Somos o Centro de Promoção de Agentes de Transformação - CEPAT, que tem como missão formar lideranças no espírito de uma cultura democrática, aberta e horizontal, a partir da prática do discernimento, assessoramento e compromisso com a justiça socioambiental. Buscamos ser um centro de referência para pessoas, lideranças e movimentos sociais. Nossos valores são: participação, diálogo, transformação, discernimento, espiritualidade e ética.
Fundado em 1990, o atual Centro de Promoção de Agentes de Transformação de Curitiba nasceu como Centro de Pesquisa e Apoio aos Trabalhadores (CEPAT), a partir de um trabalho conjunto entre jesuítas e leigos especialmente ligados à Pastoral Operária, que naquele momento buscavam desenvolver ações voltadas para uma melhor compreensão quanto às transformações que ocorriam no mundo do trabalho.
Através do início da parceria com o Instituto Humanitas Unisinos (IHU), em 2007, o centro impulsionou as ações e a abrangência, contribuindo, também, com o trabalho do IHU, por meio de artigos, traduções e atualização das notícias do dia.
Atualmente, o CEPAT desenvolve duas frentes de trabalho: o Programa de Assessoramento e Defesa e Garantia de Direitos e o Programa de Espiritualidade.
Nasce o projeto CEPAT (1986-1990) - Um centro conectado às lutas operárias e ao movimento social
Casa do Trabalhador, em Curitiba, final da década de 1980 (Imagem: Arquivo Cepat)
A origem do Centro de Pesquisa e Apoio aos Trabalhadores (CEPAT) remonta aos anos 1980 e tem na Pastoral Operária - PO do Paraná e no grupo da Pastoral Popular da Província Brasil Meridional da Companhia de Jesus, os seus dois pilares de fundação. A ideia da criação de um centro de pesquisa no mundo urbano surgiu primeiramente na Pastoral Popular dos Jesuítas, que reunia um grupo de religiosos envolvidos com movimentos sociais e pastorais sociais. Foi nesse grupo, em meados dos anos 1980, particularmente em 1986, que começou a se gestar a criação de um centro com essa característica.
A cidade de Curitiba-PR foi o local escolhido para a criação do CEPAT. Pesou para a decisão o fato de os jesuítas assessorarem a Pastoral Operária no estado do Paraná, na época com forte presença no movimento operário e sindical, mas também, e principalmente, o desejo de desconcentrar a presença dos jesuítas do eixo Porto Alegre-São Leopoldo.
As motivações que estão por trás da criação do Centro são as seguintes: ser apoio às lutas operárias; estudar as mudanças que se processavam no mundo do trabalho; pesquisar a temática do Mercosul; elaborar subsídios para pastorais e movimentos sociais, assim como garantir assessorias temáticas. Um centro, portanto, conectado com o movimento social, com as lutas operárias, com a base da Pastoral Operária, articulado a uma base paroquial dos jesuítas, a Paróquia Nossa Senhora da Paz, no Boqueirão.
O nome foi debatido internamente na Pastoral Operária e optou-se por Centro de Pesquisa e Apoio aos Trabalhadores - CEPAT. Esse expressa a conjuntura da época: de um lado, queria-se um centro que contribuísse na pesquisa das mudanças do mundo do trabalho em curso – já havia uma percepção ainda muito embrionária de que mudanças aconteciam no chão de fábrica –; e, de outro, um centro que estivesse "colado" às lutas operárias. A adjetivação "apoio" tem por detrás a concepção de serviço, que orientava as ações da Pastoral Operária.
O CEPAT será formalmente fundado no dia 23 de junho de 1990. Nesse ínterim, foi decisivo para a localização em que se encontrava o Centro a aquisição da Casa do Trabalhador, no bairro Sítio Cercado, que anteriormente se chamava Casa de Retiros São Francisco Xavier. A partir de 1986, com orientação do Pe. Inácio Neutzling, SJ, o CEPAT passa a assessorar a Pastoral Operária - PO do Paraná e, por sua sugestão, após debates internos, cria-se o Curso de Formação Sindical, com abrangência estadual. O propósito era capacitar trabalhadores e trabalhadoras para a luta sindical e, particularmente, fortalecer as oposições sindicais. O curso era destinado prioritariamente a três categorias: metalúrgicos, alimentação e construção civil. A prioridade dada a essas categorias, não excludentes, deve-se a uma leitura da PO sobre os rumos da economia no estado.
