01 Fevereiro 2017
No artigo “Desvalorizando e Superexplorando o Cerrado Brasileiro: Por Nossa Conta e Risco”, pesquisadores abordam a importância do bioma para frear as ameaças associadas às mudanças climáticas e para o desenvolvimento humano e econômico do país e da região. Coordenado pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE), o estudo foi recentemente publicado na Environment Magazine.
A reportagem foi publicada por INPE, 27-01-2017.
“Novas políticas públicas são necessárias para promover e integrar este bioma à nação. Em um contexto internacional, esforços importantes estão sendo feitos para preservar as florestas tropicais do Brasil. Enquanto isso, a destruição do Cerrado, o mais antigo bioma do país, avança a passos largos, com poucas controvérsias”, diz Myanna Lahsen, do Centro de Ciência do Sistema Terrestre do INPE.
Segundo a pesquisadora, está sob grande ameaça a existência dos ecossistemas e dos recursos naturais que são vitais para a maioria dos brasileiros, bem como para a viabilidade da agricultura.
Lahsen, que assina o artigo com Mercedes Bustamante, da Universidade de Brasília (UnB), e Eloi Dalla-Nora, também do INPE, ressalta que a beleza e importância ecológica do cerrado são profundamente desvalorizadas, apesar de o bioma ser classificado como um dos 35 hotspots de biodiversidade existentes no planeta devido sua excepcional concentração de biodiversidade endêmica e altos níveis de degradação por conta da exploração econômica.
Ecossistemas naturais no Cerrado são essenciais para a manutenção das reservas hídricas que abastecem o Brasil. “Os muitos serviços ecossistêmicos fornecidos pela vegetação nativa do Cerrado incluem a regulação do clima e da água doce limpa para grande parte do Brasil, incluindo a Amazônia e países vizinhos. Além de estabilizar o clima regional, a enorme circulação da água correndo através da vegetação nativa do Cerrado forma muitas dos importantes bacias hidrográficas do Brasil e contribui para o sistema subterrâneo do aquífero Guarani. O Cerrado fornece água, tanto para as regiões mais ricas quanto para as mais pobres do Brasil. Ele fornece cerca de 70% da água que flui para o norte para a bacia do Araguaia-Tocantins, para o sul-sudeste à bacia do Paraná, e para o nordeste para a bacia do São Francisco, alimentando 8 das 12 regiões hidrográficas do Brasil (Amazonas, Tocantins-Araguaia, Nordeste do Atlântico Ocidental, Parnaíba, São Francisco Atlântico Leste, Paraná, Paraguai), além da água atmosférica ou subterrânea para outras regiões e países. Isto significa que a estabilidade e o funcionamento dos ecossistemas circundantes em todas essas regiões dependem muito da integridade biológica do Cerrado.
Além disso, devido ao fato de que 80% da eletricidade do Brasil vêm de usinas hidrelétricas em rios que têm suas nascentes no Cerrado, a conservação do bioma também é fundamental para a segurança energética do país”, escrevem os autores.
Os pesquisadores alertam ainda para a implementação de sistemas de monitoramento regulares para o Cerrado e melhorias na gestão daqueles que já estão estabelecidos, bem como para a diminuição de novos desmatamentos e a restauração de áreas degradadas.
“É preciso cumprir a legislação ambiental brasileira existente e os compromissos internacionais relacionados às mudanças climáticas, conservação da biodiversidade e desenvolvimento sustentável. Mas a resposta requer mais do que soluções técnicas. Por isso estamos chamando também atenção aos problemas estruturais de governança, obstáculos à integração nas decisões econômicas e do desenvolvimento com considerações de sustentabilidade ambiental e do bem estar humano. Nada menos do que a segurança hídrica, alimentar e energética do país está em jogo”, ressalta Lahsen.
Para os autores do estudo, a solução passa por melhorar a educação e a participação dos atores locais nas decisões sobre a região, com olhar crítico sobre os caminhos historicamente traçados para o desenvolvimento econômico do país.
O artigo Undervaluing and Overexploiting the Brazilian Cerrado at Our Peril, traduzido para o português, está disponível aqui.
Ainda na Environment Magazine, um segundo trabalho – Civil Society and Environmental Change in Brazil’s Cerrado, por Donald Sawyer e Myanna Lahsen – analisa a capacidade das instituições para enfrentar o desafio de conseguir um desenvolvimento humano e econômico ambientalmente mais sustentável e viável para um maior número de brasileiros no presente e no futuro.
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Estudo coordenado pelo INPE aponta os riscos da exploração do Cerrado - Instituto Humanitas Unisinos - IHU