bilhões de refeições na escola desde o início da pandemia.
Eles pediram maior apoio dos governos para que possam reabrir as escolas com segurança e fazer com que os programas de alimentação escolar funcionem novamente para evitar uma “crise nutricional”.
A merenda escolar, disse o comunicado de imprensa conjunto, é “muitas vezes a única refeição diária nutritiva que as crianças recebem” e “deve ser priorizada nos planos de reabertura das escolas”, que incluem medidas de prevenção de infecções, como água limpa e sabão em todas as escolas.
Os programas de merenda escolar também foram um incentivo adicional para que as crianças, especialmente as meninas, frequentassem a escola, e as últimas estimativas mostram que 24 milhões de crianças em idade escolar correm o risco de abandonar a escola devido à pandemia, acrescentou.
O PMA, disse o comunicado, tem ajudado os governos a preencher a lacuna com comida para levar para casa, transferências de dinheiro ou vales-alimentação. Nos primeiros nove meses de 2020, mais de 13 milhões de crianças em idade escolar receberam apoio escolar do PMA, em comparação com os 17,3 milhões do ano anterior, disse.
Beasley também alertou recentemente o Conselho de Segurança da ONU sobre a fome iminente no Iêmen.
Dirigindo-se ao conselho em meados de janeiro, ele disse que o PMA precisava de “cerca de 860 milhões de dólares apenas para evitar a fome. E isso por seis meses”.
“Estamos lutando agora para alimentar 13 milhões de pessoas”, e, sem o dinheiro, essas comidas serão cortadas, empurrando 80% da população para uma crise nutricional mais profunda.
“Como eles vão conseguir comida? Como vão conseguir combustível? Como vão conseguir remédios? Vai ser uma catástrofe (...) Vamos ter uma catástrofe em nossas mãos.”
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Milhões de crianças perderam mais de 39 bilhões de refeições na escola desde o início da pandemia, denuncia chefe do Programa Mundial de Alimentos, Nobel da Paz de 2020 - Instituto Humanitas Unisinos - IHU