Um dos gargalos para a realização do curso sindical – que constava de nove etapas – eram os recursos financeiros para cobrir despesas com locação de espaço. Em 1987, o Pe. Inácio tomou conhecimento que o Pe. Gustavo Pereira, SJ, havia procurado a Companhia de Jesus para lhe oferecer a Casa de Retiros São Francisco Xavier. Pe. Gustavo, na época capelão do Palácio Iguaçu, era assessor espiritual do Movimento Universitário Cristão (MUC). Em função de sua relação com o mundo da política, conseguiu, em meados dos anos 1980, em cessão de comodato, por um período de 100 anos, o terreno em que se construiu parte da Casa do Trabalhador. Isso foi na gestão de Roberto Requião como prefeito de Curitiba.
Na oportunidade, sabendo da oferta do Pe. Gustavo Pereira à Companhia e tendo presente as necessidades da Pastoral Operária, Pe. Inácio manifestou interesse no espaço, que conheceu ainda em 1987. Na época, a região do Sítio Cercado era ainda relativamente despovoada e o Bairro Novo sequer existia. Os jesuítas – à época em conversações e com o apoio do então provincial Pe. João Roque Rohr (da ex-Província Brasil Meridional) – concordaram em que o novo espaço fosse administrado pela Pastoral Operária e, posteriormente, com a criação do CEPAT, passasse para a responsabilidade desse. Foi firmado um contrato de comodato entre a Associação Antônio Vieira, mantenedora dos jesuítas, e o CEPAT. No final dos anos 1980, houve uma ampliação da estrutura da Casa tendo em vista as necessidades daquele período.
A proposta do CEPAT como centro de pesquisa e assessoria avançou nos debates internos entre jesuítas e a PO. Ele foi criado oficialmente numa assembleia realizada na Casa do Trabalhador, em junho de 1990. Participaram e assinaram a Ata de Fundação do CEPAT 46 pessoas. O primeiro coordenador da nova entidade foi João Inácio Wenzel. Isso porque Pe. Inácio Neutzling passou, a partir de 1990, a trabalhar como assessor da chamada Linha 6 da CNBB, que abarcava o Setor Social.
Nesse período inicial, a Casa do Trabalhador será administrada pelo Pe. Levino Camilo, SJ, pároco da Paróquia Nossa Senhora da Paz, e para a tarefa de cuidar do cotidiano da Casa foi contratado um militante da Pastoral Operária, Jair Colatusso, que dividiria essa tarefa com a de pesquisador do CEPAT. Na sequência, integrou-se ao Centro o metalúrgico Hélio Luiz Seidel, ex-militante da Oposição Sindical Metalúrgica. Hélio passou a residir nas dependências anexas à Casa do Trabalhador, construídas para essa finalidade. A primeira equipe do CEPAT, portanto, era constituída por João Inácio Wenzel, Jair Colatusso e Hélio Luiz Seidel. João Inácio dividia a coordenação do CEPAT com a tarefa de assessor regional da Pastoral Operária. Registre-se que à época a Pastoral Operária e o CEPAT se misturavam muito.
Nessa fase, o CEPAT, além do apoio às lutas operárias, passa a ter um papel relevante na organização e condução da Escola Sindical do regional da Pastoral Operária e apoia os cursos de verão da Pastoral Operária Nacional. Como tema de pesquisa, priorizará o Mercosul, vindo inclusive a realizar um seminário nacional (ocorrido de 14 a 18 de setembro de 1992), em parceria com a CNBB, sobre o assunto, na Casa do Trabalhador. Nesse período, o CEPAT trabalhará ainda na sistematização de uma pesquisa nacional sobre o perfil dos militantes e grupos de base da Pastoral Operária e apoiará fortemente a organização da 1ª Semana Social Brasileira da CNBB – Mundo do Trabalho. Desafios e Perspectivas.
Vale lembra que em 1992, o CEPAT adquiriu os primeiros computadores (dois computadores e duas impressoras) com um projeto financiado pelo Fundo Apostólico e Caritativo da Companhia de Jesus - FASCI, que trouxe as máquinas dos EUA.
