02 Julho 2018
A Europa inclui 48 estados, excluindo a Rússia, e tem 730 milhões de habitantes, pouco mais de um décimo da população mundial. Somente nos últimos cem anos, a maioria dos países europeus esteve envolvida em uma sucessão de guerras que causaram centenas de milhões de mortes. E estamos falando do chamado berço da "civilização" mundial, que espalhou (juntamente com o ramo americano) o seu patrimônio de tecnologias e estilos de vida, primeiro pela violência colonial e imperialista, e depois com a força da economia.
A reportagem é de Alessandro Dal Lago, publicada por Il manifesto, 01-07-2018. A tradução é de Luisa Rabolini.
Pois bem, a Europa - que, após a catástrofe da Segunda Guerra Mundial, tinha tentado tomar o caminho da pacificação e da cooperação - está adotando de novo, e com uma aceleração impressionante, as tendências nacionalistas que quase causaram a sua destruição, 73 anos atrás. E o que é o fator determinante da implosão da utopia europeia? A migração para o velho continente de algumas centenas de milhares de imigrantes e refugiados provenientes da África e de países asiáticos em guerra. O confuso Conselho Europeu em 28 de junho, com seus equívocos e suas encenações é apenas uma etapa dessa previsível entropia. Giuseppe Conte, (atual Primeiro Ministro da Itália – nota de IHU On Line) que só a zombaria de um deus poderia ter projetado ao papel de presidente do conselho italiano, anuncia seu sucesso na cúpula porque todos os outros líderes prometeram aceitar os migrantes em base "voluntária", ou seja, hipotética, ou seja, inexistente.
Macron assume o papel de líder "humano" porque acolhe alguns sobreviventes do naufrágio, enquanto a sua polícia lacra as fronteiras. Ângela Merkel só está interessada em assegurar aos aliados bávaros que "o barco está cheio", e, portanto, serão tomadas as medidas necessárias para não deixar subir mais ninguém a bordo. E todos os outros, os fascistas ou para-fascistas austríacos, poloneses, eslovacos, húngaros, que as burocracias europeias têm o maior cuidado de não penalizar, fecham-se em um isolamento identitário cada vez mais acirrado.
Por fim, eis que Salvini, como "ministro e papai", conforme exige sua retórica repulsiva, condena à fome, à sede e à morte centenas de náufragos à deriva em botes ou navios das ONGs.
É preciso repetir: mais de 700 milhões de habitantes de um continente desenvolvido (ou 400, se considerarmos apenas a UE) manifestam em todo lugar reações de rejeição, que se estendem até ao racismo ativo, em relação a um número de requerentes de asilo e migrantes irrisório, se considerarmos as proporções. E os governos, depois de ter atiçado por anos as populações nacionais, estimulando sua sensação de insegurança, se adaptam, apenas mudando as táticas.
Se Minniti (ex-ministro do Interior da Itália – nota de IHU On-Line) organizou as detenções na Líbia - onde agoniza, entre humilhação, tortura, estupros e assassinatos, um milhão de migrantes subsaarianos - Salvini explora as tragédias no mar para negociar um pouco de espaço na Europa, o que obviamente não vai conseguir, e especialmente para juntar consensos em um eleitorado amedrontado, empobrecido e desconhecedor das reais questões em jogo.
Naturalmente, com a conivência dos ‘grillini ‘ (referência a Beppe Grillo, fundador do partido 5 Stelle – nota de IHU On-Line) no governo, que fazem o papel dos policiais bons, senão dos tolos.
Assim, africanos e asiáticos morrem no mar, caso tenham escapado dos traficantes no Níger, das milícias armadas na Líbia e da guarda costeira de Trípoli. Mais de uma centena somente em 28 de junho, enquanto Salvini fechava os portos e rugia contra Malta.
E os outros, os que se salvaram? Aposta de ridículos conflitos entre paisinhos europeus, que têm a ilusão de ter alguma importância, como nos tempos da rainha Vitória e do Kaiser, migrantes e refugiados serão empurrados entre líderes pequeníssimos que ‘charlam’ de táxis do mar, missões de civilidade, identidades nacionais e fronteiras a serem defendidas contra as invasões. Seres de carne e osso como nós, os migrantes, perdidos nas terras de ninguém, mortos de frio, encerrados indefinidamente em campos de concentração.
Os chefetes europeus pensam que estão sendo realistas, mas estão lançando as bases de um declínio inexorável, enquanto as verdadeiras potências hegemônicas no mundo observam, de longe, rindo.
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Migrantes, o declínio inexorável da Europa - Instituto Humanitas Unisinos - IHU