12 Setembro 2020
O agronegócio e o garimpo são hoje os dois maiores inimigos da Amazônia, sendo os principais responsáveis pelo desmatamento da floresta. O primeiro é responsável pela perda de 90% da vegetação natural do Brasil e o segundo tem criado uma indústria que além de desmatar, trazendo doenças para os povos indígenas, planeja, com a ajuda do governo, explorar mais de 200 mil hectares de reservas naturais e indígenas em busca de minério.
A reportagem é de André Martins, estagiário do Curso de Jornalismo da Unisinos.
Todas essas questões foram levantadas e debatidas nesta quinta-feira, 10-09-2020, em evento realizado pelo Instituto Humanitas Unisinos - IHU, o qual contou com a participação do padre Dário Bossi e da profa. dra. Nurit Bensusan, que ministraram a palestra intitulada “Amazônia. A devastação da floresta pelo agronegócio e a mineração”.
No primeiro momento, Nurit explicou como a criação de gado e a plantação de soja estão sendo prejudiciais para a floresta amazônica, sendo as principais responsáveis pelo alto índice de desmatamento. O agronegócio, segundo ela, não é essencial nessa região; ao contrário, é muito mais uma oportunidade capitalista para as grandes empresas. No entanto, ela defende que há outras maneiras de expandir o cultivo de pasto fora da Amazônia e até controlar o que já é cultivado na região. “As empresas podem criar mecanismos para o gado que é vendido naquela região e controlar a produção, para não serem responsáveis pelo desmatamento”, afirma.
Para Nurit, a agropecuária é implacável na destruição da Amazônia e os povos indígenas estão vendo seus territórios serem invadidos não só pelos responsáveis de crimes ambientais, mas pelo vírus da Covid-19 que essas pessoas trazem. “A Covid-19 trouxe uma situação dramática para as comunidades indígenas e resultou em centenas de mortes, principalmente dos mais velhos. Com essas mortes, muitos aspectos da cultura, da linguagem e ensinamentos estão se esvaindo dessas comunidades”. Nurit também afirma que, com o aumento gigantesco do desmatamento nos últimos dois anos, mais a pandemia, é possível que ocorra um etnocídio na região.
O desmatamento inconsequente e de grandes proporções tem como consequência o desequilíbrio do ecossistema. Com a expansão do rebanho de gado na região, os resultados para o bioma podem ser ainda mais preocupantes. “O encontro de espécies exóticas, como o gado, com espécies nativas, pode gerar resultados catastróficos para o ecossistema”, afirma.
Nurit ainda questiona como será o futuro da Amazônia. Segundo ela, tudo que está acontecendo na floresta nos últimos anos terá consequências futuramente, causando catástrofes inimagináveis para a floresta, para as comunidades indígenas e até mesmo para o mundo. “A contagem para o fim da Amazônia já começou. A pergunta é o que podemos fazer para evitar que o céu despenque sobre nossas cabeças”, assegura.
O padre Dário Bossi abriu sua palestra mostrando um vídeo de como a indústria do minério afetou uma comunidade desde a sua chegada na região, nos anos 1980. Com a mineração, vieram doenças, poluição e quilômetros de estradas que abriram a Amazônia até o coração da floresta. Bossi explica que todos esses movimentos foram programados. “Um ataque foi desenhado desde os anos 1960 para procurar minérios na Amazônia, onde 15 anos depois se instalou a maior mina de minério do mundo”, informa.
A exploração do minério ocasionou uma grande cadeia de acontecimentos maléficos naquela área, já que para a mina funcionar, foi instalado um polo siderúrgico na região e foram criadas rodovias de vias duplas por toda a extensão do local. Para viabilizar esse projeto, foram desmatados quilômetros de florestas ao redor da indústria.
O ouro continua sendo muito cobiçado pelos grileiros. Com a pandemia, a cotação do ouro aumentou e, consequentemente, a procura por ele também, principalmente em terras indígenas. Com a incerteza econômica atual, investidores começaram a ver no ouro uma via segura para aumentar os investimentos. “É impressionante ver que o aumento da curva do preço ouro também ocorreu nas terras indígenas”, afirma.
Para o padre Dário, a luta entre a comunidade que defende a floresta e os grileiros que querem ocupar a região traz à tona a violência contra os povos indígenas. “A violência tem crescido de uma forma descontrolada nesses últimos anos, gerando mais ameaças de morte nas comunidades”, relata.
Tanto Bossi quanto Nurit concordam que o governo é um dos principais responsáveis pelo aumento do desmatamento na Amazônia. Na avaliação de Nurit, a narrativa governamental ajudou muito para que a ilegalidade ocorresse na floresta amazônica. “A narrativa de outros governos coibia o desmatamento, mas com o discurso de Bolsonaro, tudo pode”. Ela disse ainda que o Código Florestal abriu brechas para perdoar uma parte do desmatamento que ocorreu na floresta e que ainda ocorre.
Bossi denuncia que o governo, principalmente nomes fortes que estão em uma frente militar na Amazônia, faz reuniões com grandes empresários do minério, mas dificilmente se reúne com órgãos ou pessoas que tentam proteger a Amazônia das ameaças de desmatamento.
Porém, na avaliação dele, o principal inimigo da Amazônia e dos povos indígenas é o Projeto de Lei 191/20, que viabiliza a exploração de recursos minerais em terras indígenas e áreas protegidas. Para os dois palestrantes, se for aprovada, essa lei será um enorme problema para a vida na Amazônia, principalmente para os indígenas que já sofrem com os ataques brutais de grileiros e de grandes transnacionais.
Ao final da palestra, padre Dário Bossi mencionou a luta da comunidade indígena que está se articulando para se opor à lei 191/20 no Congresso, e a campanha Amazoniza-te, que articula lideranças dos povos indígenas e da Igreja em defesa da Amazônia.
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A contagem para o fim da Amazônia já começou - Instituto Humanitas Unisinos - IHU