O CEPAT, no início dos anos 1990, ainda não tem um "rosto" definido como centro de pesquisa: não tem eixos de ação e fica disperso entre o militantismo e a pesquisa, mais à mercê do primeiro. O rosto mais claro do CEPAT passa a se conformar a partir de 1994, quando efetivamente começa a elaboração e definição de linhas de ação.
Nesse período, além da equipe citada anteriormente, chega para trabalhar na Casa do Trabalhador a militante e ex-liberada diocesana da Pastoral Operária, Ivete Cândido Arendt, falecida em 2001. Soma-se à equipe do CEPAT, por um período, a pesquisadora Luzia do Rocio Pires Ramos.
A partir de 1994, assume a coordenação do CEPAT Pe. Inácio Neutzling, que retorna para Curitiba no final de 1992 e passa, até maio de 1995, a dividir o seu tempo entre o CEPAT e a CNBB. Nesse processo, o CEPAT será decisivo e determinante na construção da 2ª Semana Social Brasileira: "Brasil. Alternativas e Protagonistas" (1994). Parte considerável da Semana foi construída nas salas do CEPAT.
A equipe, de meados dos anos 1990 até quase o final da década, foi composta pelo Pe. Inácio Neutzling e Dari Krein – ex-liberado regional e nacional da Pastoral Operária. É nesse período, sobretudo 1994, de forte apoio à construção da 2ª Semana Social, às lutas da Pastoral Operária e de militância política, que se dá a definição de seus eixos de ação. Os eixos de trabalho formalizados a partir de 1995 e que o orientam são: 1) Acompanhamento às transformações no mundo do trabalho; 2) Formação ético-política; 3) Espiritualidade; e 4) Administração da Casa do Trabalhador.
O início do Boletim Cepat Informa posicionou o CEPAT como centro de reflexão e elaboração; estudo e pesquisa do significado da reestruturação produtiva no mundo do trabalho. Na época, o CEPAT articulava encontros de operários de várias fábricas para dialogar sobre as mudanças no chão de fábrica, além de orientação e assessorias na área da espiritualidade. Em 1996, outra iniciativa marcará e alçará o CEPAT em âmbito estadual: a Escola de Formação Fé e Política (1996 a 2005).
Escola de Formação Fé e Política (Imagem: Arquivo CEPAT)
A partir de 1995, o CEPAT passou a contar com recursos financeiros da organização alemã Eugen Lutter. Ajudou muito na articulação desse apoio Pe. Martinho Lenz, SJ. No período, o coordenador do CEPAT, Pe. Inácio Neutzling, não recebia salário, e o pesquisador Dari Krein – que trabalhavava 20 horas semanais no CEPAT – tinha parte do seu salário pago por um convênio firmado entre o CEPAT e a Escola Sul da CUT. Com a saída de Dari Krein, em 1998, integra a equipe Cesar Sanson, ex-liberado regional e nacional da Pastoral Operária e ex-presidente do PT municipal de Curitiba.
Nesse período, integraram a equipe do CEPAT: Pe. Inácio Neutzling (1995-2000 – período integral); Dari Krein (1995 a 1997); Cesar Sanson (1998-2011); Loivo Mallmann, ex-padre jesuíta (meados de 1997 até junho de 1999); o estudante jesuíta Osvail Lazarim Dias (2000). Vilmar Radzinski (1997-2001) é contratado para a digitação, organização do banco de dados e o controle dos assinantes e expedição do Boletim Cepat Informa. Na sequência é contratada Nadia Luzia Balestrim, na época mestranda. Em 1997, o Centro de Pesquisa passa a ter acesso discado à Internet. Até então, todo o material selecionado para a Boletim precisava ser digitado. Entre 1999 e fevereiro de 2001, Pe. Inácio transita entre Curitiba e São Leopoldo-RS, onde assume a tarefa de coordenar a criação do Instituto Humanitas Unisinos - IHU. Em 2001, André Langer passa a integrar a equipe do CEPAT, permanecendo na equipe até meados de 2013.
Neste período, o CEPAT não altera as suas linhas de pesquisa. As principais iniciativas desenvolvidas são a realização de debates e seminários, tendo o Boletim Cepat Informa como referência. O CEPAT apoia intensamente a Campanha Contra a Área de Livre Comércio das Américas - ALCA e integra a coordenação do Plebiscito Popular contra a ALCA. Participa dos fóruns do movimento social e presta assessoria a grupos sindicais, religiosos e populares. Em 2004, passa a integrar a equipe Darli de Fátima Sampaio, ex-liberada diocesana e nacional da Pastoral Operária e ex-coordenadora do CEFURIA, que, num segundo momento, assumiria a administração da Casa do Trabalhador, permanecendo na instituição até final de 2013. Os anos de 2005 e 2006 são particularmente difíceis para o CEPAT. Em processo inverso à Casa, que começa a se recuperar financeiramente, ele começa a ter dificuldades financeiras e passa por certa crise de identidade. Cogita-se, inclusive, o fechamento do CEPAT. A parceria com o Instituto Humanitas Unisinos - IHU e a criação da Rede Jesuíta de Cidadania e Ação Social - CJCIAS, na Ex-Província Brasil Meridional, dão novo fôlego e vigor ao CEPAT.
A partir de 2007, inicia-se um processo que permitirá a retomada das atividades do CEPAT. Essa retomada está associada ao estabelecimento da parceria estratégica com o Instituto Humanitas Unisinos - IHU. O conceito de parceria estratégica não é fortuito e revela a profunda identidade entre as duas organizações. A origem dessa parceria está relacionada à trajetória das instituições. Assenta-se sobre a conformidade de um "olhar" sobre o mundo, ou seja, a partilha de uma mesma leitura socioeconômica, política, cultural e pastoral da realidade. O CEPAT e o IHU compreendem-se como organizações que desejam contribuir na compreensão da crise civilizatória enfrentada pela humanidade.
Acreditamos que estamos imersos numa mutação civilizacional de consequências ainda imprevisíveis para a humanidade e o planeta. Partilhamos a convicção de que estamos às voltas com uma crise de civilização, que tem a ver com a cultura ocidental, especialmente como vem se gestando na modernidade. Essa crise se apresenta como uma tríplice crise: crise do modo de produzir; crise do modo de consumir; e crise do modo de se relacionar com a natureza e com os outros.
Numa cultura em que o conhecimento é extremamente compartimentado e especializado, o CEPAT e o IHU desejam introduzir em tudo o que fazem uma prática transdisciplinar, baseada no princípio da complexidade do conhecimento e da inter-relação de tudo com tudo. Ao mesmo tempo, num mundo marcado por certo dogmatismo e corporativismo, o CEPAT e o IHU querem ajudar a introduzir um outro olhar, novas perspectivas de abordagem. O nosso ponto de vista é visto a partir de um ponto: dos movimentos sociais, sobretudo daqueles que procuram organizar os pobres e chamam a atenção para temas que auxiliam na compreensão e na construção de respostas para os desafios da crise civilizatória.
A parceria estratégica do CEPAT com o IHU tem o objetivo de otimizar capacidades, contribuições, potencialidades e recursos. Nessa perspectiva, as instituições estão juntas na atualização das Notícias do Dia. O CEPAT contribui ainda com traduções, em sinergia com o IHU. Algumas atividades que são promovidas pelo IHU em sua base territorial também são reproduzidas em Curitiba. E vice-versa.
Desde 2008, dentro de uma nova configuração, o CEPAT foi integralmente incorporado pela Associação Antônio Vieira (ASAV), uma das mantenedoras da Província dos Jesuítas do Brasil. O contexto de criação da nova província, em 2014, trouxe ao CEPAT a possibilidade de ressignificar seu nome a partir dos novos desafios em que se insere, passando a se constituir como um Centro de Promoção de Agentes de Transformação. No novo contexto, foi criado o Observatório Nacional de Justiça Socioambiental Luciano Mendes de Almeida - OLMA, que tem reunido as diversas experiências de atuação de centros e obras sociais da Companhia de Jesus no Brasil, em um esforço conjunto de se trabalhar em rede.
Além disso, desde o final de 2016, o CEPAT mudou de endereço, passando a constituir sua sede nas dependências do Colégio Medianeira, no bairro Prado Velho, em Curitiba, contando com um ambiente novo para o seu trabalho cotidiano, que inclui um auditório e duas salas de reuniões. Quanto à Casa do Trabalhador, no atual momento, é administrada pelos Freis Carmelitas, que também possuem uma longa história de presença apostólica em Curitiba.
Seminário Democracia e Participação Popular (Imagem: Arquivo CEPAT)